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Como Andreas Pereira superou trauma de 2021 no Flamengo e chegou à seleção brasileira

22 de março, 2024 / Por: Agência O Globo

Convocado para amistosos contra Inglaterra e Espanha, meio-campista faz trabalho com coaching mental desde março de 2022

Como Andreas Pereira superou trauma de 2021 no Flamengo e chegou à seleção brasileira
Andreas treina com a seleção brasileira no CT do Arsenal, em Londres — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Na primeira entrevista como jogador da seleção, Andreas Pereira fez questão de destacar que está mais forte mentalmente. Não foi à toa. Que ele viveu uma espécie de inferno astral depois da falha na final da Libertadores de 2021, pelo Flamengo, já é de conhecimento público. O que nem todos sabem é como ele deu a volta por cima e adquiriu a musculatura que o ajudou a receber uma chance de vestir a Amarelinha nos amistoso contra Inglaterra, amanhã, e Espanha, na terça.

O meio-campista buscou ajuda para superar o trauma com os serviços de um coaching mental. E, mesmo depois de atingida a meta, seguiu com o trabalho. Agora, com o objetivo de suportar as exigências de um jogador de Premier League e de seleção — e que pretende estar na Copa de 2026.

Os meses seguintes à fatídica derrota para o Palmeiras, em novembro de 2021, foram de perseguição da torcida. Tímida no começo, mas que logo atingiu grandes proporções. Teve encontro com membros de organizada no CT, xingamentos vindos das arquibancadas e campanha contra sua compra pelo Flamengo (ele estava emprestado pelo Manchester United). A diretoria rubro-negra cedeu e desistiu. Pouco mais de sete meses após aquela final, o jogador retornou à Inglaterra, onde se transferiu para o Fulham.

Inicialmente, Andreas recusou ajuda psicológica oferecida pelo Flamengo. Cada vez mais afetado pela pressão, aceitou a sugestão de seu agente Giuliano Bertolucci de se consultar com o coaching Lulinha Tavares. E, cerca de três meses após a final da Libertadores, pôs seus sentimentos para fora diante de um profissional.

— Comecei a ouvi-lo, a acolher sua dor. Mas também a fazê-lo pensar que ele não era aquilo ali, porque erros acontecem recorrentemente — conta Lulinha, resumindo a primeira parte do trabalho.

Andreas encontrava-se preso num ciclo de frustração, culpa e retroalimentação da dor. Em entrevista à TV Globo, em abril de 2022, revelou que assistiu ao vídeo com o trecho da falha diante de Deyverson “um milhão de vezes”.

— Já vi um milhão de vezes para ver o que aconteceu, o que poderia ter feito. Não só vi, tive vários sonhos — disse o meio-campista na ocasião.

Parar de assistir a este vídeo foi uma das primeiras recomendações que Andreas recebeu. Assim como não ler notícias sobre ele. O objetivo era entender que relembrar este episódio era improdutivo, só despertava sentimentos negativos. Que erros acontecem e não deixarão de ocorrer. Mas o mais importante era aprender a seguir em frente.

Na teoria, parece fácil. Mas, na prática, passou longe de ser. Virar a página não era fácil. Além das vaias nos estádios, o jogador foi abordado na rua algumas vezes. Estava com medo de falhar novamente e foi tomado por uma paralisia, o que explica a queda brusca de rendimento no início de 2022.

Aprender a lidar com este sentimento envolveu um processo de racionalização, de analisar números. Ver que erros são comuns, mas não necessariamente cruciais. Além disso, identificar outros casos para entender que aquilo também ocorre com os outros. Em resumo: perder o medo de errar.

—Automaticamente ele vai retomando o seu estado de consciência. E aí o medo vai embora — completa Lulinha Tavares.

Um personagem fundamental neste processo foi David Luiz. O zagueiro do Flamengo acolheu o então companheiro de time, o apoiou e serviu de exemplo. Vale lembrar que ele fora um dos mais responsabilizados pela torcida pelos 7 a 1 da seleção na Copa de 2014. Não só foi criticado como foi feito de chacota. Mas seguiu em frente.

Na comemoração pelo título da Libertadores de 2022, David Luiz fez uma videochamada para Andreas de dentro do vestiário e dedicou a conquista a ele. O meio-campista participou daquela campanha até as oitavas, na qual, inclusive, marcou um gol.

Nas últimas semanas antes de retornar à Inglaterra, Andreas já havia recuperado as boas atuações. Mas o trauma mental só foi 100% superado depois da saída do Flamengo. O distanciamento e os novos ares foram fundamentais para jogar a cal sobre aquelas cicatrizes.

A partir daí, o foco do trabalho deixou de ser o passado e passou a ser o futuro: evoluir no Fulham, onde é titular pela segunda temporada seguida, e a tão sonhada convocação para a seleção. A expectativa é de que, além do bom futebol, a musculatura mental adquirida vá fazer diferença para se manter nas convocações até a Copa 2026.

— Essa convocação pega o Andreas maduro, experiente. E aquilo que ele viveu lá atrás vai dar um suporte emocional, uma envergadura mental para ele dar os próximos passos na seleção. Porque ele espera muito ser um dos jogadores que estarão na Copa. E o Brasil vai estar 24 anos sem título. Então ele e todos devem estar preparados mentalmente para uma pressão que vai ser ímpar — concluiu o coaching, que antes de sua última viagem para Londres, no fim de 2023, recebeu do jogador o pedido para que levasse uma camisa do Flamengo.

O sentimento de Andreas em relação ao rubro-negro, agora, é apenas de torcedor.


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