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Comunicação & Problemas

13 de julho, 2021

O jogo é duro e a base, frágil   Jogo duro e … A Cpi da pandemia endureceu o jogo com depoentes bolsonaristas que considerou […]

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O jogo é duro e a base, frágil

 

Jogo duro e …

A Cpi da pandemia endureceu o jogo com depoentes bolsonaristas que considerou mentirosos e um deles acabou preso; na esperada polêmica subsequente emergem duas opiniões conflitantes, embora não necessariamente excludentes entre si e uma constatação quase unânime, partilhada inclusive por auxiliares do presidente em altos escalões, quando protegidos pelo anonimato.

Comecemos pelo consenso, que este velho escriba já anotou aqui.

…resposta enfurecida…

Bolsonaro sente-se acuado pelos senadores e reage do único jeito que sabe: furibundo, ataca (com palavrões) a Cpi e seus membros, demais opositores, a imprensa que lhe traz (ou não) más notícias e com especial virulências ‘as’ jornalistas – se não os analistas de política, Freud explicará essa predileção.

As razões da inadequação da resposta são igualmente consensuais, ou aproximam-se disto: como sempre o presidente fala pra sua turma, os militantes ‘raiz’, gente que pensa(?) como ele, considerada sua única base fiel e, Bolsonaro acredita, capaz de fornecer-lhe número de votos suficiente para não ser escorraçado já no primeiro turno de 2022.

…em bases frágeis

Ele conta também com remanescentes do antipetismo decisivo naquele anômalo certame e com número cada vez menor de empresários que ainda acreditam nas promessas de Paulo Guedes, aquelas que previam o paraíso para a iniciativa privada. Muitos pularam fora há tempos, outro tanto de arrependidos ainda hesita à espera de um milagre e os persistentes certo contarão salvar algo do desastre, por exemplo mais ano e meio de acesso fácil aos favores do Bndes e outros financiadores estatais.

São frágeis, tais suportes, assim como é frágil a proteção do ‘centrão’ no Congresso; essa parte comento mais adiante.

Cavalo de Troia

Quanto à controvérsia, é de notar-se que ela parte de outro consenso, entretanto de menor abrangência: muitos constatam que a Cpi dispõe de material suficiente para evidenciar crimes a granel do presidente e sua turma, sejam comuns ou de responsabilidade – e que esses são mais graves que a corrupção ora descoberta.

Por exemplo, Demétrio Magnoli revela em coluna na Folha de S. Paulo e intervenções na GloboNews o receio de que ela menospreze o acervo reunido, afaste-se do foco e perca-se em desvios pouco produtivos.

Há inclusive quem duvide da boa-fé de alguns denunciantes, a supô-los ‘cavalos de Troia’ que se apresentam à Comissão para embaralhar suas investigações e desmoralizar-lhe os membros mais aguerridos.

Novo patamar

Interpretação diversa é a dos que minimizam tais riscos em favor de outra aposta, a de que os fortes indícios (talvez mais que isso) de corrupção no Ministério da Saúde, acrescidos da omissão de Bolsonaro em mandar investigar as denúncias (inclusive de aliados), eleve a outro patamar as investigações.

E mais: se desde sempre a Cpi teve claras evidências de péssima na gestão da crise sanitária, criminosa desídia na (não) aquisição de vacinas em tempo hábil, tentativas reincidentes de atribuir riscos (fake) à imunização e impenitente defesa de remédios ineficazes e perigosos…, além de tudo isso ela agora traz à luz suspeitas de peculato, prevaricação e cambalachos de variada natureza.

Percepção imediata

Ademais – prosseguem os que assim argumentam –, denúncias contundentes de corrupção e males análogos tem maior poder de convencer a opinião pública e mobilizar os que se opõem ao governo, se comparadas às por certo mais perniciosas omissões e erros ante a pandemia, entretanto de menor percepção imediata pela opinião pública.

Dessa forma seria preciso insistir e aprofundar as investigações neste filão, modo mais eficaz de afastar Bolsonaro e os riscos que impõe à nação, seja pela via radical e rápida do impeachment, seja pela mais custosa derrota do bolsonarismo e seu ‘capo’ daqui a um ano e três meses.

O que o povo quer

É sempre bom aprender com a história. Em 1992, a quase concluir-se a batalha parlamentar pelo impedimento de Fernando Collor o então deputado Ibsen Pinheiro, que presidia a Câmara federal declarou, num arroubo esclarecedor, que “…esta Casa sempre acaba por fazer o que o povo quer”.

Fez, de fato: ao avolumarem-se as pressões populares contra o presidente ‘enrollado’ ele acabou afastado por expressiva maioria da Câmara dos Deputados e logo depois o Senado sacramentou o impeachment, mesmo que tentasse canhestramente manter os direitos políticos com extemporânea renúncia.

