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Campos Neto diz que custo de não combater a inflação é muito mais alto

5 de abril, 2023

Avaliação do presidente do Banco Central ocorreu durante evento transmitido pela internet O custo de combater a inflação é alto para a sociedade e traz […]

Campos Neto diz que custo de não combater a inflação é muito mais alto
Alta da taxa de juros tem sido questionada pelo presidente Lula, por impacto na economia e no emprego - Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Avaliação do presidente do Banco Central ocorreu durante evento transmitido pela internet

O custo de combater a inflação é alto para a sociedade e traz impactos “duros no curto prazo”, admitiu nesta quarta-feira (5) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, referindo-se ao efeito da alta da taxa de juros na economia e no emprego. Ele acrescentou, porém, que o custo de não combater a inflação “é muito mais alto e tem impactos muito mais nocivos a médio e longo prazo”.

O BC tem avaliado que a alta nos preços causa prejuízos, principalmente, à população mais pobre, abocanhando proporcionalmente uma parte maior de sua renda, além de desorganizar a economia e prejudicar o planejamento das empresas.

“O custo de combater a inflação é muito alto para a sociedade, e tem impactos duros no curto prazo. Mas o custo de não combater é muito mais alto e tem impactos muito mais nocivos a médio e longo prazo. Então, nosso trabalho é fazer essa convergência [para as metas de inflação] com o mínimo custo possível”, disse Campos Neto, em evento transmitido pela internet.

O patamar dos juros brasileiros, em 13,75% ao ano, o que representa a taxa real mais alta do mundo, tem sido criticado reiteradamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do governo, por desacelerar a economia e influenciar negativamente a geração de empregos.

O BC é comandado Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo Campos Neto, é importante “não personificar o Banco Central em uma pessoa”. “Do mesmo jeito que eu tenho mandato autônomo em relação ao Executivo, os diretores têm mandato autônomo em relação a mim. A gente vai ver cada vez mais um sistema de ‘checks and balances’ [pesos e contrapesos] no qual não só o governo tem menos poder em relação ao BC e que também eu tenho menos poder em relação ao BC”, afirmou.

Arcabouço fiscal

Mais cedo, Campos Neto afirmou que a proposta de arcabouço fiscal apresentada pela área econômica do governo é “superpositiva” e evita uma trajetória “explosiva” para a dívida pública.

E explicou que medidas relativas às contas públicas são importantes, pois afetam o canal de expectativas do mercado financeiro, mas que não há uma relação “mecânica” entre as regras fiscais e a taxa básica de juros.

De acordo com o presidente do BC, a harmonia faz parte da relação entre o Banco Central e o ministério, no sentido de que um maior controle sobre os resultados das contas públicas tende a facilitar eventuais cortes de juros.

“O canal de expectativas é uma forma de trazer uma promessa a médio e longo prazo para ter um ganho a valor presente. Só funciona quando o canal funciona bem, e qualquer ruído faz com que o canal fique mais ‘entupido’. A gente tem tido um pouco disso [ruído] na política monetária e fiscal. Diminuir o ruído é importante”, declarou Campos Neto.

Definição dos juros

Para definir o nível dos juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode reduzir o juro básico da economia.

Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação do próximo ano, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.

A meta de inflação do próximo ano é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%. Na ata da última reunião do Copom, quando os juros foram mantidos estáveis em 13,75% ao ano, o maior nível em mais de seis anos, o BC avaliou que a inflação ao consumidor continua elevada. Em doze meses até fevereiro, a inflação oficial somou 5,60%, ainda acima das metas. O grande peso para o resultado do IPCA do mês passado foi o grupo de Educação.

Para o Copom, a desaceleração da atividade econômica em curso “é necessária para garantir a convergência da inflação para suas metas, particularmente após período prolongado de inflação acima das metas”. Isso ocorre, na visão do Banco Central, porque existe atualmente “uma dinâmica inflacionária movida por excessos de demanda, inicialmente em bens e que atualmente se deslocou para o setor de serviços”.

O Copom informou também que o processo de redução da inflação “demanda serenidade e paciência na condução da política monetária [definição dos juros] para garantir a convergência da inflação para suas metas”.

Haddad e Campos Neto debaterão juros no Senado em 27 de abril

A sessão de debates temáticos para debater “Juros, inflação e crescimento” será no dia 27 de abril, às 10h. A data foi confirmada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, nesta terça-feira (4) durante sessão plenária. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, estão na lista de convidados. O Requerimento é de autoria do próprio Pacheco.

Além de Haddad e Campos Neto, serão convidados a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, entre outras autoridades e economistas.

No pedido, o presidente do Senado afirma que “ao mesmo tempo em que não é viável o aumento descontrolado de preços, também não é desejado o sufocamento da economia no curto prazo”. (Da Agência Senado de Notícias).