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12 de abril, 2021

A Cpi do fim do mundo… e olha o impeachment aí!   Maior derrota Em cima do lance alguns analistas políticos na imprensa dispararam, peremptórios: […]

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A Cpi do fim do mundo… e olha o impeachment aí!

 

Maior derrota

Em cima do lance alguns analistas políticos na imprensa dispararam, peremptórios: foi a maior derrota de Bolsonaro nestes dois anos e um quarto de governo (as palavras nem sempre foram essas, mas o significado coincide).

O ‘lance’, o enorme revés ocorreu na quinta-feira, 08.04: a decisão do ministro do Stf Luís Roberto Barroso que, provocado por parlamentares, determinou ao presidente do Senado que instale Comissão Parlamentar de Inquérito para examinar as ações do governo durante pandemia.

Fim do mundo

O geralmente conciliador Rodrigo Pacheco recebeu a notícia a dizer o óbvio – cumprirá a ordem – e reafirmar que acha a Cpi inoportuna. Não se sabe se tentará reverter a decisão, ao menos suspendê-la até o exame definitivo pelo Tribunal pleno, o que aliás o ministro Barroso já solicitou.

Quer dizer: a decisão monocrática pode até ser revogada, portanto nem acontecer a ‘Cpi do fim do mundo’ (se já não a chamaram assim, podem esperar que vão chamar).

Potencial explosivo

Se acontecer, terá potencial de causar grande estrago no governo e danos ainda maiores a seu chefe. A reavivar a memória de quem talvez haja esquecido, ressalte-se que desde sempre Bolsonaro fez tudo errado no enfrentamento da covid-19:

(i) quando ela chegou ao Brasil, recusou as evidências apresentadas pelos cientistas e comparou-a a uma “gripezinha”;

(ii) sabotou as tentativas de prevenir contágios via distanciamento social, uso de máscaras e rigor na higiene pessoal;

(iii) demitiu o ministro da Saúde que insistiu em seguir as recomendações da Oms, universalmente aceitas e inviabilizou o sucessor que se negava prescrever um dito ‘tratamento precoce’, charlatanismo com drogas não endossadas pela ciência;

(iv) provocou aglomerações ao passear por Brasília nos fins de semana, ou em eventos oficiais no Planalto e adjacências, ou ainda nas viagens de antecipada campanha eleitoral país afora e até nos portões do Palácio da Alvorada em que reúne seus minions;

(v) pelo exemplo fartamente divulgado nas redes de mídia – por ele, família e ‘apoiadores-raiz’ –, incentivou transgressões às normas preventivas adotadas pelos estados e municípios;

(vi) movido por interesses eleitoreiros fez pouco das vacinas, em declarações e decisões estapafúrdias como ao banir “a vacina chinesa do Dória”, esse um possível concorrente na eleição de 2022 e insinuar efeitos perversos da imunização – provocaria covid e outras doenças;

(vii) pelo menos um produtor de imunizante que hoje é sucesso mundial ofereceu massivo fornecimento ao Brasil, ainda em 2020, mas o presidente nem quis saber, a alegar riscos que a farmacêutica não assumiria (lembram-se da piada fora de hora?, “Depois alguém vira jacaré ou fica falando fino…”);

(viii) quando, desmentido pelos fatos, precisou recuar, apostou na curta memória do povo e no fanatismo de seus seguidores para desdizer-se ou afirmar o contrário do que dissera, por exemplo ao arvorar-se primeiro defensor da vacinação.

Fogo cerrado

Imaginem os leitores os petardos que atingirão as vulneráveis defesas deste (des)governo quando a Cpi amplificar a voz aos cientistas que clamam no deserto, dos profissionais da saúde extenuados na linha de frente, dos milhões que a peste atingiu e Bolsonaro e sua troupe não souberam (não quiseram!) socorrer…, sob o fogo cerrado dos parlamentares não só da oposição e ampla reverberação na imprensa. Tudo isso num quadro de deterioração econômica: inflação quase a tomar o freio nos dentes, estagnação, desemprego, aumento da pobreza, miséria…

Será o fim, porém…

Será esta de fato a Cpi do fim… não do mundo, mas do governo – restará saber se a médio prazo, com derrota eleitoral daqui a ano e meio ou se em meses, via impeachment. Sob a óbvia condição de que realmente aconteça (e funcione) a Comissão, o que por enquanto (acautelemo-nos!, jornalistas torcedores) está longe de garantir-se.

Descartado um recuo do Supremo, os líderes governistas tentam convencer cinco ou seis senadores a retirar-se da subscrição da Cpi – o que é possível, mas improvável.

Fracassada a manobra haverá meios de retardar-lhe a instalação, pendente a indicação de seus membros pelos líderes dos partidos e coligações; são treze, se bem me lembro.

Pizza à vista!

O governo poderá, aliás deverá perder os embates preliminares e ainda assim terá como sustar a derrocada, se na Comissão afinal instalada e operante conseguir eleger presidente e relator (ou um dos dois) comprometidos com sua defesa.

Em tal caso o inquérito dará em nada e o resultado motivará novo conclave, só que desta vez numa pizzaria em que quase todos, governistas e não poucos ditos ‘oposicionistas’ comemorarão sua vitória e a derrota de uns 200 milhões de brasileiros.

No condicional

Os leitores terão notado que muitos ‘ses’ pontuam este relato, todo redigido no modo condicional. Lamento, mas é disto que se trata quando muita névoa embaça as vãs tentativas de ajustar o foco.

O quadro ora esboçado, a sugerir que tudo ‘termine em pizza’ como quase sempre, parece o mais provável mas resta a possibilidade de que fatores fortuitos modifiquem-lhe radicalmente as expectativas.