Assombração

Passado o curto prazo de banimento – oito anos!, pouco demais para quem muito ‘aprontou’ –, Collor voltaria à cena mercê da impotência do Ministério Público, então carente dos instrumentos e prestígio que angariaria mais tarde; por isso não conseguiu provar em tempo hábil os crimes que cometeu, portanto condená-lo a longa prisão e descartá-lo definitivamente.

Hoje é um político menor a assombrar o Congresso, senador ignorado até por pretensos aspirantes ao ‘alto clero’ e inexpressivo mesmo em suas originárias Alagoas, embora mantenha algo da base construída pelo pai, Arnon de Melo, ‘cardeal’ da política de seu tempo.

Não dará certo

Os expoentes do ‘centrão’, massa amorfa de deputados cuja liderança tem muitas cabeças e pouco pensamento, não tardarão a perceber que ‘entraram numa fria’ ao aliar-se a Bolsonaro, maiores tenham sido as benesses que cobraram – e receberam – em troca do apoio.

Até agora têm obtido compensações nada desprezíveis, conforme avaliam em seu vezo imediatista, em termos de indicações de correligionários para cargos na estrutura do estado, suas empresas e emendas ao orçamento a contemplar-lhes os ‘currais eleitorais’.

Mas logo perceberão que não vai dar certo: a enxurrada de denúncias (é sempre assim: denúncia puxa denúncia) que se abate sobre o presidente, seus filhos e aliados próximos tende a solapar as bases da aliança.

Três temores

Políticos dessa estirpe não costumam primar pela coragem e temem especialmente três coisas: (1) ficar ao relento da cobertura dos governos (quaisquer governos), seus bancos e demais empresas; (2) misturar-se a governantes impopulares quando isso possa prejudicar-lhes a imagem; (3) chegar à campanha pela renovação do mandato com a reputação e prestígio abalados.

A persistir o desgaste de Bolsonaro e seu governo ante os erros e omissões durante a pandemia (entre outros), o aumento da insatisfação popular expressa nas manifestações de rua e a queda livre do presidente nas pesquisas pré-eleitorais, não será surpresa se o centrão ‘naturalmente’ desembarcar de sua base de apoio; hoje só parece esperar a hora mais conveniente.

Areia movediça

A melancólica debacle do governo Dilma é bem ilustrativa. A presidente teve a maior base de apoio de todos os inquilinos do Alvorada desde a redemocratização, integrada majoritariamente por um ‘centrão’ não muito diferente do que suporta Bolsonaro; bastou-lhe perder o apoio da opinião pública, com povo na rua a pedir impeachment… e os aplicados parlamentares aliados abandonaram-na; fosse pouco os principais líderes do grupo, Eduardo Cunha à frente, comandaram o processo.

Tudo a mostrar a fragilidade de bases apoiadas na areia movediça do “centrão”.

Chacina tributária

“Chacina” é como Everardo Maciel, certo o principal estudioso do setor em nosso tempo e lugar, refere-se à ‘reforma’ tributária pretendida por “Paulo Guedes et caterva.

Ele já enderreçara anteriormente veementes críticas às propostas mais em voga, no entanto pareceu-me estarrecido, estupefato com a ‘ideias’, por assim dizer, que informam a mensagem enviada pelo governo ao Congresso. É o que se depreende das recentes manifestações de Maciel em entrevistas, conferências e especialmente no artigo Inferno fiscal, parte 1, veiculado em 1º de julho n’O Estado de S. Paulo.

Enquanto espero a segunda parte, recomendo a leitura da primeira.

Esperança, otimismo

A professora Thaïs Littieri relembra saudosa os tempos de Itamar Franco e, atenta, registra “que nos deixou há dez anos”. Assim ela estabelece o contraste:

– Continuamos acompanhando os absurdos cometidos pelo Bolsonaro, – mas registra esperança por que – as manifestações contra ele estão-se intensificando; muita gente precisa rolar com ele da política e economia.

O também professor Célio Cunha vale-se da mesma coluna (a primeira deste mês) como “leitura para começar a semana com algum otimismo”.

Sigo aqui no mesmo diapasão, Thaïs e Célio, talvez a encontrar mais razões para esperança e otimismo.

Nem síndico

– Sei que você não sabe nem gostaria de saber – invectiva-me Elmer Corrêa Barbosa –, mas o Bossalnazi nasceu em 21 de março de 1955. E ele mesmo prossegue:

– Canalhas nascem todos os dias, mas este genocida nasceu em março e num dia historicamente marcado: […] foi em 21 de março de 1943 que um militar alemão, Rudolf von Gersdorff, articulou o assassinato de Hitler, mas o plano deu chabu […].

– Quem sabe este genocida renuncia – finaliza – para tentar se eleger em 2022?…; se não conseguir simular um novo atentado ele não se elege nem síndico de seu condomínio na Barra, onde moram outros milicianos.

 

Tributo a Octavio Malta (Última Hora, Rio, circa 1960)
Marco Antônio Pontes
([email protected] ou [email protected])