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VARIEDADES

De MC Kevin a Luciano Huck, tem de tudo no primeiro álbum solo de Pedro Lotto

22 de março, 2024 / Por: Agência O Globo

Produtor da nata do trap brasileiro, paulistano lança ‘Darma’, disco que tem inédita do rapper falecido em 2021 e faixa que nasceu no estúdio da casa do apresentador de TV

De MC Kevin a Luciano Huck, tem de tudo no primeiro álbum solo de Pedro Lotto
O DJ e produtor paulistano Pedro Lotto — Foto: Reprodução/facebook

Pode falar: Matuê, Orochi, Xamã, Hariel, Kevin, Ryan SP, MC Cabelinho, WIU, Maneirinho, Yunk Vino, Borges, CJOTA…. com todos os grandes nomes do trap brasileiro, o produtor e DJ paulistano Pedro Lotto, de 28 anos, já trabalhou. Atualmente no Top 50 do Spotify com “Tenho que me decidir” (produção sua com os MCs PH, Borges, WIU e WEY), ele lança às 21h desta quinta o seu primeiro álbum solo, “Darma”. Uma vitória, para quem, como o próprio Pedro diz, “estava sempre produzindo o projeto dos outros e nunca conseguia arrumar um tempo para fazer o meu”:

— Eu já meio que já fiz disco, single, som pra todo mundo, mas essa foi a primeira vez que eu consegui reunir uma galera em um projeto meu. Eu já estava querendo fazer isso há um tempo, mas nunca acabava dando certo. Às vezes eu tentava fazer, dava algum bloqueio ou as datas não batiam. Desde o começo do ano passado que eu coloquei isso na mente, de fazer esse álbum, e aí durante o segundo semestre inteiro eu fiquei indo e voltando para o Rio de Janeiro. Juntei toda essa rapaziada e fiz acontecer a parada.

E finalmente a coisa deu certo, num disco com oito faixas, com participações de Leviano, Ryan SP, PH, Maneirinho, Orochi, Leviano, Borges, Yunk Vino, CJOTA, Caio Luccas e Sueth.

— Esse é o primeiro de vários álbuns que eu quero soltar, tanto que eu nem botei tantas faixas, não queria queimar a largada — avisa.

Em algumas faixas, Pedro deixou um MC dominar sozinho, como o “Recreio” de Leviano (primeiro single do disco) e o “Me chama de puto” de CJOTA, estrela do trap surgida em Belo Horizonte.

— Nessas, se eu fosse botar mais alguém acho que vai ficar meio enjoativo. Mas, de resto, tentei botar artistas que não tinham músicas juntos e que poderiam dar uma química boa no som — explica ele, para quem, embora as gírias usadas nas letras sejam muito diferentes, os MCs de SP e do RJ “estão surfando na mesma onda musical”. — Eu destravei o som com o Cabelinho (do Rio) e falei “pô, quem que você acha que ia ficar bom nesse som?”. Daí ele falou: “mano, acho que você tem que chamar o Vulgo FK (de São Paulo), ia ficar brabo!” Eu liguei, mandei, ele ouviu, já gostou e falou “irmão, vamos gravar tô dentro” (em “Nosso momento”). Foi tudo meio que natural assim, fazendo brainstorm com o artista que estava lá e decidindo na hora.

O bônus de “Darma” é “Sexo sem stress”, faixa que Pedro Lotto produziu com o MC Kevin (falecido em 2021, ao cair da sacada de um hotel na Barra da Tijuca, quando, ironicamente, tentava ocultar da mulher uma escapada amorosa) e a MC Dricka.

— A gente fez essa faixa tem uns três anos, ela até tinha outro beat. Ela não saiu nem com ele e nem com a Dricka e acabou ficando guardada. Aí eu lembrei dessa faixa e pensei que se eu botasse de bônus no disco a galera que gosta do Kevin ia se amarrar. Quando ouvi, achei o beat meio desatualizado. Refiz o beat do zero, só deixei as vozes e meio que dei uma turbinada no som — conta. — Eu nem quis dar tanto foco nesse som no álbum também para não parecer que a gente quer surfar no hype do Kevin. Por isso botei ela de bônus.

Pedro se recorda de um Kevin “muito engraçado, muito autêntico”:

— Eu sempre ia pra rolê com ele. O Kevin era aquele cara que estava sempre agitado, então ele chegava no estúdio, fazia um som, chamava pra ir junto com ele a um show, saía do show e ia para uma outra balada… e da balada, ele voltava para o estúdio. Era tudo muito intenso, e o cara fazia amizade rápido com qualquer um, tratava todo mundo bem. O bichão fez história.

