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POLÍTICA

Carnaval vira troca de acusações entre Boulos e Nunes por leques em blocos, preço de água e open-bar em camarote

16 de fevereiro, 2024 / Por: Agência O Globo

Partido do prefeito pediu que MP investigue distribuição de leques com frase “São Paulo é mais gostoso com bolo”, enquanto o psolista acusou o emedebista de superfaturar contrato de compra de garrafa d’água a R$ 5,52

Carnaval vira troca de acusações entre Boulos e Nunes por leques em blocos, preço de água e open-bar em camarote
Ricardo Nunes (à esquerda) conseguiu aprovar projetos com votos de vereadores do PT, enquanto Boulos tem apoio de Lula e Gleisi para disputar a prefeitura paulistana — Foto: Montagem sobre fotos de arquivo/reprodução/Globo

Para além da diversão nos blocos e nos desfiles, o Carnaval paulistano rendeu também artilharia para os pré-candidatos a prefeitura de São Paulo, que têm trocado acusações nos últimos dias e até acionado o Ministério Público por supostas propaganda em blocos, preço acima da média na compra de água para trabalhadores e open-bar em camarote público para adolescentes.

O partido do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que pleiteia a reeleição, pediu que o MP investigue uma suposta propaganda antecipada de seu principal adversário, Guilherme Boulos (PSOL), em blocos de rua no Centro da capital. Isso porque em alguns blocos estavam sendo distribuídos leques com as frases “São Paulo é mais gostoso com bolo”, com um desenho da sobremesa. Os itens não citam o nome de Boulos diretamente, mas quem acompanha o psolista sabe que ele tem um programa no YouTube chamado “Café com Boulos” e costuma fazer trocadilhos entre seu sobrenome e o doce.

A representação do MDB-SP pede a identificação do responsável pela distribuição, impressão e pagamento do material, e alega que Boulos tinha conhecimento da ação, até porque ele repostou em suas redes sociais algumas fotos dos leques. O prefeito, porém, evitou explorar o assunto diretamente em suas redes sociais.

Garrafinha d’água

Boulos tem disparado contra o prefeito nos últimos dias devido a duas ações feitas no Carnaval. O primeiro é a compra de 252 mil garrafas d’água para os trabalhadores contratados pela prefeitura para os blocos de rua, pelo valor de R$ 5,52 por 500 ml (um valor total de R$ 1,3 milhão). O preço consta de uma licitação fechada pela gestão em 31 de janeiro, com a empresa AMBP Promoções e Eventos. Na internet e em supermercados, é possível comprar uma garrafa por valores que variam entre R$ 1 e R$ 2,10 em média.

“Suspeita de corrupção: quanto custa uma garrafinha de água de 500 ml? Inacreditáveis R$ 5,52 foi o preço que a prefeitura pagou por cada garrafa”, escreveu Boulos em suas redes sociais, chamando o contrato de “superfaturado”.

A pré-candidata Tabata Amaral (PSB) também usou o caso para atacar o emedebista. “Tudo que Prefeitura de SP toca vira indício de superfaturamento: dessa vez, eles compraram milhares de garrafas d’água a inacreditáveis R$ 5,52 para os trabalhadores neste carnaval, sendo que os valores médios dessas garrafas ficam entre R$ 0,93 e R$ 2,25”, escreveu a deputada nas redes sociais, prometendo uma ação no Tribunal de Contas do Município (TCM) para investigar o contrato.

A prefeitura esclareceu, em nota, que tentou comprar a água por um valor menor, mas não conseguiu porque não houve interessados e o edital de licitação precisou ser alterado. A gestão destacou ainda que o preço não diz respeito apenas à garrafa, mas também engloba a logística de distribuição da água por toda a cidade — a água foi entregue a equipes da Polícia Militar, Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Guarda Civil Metropolitana e demais profissionais envolvidos com o Carnaval. (veja nota abaixo).

Em outra frente, o psolista chamou o prefeito de “rei do camarote” citando o Camarote da Cultura, que foi realizado pela atual gestão entre 19 e 28 de janeiro durante os ensaios técnicos das escolas de samba no Sambódromo do Anhembi. Isso porque a prefeitura contratou a empresa Top Entretenimento LTDA, sem licitação, por R$ 2,1 milhões para fazer o camarote, que teve ingressos distribuídos gratuitamente para estudantes da Escola Municipal de Iniciação Artística (EMIA) e da Rede DaOra, ambos da gestão municipal, que são voltados para crianças, adolescentes e jovens adultos e oferecem cursos de iniciação artística. O problema é que teria havido oferecimento de bebidas alcoólicas no espaço. Vídeos publicados nas redes sociais de fato mostram que estavam sendo oferecidas bebidas no local.

A deputada federal Erika Hilton, do mesmo partido de Boulos, fez uma representação ao MP-SP pedindo a investigação do contrato e a averiguação se foram distribuídas bebidas alcoólicas para menores. Tanto no caso do camarote quanto da água, as denúncias foram publicadas inicialmente pelo urbanista e ex-vereador Nabil Bonduki, que esteve junto com Boulos algumas vezes nos últimos meses, inclusive no Carnaval.

Neste caso, a Secretaria Municipal de Cultura explicou que o camarote “foi uma iniciativa sociocultural que trouxe oportunidade para que alunos dos programas de formação tivessem a chance de cobrir os ensaios do Carnaval 2024 e dessa maneira, praticarem o que aprenderam na teoria durante os cursos” e que no evento “os menores de idade foram devidamente identificados e não puderam consumir bebidas alcoólicas”.

Veja abaixo a nota em relação a compra de garrafas d’água:

“A Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB) esclarece que a licitação atendeu a todos os requisitos da lei e a empresa contratada ofereceu o menor preço pelos produtos. O preço da unidade da garrafa de água é de R$ 1,70. Sobre esse preço, incidem os valores referentes à logística de distribuição por toda a cidade, além de impostos e mão de obra. A água foi entregue às equipes da Polícia Militar, CET e Guarda Civil Metropolitana e demais profissionais envolvidos com o Carnaval

Em outubro/23 foi realizada pesquisa de mercado, onde foram consultadas 05 empresas e foi aferido o valor referencial unitário de R$ 2,92. Em 27/11/2023, foi aberta a licitação que terminou “Fracassada”, termo do direito administrativo. O que motivou esse resultado foi que todas as empresas consideraram os preços não aceitáveis. Portanto, nenhuma empresa participante da licitação ofereceu proposta para o fornecimento de água, nas condições estabelecidas pelo município.

Em dezembro/2023, a pesquisa de mercado foi refeita e dessa consulta apurou-se o valor referencial unitário de R$ 5,53. Em 09/01/2024 foi aberto o novo certame que resultou na contratação da empresa e o valor unitário sagrou-se em R$ 5,52. Nas duas pesquisas ficou claro aos participantes que o objeto não era só a aquisição de mercadoria e sim o fornecimento da água com acondicionamento em gelo para uma temperatura adequada, entrega em todos os trajetos para centenas de pessoas que estavam nas ruas a serviço do Carnaval 2024 que, sobretudo, é livre, democrático e descentralizado e que acontece nos territórios das 32 Subprefeituras”.

BS20240216150859.1
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/02/16/carnaval-vira-troca-de-acusacoes-entre-boulos-e-nunes-por-leques-em-blocos-preco-de-agua-e-open-bar-em-camarote.ghtml