Caos, abismo, dor

Ensaio dois exemplos, ambos trágicos porém desgraçadamente possíveis. Se a notória incompetência de Paulo Guedes e sua desfalcada equipe tardar em superar, com o Congresso, o impasse no Orçamento, a administração pública imergirá no caos e a economia desabará em abismos insondáveis.

Ainda pior: a permanecerem os atrasos na importação de insumos com que produzir vacinas (atrasar mais?, nem quero pensar!), nosso programa de imunização perderá a corrida contra a peste e a morte, acrescendo ao desastre dores insuportáveis.

Sem perdão

Navegue a Cpi entre procelas conhecidas ou na ‘tempestade perfeita’ de nossos piores pesadelos, se de fato acontecer e não for manietada e preada por arranjos da base governista (leia-se: centrão), a presidência de Bolsonaro estará em maus lençóis.

O ex-capitão perde fôlego até nas águas de aquário em que gosta de pescar, despenca nas pesquisas de opinião e apoios em redes de mídia, tudo impiedosamente registrado na imprensa que está longe de perdoar-lhe os agravos.

Queda livre

O empresariado que efetivamente conta desconheceu-lhe a tentativa de reaproximação naquele ridículo jantar paulistano em que um grupelho de ‘novos ricos’ (e uns poucos ricos velhacos) alardeou representatividade que não possui.

Os caminhoneiros já não se comovem com o discurso intervencionista na Petrobrás se os preços do diesel não param de subir.

As corporações policiais desiludem-se porque o ‘mito’ aquiesce com provável redução de seus benefícios.

A acelerar a queda livre, falseia a sustentação na elite das Forças Armadas desde a desastrada substituição do ministro da Defesa.

Polos inaceitáveis

Será nada surpreendente se a palavra impeachment voltar a pronunciar-se com frequência, inclusive no bojo de uma interessante análise político-eleitoral que circula com nuances sob variada autoria. Veja, leitor, se não faz sentido.

A volta de Lula ao proscênio tende a empurrar o jogo político e as eleições do ano que vem à inaceitável polarização entre o ex-presidente e Bolsonaro. Haveria candidatos mais palatáveis no amplo espectro entre a centro-esquerda e a direita, mas nenhum deles parece capaz de sobrepor-se aos extremos.

Olh’aí!, gente

Assim, o único jeito de evitar que os eleitores sejamos tangidos ao mesmo impasse de 2018 seria afastar, obviamente por meios legais, pelo menos um dos dois populismos.

É improvável, a dizer o mínimo, que nossa modorrenta Justiça reafirme em colegiado uma sentença de Lula em algum dos processos em que é réu, não antes de que se apresente às urnas. Restaria a hipótese de expelir Bolsonaro – e olha o impeachment aí outra vez, gente!, alternativa não apenas para livrar-nos hoje de um mal tão virulento quanto o próprio vírus como, sobretudo, assegurar-nos algum futuro.

Defunto custoso

Sim!, leitor arguto, sei que o presidente está blindado pelo centrão. Políticos, porém, são seres pragmáticos, podem até pegar a alça do esquife e conduzi-lo à beira da cova; só não pulam lá dentro com o defunto.

Ante os previsíveis cenários de agravamento da crise múltipla que vivemos, é de esperar-se que o centrão procure alternativa menos custosa de permanecer no poder. E você pode contar com Bolsonaro: ele está sempre pronto a obrar alguma sandice.

A ver no que dá.

Jogo do apagão

Uma bela sacada do jornalista Aylê-Salassié Quintão (des)qualifica o passadismo dominante na política brasileira desde que se estabeleceu o jogo de soma zero ‘nós-contra-eles’ agora expresso na polarização entre populismos constatada nas notas anteriores.

Em artigo de 24.03 (Apagão perturbador – uma fábula) Aylê refere-se aos que disputam um certo “jogo dos três poderes”:

“Eles parecem estar num cemitério, onde toda a história se encerra e se enterra. Deve ser por isso que a maioria veste-se de preto.”

Anacronismo e esperança

Sérgio Alves gostou do título desta coluna na edição de 20.03, “O dualismo envelhecido e os novos protagonistas”:

– É uma síntese do que pensam as melhores cabeças [sobre a anacrônica polarização] que não enseja um Brasil decente. Também torço por “novos protagonistas” que renovem a esperança.

Muito obrigado!, Sérgio A.

Insegurança assusta

Meu irmão Emanuel (ele diz que é mais novo…) comentou o que escrevi sobre o deputado cujo nome costumo esquecer ou confundir – aquele, flagrado em atos antidemocráticos e ameaças, que o Supremo Tribunal Federal mandou prender. Noto agora que sua frase final revelou-se premonitória:

– A liberdade de expressão não pode ser confundida […] com impunidade parlamentar. O caso é exemplo clássico de como se tem votado errado, colocando no Congresso pessoas como esse senhor. Por outro lado também estou assustado com o Judiciário, em geral e em particular com os ministros do Stf: passam insegurança!

Atrevimento

Bem a propósito, circulou nas redes de mídia que o ministro Gilmar Mendes estaria revoltado com o protagonismo assumido por seu colega Edson Fachin, que numa penada restaurou os direitos políticos de Lula. Gilmar teria dito, indignado:

“Como se atreve?! a liberar um condenado? Isso compete a mim!”.

(Perdão!, leitores; não resisti à anedota.)

 

Tributo a Octavio Malta (Última Hora, Rio, circa 1960)

Marco Antônio Pontes

([email protected] ou [email protected])