O MC Kevin — Foto: Divulgação

Outra das faixas de “Darma”, “Joatinga”, com Orochi e Ruxn, também mostra o bom entrosamento de Pedro Lotto: ela foi feita na casa do apresentador de TV Luciano Huck com a presença do filho deste, Benício, de 16 anos.

— O Beni tá começando a fazer beat agora. Ele conheceu o Portugal no Beat, que é um amigo meu, e o Portugal me apresentou para ele. A gente começou a fazer uns rolezinho junto lá no Rio. Aí foi aniversário do Beni e ele chamou a gente para festa, só com a rapaziadinha da escola e a família. O Orochi fez um show particular e a festa acabou cedo. Então eram 11 horas da noite, a molecada foi toda para casa e ficaram só Orochi, eu, O Beni e o Luciano — conta.

O quarteto então desceu para o estúdio caseiro dos Huck e a noite seguiu.

— O Luciano ficou mostrando os raps de que ele gostava. Uma hora ele foi dormir e ficou lá a gente com o Beni. E o Orochi deu a ideia: “vamos fazer um som aqui, só de marola”. Aí já fizemos o som lá mesmo, com o Beni acompanhando toda a sessão. A gente saiu de lá de manhã, pensando: “Caralho, velho, quando a gente ia imaginar que ia gravar um som na casa do Huck, mano?” A vida é muito louca, são muitas coisas aleatórias!

Nerd e porralouca

Em “Darma”, Pedro Lotto tenta refletir a dualidade da sua vida.

— Eu tenho o meu lado mais nerd, de produtor, mas também o meu lado porralouca, acho que consigo viver bem os dois mundos. Eu sou bem mais à noite, acordo às duas da tarde e minhas sessões de gravação quase sempre são na madrugada — diz ele, um cara que claramente ama o que faz. — Eu sempre quis trabalhar com uma parada de que eu gostava exatamente para não ser um sacrifício. Óbvio que cansa, né? Mas o tempo que passo no estúdio eu nem vejo como uma coisa cansativa. Tem MC que é muito rápido, em 15 minutos a letra dele tá pronta. O MC GP, o Orochi e o Cabelinho são muito rápidos. Mas tem MC que demora duas, três horas. Um que você pode anotar que demora é o CJOTA, ele é perfeccionista, quer sempre mudar frase, mudar palavra.

A música começou para ele em casa: seu pai é Gustavo Lotto, professor de bateria e músico freelance que já cobriu bateristas do Jota Quest e até dos Commodores.

— Minha infância inteira, eu tinha medo de viver de música, porque meu pai sempre passou muito perrengue de grana — diverte-se Pedro, que tocou bateria em bandas covers de Iron Maiden e Metallica. — O rap entrou na minha vida quando eu comecei a jogar basquete, todo mundo ali já era meio do rap e eu fiquei alucinado nas batidas. E aos 15 anos, minha mãe estava meio que passando perrengue e me mandou para a casa do meu tio nos Estados Unidos. Eu fiquei um ano lá e foi quando eu me apaixonei real pelo trap, que lá já era tipo febre. Voltei pro Brasil já decidido do que eu queria fazer beats.

De volta a São Paulo, ele tentou aos poucos se envolver na cena e, em 2015, começou a produzir o Costa Gold, que logo estouraria.

— Às vezes a pessoa tinha um pé atrás comigo por eu ter uma aparência de playboy, mas com o tempo o cara via que eu não era, que eu estava pelo certo, estava ali para somar no movimento — orgulha-se Pedro.

Sua intenção agora, logo após lançar “Darma” é sair em turnê como artista/produtor/DJ de trap (é um dos poucos a fazer isso, junto com Papatinho e WC no Beat) e assim, conseguir entrar nos grandes festivais de música.

— Como a cena está tomando uma proporção tão grande, com o tanto de artistas que a gente conhece dá para fazer muita coisa. Eu pensei em ir como DJ, ter um MC fixo e levar tipo um ou dois artistas a cada show como convidado, não mais que isso. Tô pensando em também fazer uns remixes só para soltar no meio do set – conta ele, que já tocou muito como DJ em shows de grupos e na balada. — Eu chegava na segunda-feira cansado e não queria produzir, só queria descansar. Fiquei vários anos sem tocar, e agora que eu vou lançar o álbum não tem como não tocar, né? Mas eu também não quero passar do ponto e viver em turnê. Se eu ficar fazendo isso não vou conseguir produzir para ninguém mais.


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