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‘A sociedade da neve’: saiba o que é real e o que é ficção no filme inspirado na tragédia dos Andes

25 de janeiro, 2024

Longa estreou 51 anos após queda de avião nos Andes, que teve 29 sobreviventes Passados 51 anos da queda de um avião nos Andes, em […]

‘A sociedade da neve’: saiba o que é real e o que é ficção no filme inspirado na tragédia dos Andes
'Sociedade da neve' é a mais nova produção a relatar a tragédia dos Andes — Foto: Reprodução/Instagram

Longa estreou 51 anos após queda de avião nos Andes, que teve 29 sobreviventes

Passados 51 anos da queda de um avião nos Andes, em outubro de 1972, em que 29 dos passageiros foram resgatados 72 dias depois, o filme ‘A sociedade da neve’, da Netflix, reconta a história de sobrevivência.

O longa de Juan Antonio Bayona estreou em dezembro em algumas salas de cinema de vários países e ficou disponível na plataforma de streaming a partir de 4 de janeiro. Ao todo, estavam 45 passageiros no avião, entre jogadores, familiares e amigos. À espera do socorro, eles tiveram de comer partes dos corpos dos companheiros mortos.

O filme foi feito com base no livro de um jornalista que entrevistou os sobreviventes. Hoje, 14 dos que foram resgatados nos Andes continuam vivos. Veja o que é verdade e o que não é contado no filme ‘A sociedade da neve’.

1. Condições extremas: verdade

Os sobreviventes, confrontados inicialmente com o impacto brutal da aeronave, logo se viram diante de adversidades implacáveis, com o frio intenso, isolamento severo, ausência de perspectiva de resgate e fome. As condições extremas retratadas no filme são verídicas, baseadas nos relatos dos sobreviventes.

Para garantir a fidelidade, a produção do filme visitou o local três vezes, além de ser usado como set de gravação. “Voltamos para filmar algumas externas com os atores. Mas foram poucas, porque aquela região é de difícil acesso e muito perigosa. Mas filmamos no inverno e, para isso, nós tivemos que ir acompanhados por uma equipe de especialistas”, afirmou Bayona.

2. Canibalismo: verdade, mas…

Ao assistir o filme, é perceptível que muitos dos personagens eram devotos católicos. Durante os debates sobre a possibilidade de recorrer ao canibalismo para sobreviver, eles carregavam consigo a preocupação de possíveis punições divinas, acreditando que utilizar os corpos como fonte de alimento poderia resultar em condenação aos olhos de Deus.

Apesar de não ser mencionado no filme, a Igreja Católica ofereceu apoio aos sobreviventes. Este fato, documentado por Fernando Parrado em seu livro ‘Milagre nos Andes’, revela que a Igreja desempenhou um papel na assistência psicológica aos sobreviventes, algo que não foi explorado na narrativa cinematográfica.

“Logo após o resgate, membros da Igreja Católica anunciaram que, de acordo com a doutrina da Igreja, não havíamos cometido pecado ao comer a carne dos mortos. Conforme Roberto argumentara na montanha, eles disseram ao mundo que o pecado seria termos nos permitido morrer. Porém, fiquei mais contente com o fato de que muitos dos pais dos rapazes que morreram nos apoiaram publicamente, dizendo ao mundo que entendiam e aceitavam o que tínhamos feito para sobreviver”, escreveu Parrado em seu livro.

3. Resgate: ficção

Embora o filme mostre um resgate que teria durado apenas um dia, não foi bem isso que aconteceu na história real. Eles realmente foram retirados em helicóptero militares chilenos, no entanto, o resgate durou dois dias.

Isso porque, além do local de difícil acesso, o limite de peso dos helicópteros impediu que todos os sobreviventes fossem retirados da Cordilheira ao mesmo tempo. Assim, metade deles passaram mais uma noite no local, com acompanhamento de uma equipe médica

4. Avalanche: verdade

Em visita ao Brasil em 1993, o sobrevivente Gustavo Zerbino contou que, além da temperatura de 25 graus abaixo de zero, eles também passaram por duas avalanches. Uma delas ocorreu duas semanas após a queda e causou a morte de oito pessoas. Na ocasião, o avião e todos os sobreviventes ficaram soterrados por metros de neve. Ele cita a situação como um dos motivos para a decisão de comer carne dos colegas mortos (único jeito de sobreviver naquele lugar inóspito). “Depois de 10 dias sem comer, carne humana não era mais grave do que enfrentar a natureza, cuidar dos feridos, sobreviver à avalanche. Não somos heróis. Sofremos muito, mas sobrevivemos porque não perdemos o senso de humor, a solidariedade e a fé”.

5. Repercussão: ficção

Após o resgate, o filme não conseguiu retratar corretamente como foi a experiência dos sobreviventes com a hostilidade da opinião pública com os métodos adotados pelo grupo para sobreviver. Principalmente, porque eles teriam tentado ocultar os detalhes sobre o canibalismo. As pessoas chegaram a especular que os sobreviventes teriam assassinado os colegas para alimentação.

Além disso, havia o sensacionalismo sobre a história como uma espécie de ‘jornada do herói’. Tinha quem comparasse o caso com a vitória do Uruguai no mundial. Isso foi detalhado por Fernando em seu livro.

“Nossa provação era celebrada como uma gloriosa aventura. As pessoas comparavam nosso feito à conquista heroica do time de futebol uruguaio que ganhara a Copa do Mundo de 1950. Algumas pessoas chegavam a me dizer que invejavam minha experiência nos Andes e queriam ter estado lá comigo. Não sabia como explicar para elas que não havia glória alguma naquelas montanhas. Havia apenas feiura, medo e desespero, além da obscenidade de presenciar tantas pessoas inocentes morrerem. Também fiquei chocado com o sensacionalismo utilizado por muitos dos veículos de imprensa na cobertura sobre o que havíamos comido para sobreviver”, contou ele.

(Agência O Globo) — Foto: Reprodução/Instagram

Legenda da foto: ‘Sociedade da neve’ é a mais nova produção a relatar a tragédia dos Andes — Foto: Reprodução/Instagram