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Angry birds

6 de março, 2023

Fiz aniversário na última sexta. Mensagens atrasadas são bem-vindas até o dia três de Abril. Pode mandar e-mail, um daqueles cartões pré-prontos de whatsapp ou […]

Angry birds

Fiz aniversário na última sexta. Mensagens atrasadas são bem-vindas até o dia três de Abril. Pode mandar e-mail, um daqueles cartões pré-prontos de whatsapp ou até cantar parabéns por áudio. O que é um mês para quem não tem vergonha de assumir que ama ser comemorado? Eu pensei que todo mundo era meio assim, acredita? Mas todo mundo é muita gente, dizia a minha mãe quando eu jurava que todo mundo tinha ficado de recuperação em geografia. Pois então.  

Quando a minha filha mais velha fez cinco, fizemos uma festa com o tema comidinhas, ela andava inaugurando seu interesse pela cozinha e pensamos que não havia outro tema mais acertado. A menina ficou só alegria quando soube que haveria aula de pão de queijo, que o suco seria disso e daquilo, que a torradinha era assim ou assada, que o bolo era todo não sei como. Teve avental pros amigos todos, teve criança suja de farinha pra tudo que é lado, mas na hora dos parabéns, ela se saiu com um “não, obrigada”. Fez-se aquela situação.

Os parabéns são importantes pra marcar o fim da festa. Quem tem filho sabe. Cantou, comeu um bolinho, beijo tchau. Cada um que arraste sua criança cheia de açúcar na cabeça pra casa. Eu achei que era caso de uma brincadeira mais animada e adiei meia horinha. E outra. E outra. Ocorre que a comida era boa mesmo. A festa aconteceu numa escola de culinária e a chef que comandava os quitutes era danada de competente. Fora que nos suquinhos dos adultos, gengibres, cupuaçus e águas de coco dividiam os copos com gin, rum, vodka e tal e coisa e coisa e tal. Quem disse que o povo arredava pé. 

Mas rapaz, a festa foi encostando na noite, o desespero foi encontrando uma  mãe já cansada, a simpatia sumindo, sumindo. Cada hora extra de locação da escola, muitos cifrõezinhos adicionados à conta do aniversário. Resolvemos cantar parabéns sem a menina. E faz como? Quem apaga a vela? Se tira foto ou não? Eu e o pai , já meio atravessados de drinquezinhos e números  mil, atrás do bolo a ouvir a cantiga de rasgar ouvido de músico e que, a essa altura, já não contava com nenhuma voz infantil. Nós dois em todas as fotos como se o aniversário fosse nosso. Se brincar, apagamos até a vela. Nem lembro mais, a criança já vai perto dos 17. 

Só sei que no outro ano, o tema foi Angry Birds, foi animador de festa fazendo caça ao tesouro, coxinha, empada, brigadeiro, coca-cola e bolo de chocolate. A aniversariante não teve nem chance de botar em cena a dúvida dos parabéns. Economizamos fôlego no “é pique, é pique, é pique, é pique, é pique” pra caprichar bem  no “é hora, é hora, é hora, é hora, é hora”. Recado entendido, pais envergonhados com o tanto de doidice que saiu no aniversário anterior, pronto! Parabéns, “apaga a velinha, quem quer bolo?”, beijo e tchau. Dia 21, comemoramos os 17 dela, fiquem ligados para cenas dos próximos capítulos. Boa semana, queridos.

 

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quemmandaaquisoueu – Verdadesinconfessàveissobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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