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‘De toda essa história, a música fica’, diz Yamandu Costa sobre álbum de violões feito com a ex-mulher, parceira por 16 anos

18 de março, 2024 / Por: Agência O Globo -cultura

Após fim do casamento que gerou dois filhos, o gaúcho e a venezuelana Elodie Bouny lançam ‘Helping hands’, disco que une as escolas clássica e popular do instrumento

‘De toda essa história, a música fica’, diz Yamandu Costa sobre álbum de violões feito com a ex-mulher, parceira por 16 anos
Os violonistas Yamandu Costa e Elodie Bouny — Foto: Colagem de fotos de divulgação

Lançado na última sexta-feira, o álbum “Helping hands” traz os violonistas Yamandu Costa e Elodie Bouny em adaptações de peças clássicas (algumas até inusitadas para um duo de violões) e de composições latino-americanas tradicionalmente tocadas em um só violão.

E aí entram tanto um “La Amapola” ou um “Seguidillas del Diablo” (de Joaquin Rodrigo, o compositor do “Concerto de Aranjuez”) quanto a “Sonata K386 para cravo”, do italiano Domenico Scarlatti. Mas o que chama a atenção mesmo é “Remembrance of Rio”, composição de Yamandu que nunca havia sido gravada, e que fala muito sobre o começo de sua vida, em casal, com Elodie, no Rio de Janeiro.

— Essa foi uma homenagem que fiz à visita do grande maestro alemão Kurt Masur (1927-2015) ao Rio, em 2007, quando ele veio reger a Sinfônica Brasileira. Ele tinha uma história de amor bonita, da primeira vez em que veio ao Brasil, nos anos 1970, quando ele conheceu uma musicista japonesa (a violista Tomoko Sakurai) que tocava na Sinfônica. Eles se apaixonaram e ela acabou virando a última esposa dele — conta Yamandu. — Na ocasião da visita em 2007, teve uma festa de aniversário de casamento deles no Copacabana Palace. No dia anterior, resolvi compor essa música para dar de presente aos dois, uma música bem romântica, com alusão ao que eles teriam vivido no Rio, ao que que esses encontros trazem para a gente.

Violonista de formação clássica, Elodie escreveu a partitura, que os dois entregaram ao casal Masur no dia seguinte (“foi mais por falta de presente”, diverte-se a venezuelana criada em Paris).

União frutífera

Encerrado em 2023, o casamento do gaúcho com Elodie durou 16 anos e teve como frutos dois filhos (Benício, de 12 anos, e Horácio, de 10) e, agora, “Helping hands”. Este é, por incrível que pareça, o primeiro disco dos dois violonistas, que há cinco anos foram viver em Lisboa — cidade que tem servido de trampolim para a carreira internacional cada vez mais bem-sucedida de Yamandu — e que hoje, mesmo separados, ainda moram na mesma rua.

— De toda essa história, a música fica — garante o violonista, de 44 anos, prodígio do instrumento, nascido em uma família de músicos populares de Passo Fundo (RS). — A gente tocou muito pouco juntos nesses tempos em que estivemos juntos, não tem por que não fazer um show de lançamento de “Helping hands”.

Elodie concorda:

— Acho muito bonito a gente poder viver isso, essa relação depois de separados, essa relação boa em torno da música. Isso é maior do que tudo — acredita ela, que ano passado lançou o álbum solo “Luares” e agora desenvolve um projeto com a Orquestra de Câmara Inhotim.

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Para Yamandu, “Helping hands” é um retrato de tudo que ele e Elodie aprenderam um com o outro, além de mais uma tentativa “de quebrar o tabu de que o violão popular não consegue tocar com o violão clássico”.

— Quando a gente se conheceu, a Elodie era recém-formada no conservatório e eu, um músico totalmente popular. Nosso convívio acabou influenciando muito o segmento das nossas carreiras — conta o violonista. — Toda a concepção da música escrita, mais formal, está muito distante da forma popular como a gente toca, entendendo a harmonia das músicas e meio que fazendo na hora, mas com algum preparo, claro.

No álbum, ela toca a parte escrita das músicas e o gaúcho improvisa.

— Quer dizer, não é uma improvisação livre, é uma improvisação elaborada no sentido de que eu persigo o violão escrito dela e faço um violão complementar. “Helping hands” é um álbum que une duas escolas — resume ele.

Para Elodie, o disco é o registro de “um duo íntimo”.

— Ao longo dos anos, o Yamandu foi se fascinando por esse repertório clássico que não conhecia, e eu conheci uma música popular, brasileira. Esse disco é a nossa história de complementaridade. Eu fixo uma coisa, e ele segue mais livre — explica ela, que começou a estudar violão clássico aos 7 anos, mas logo se interessou pela música latino-americana.

Ilhados na pandemia

“Helping hands” nasceu de maneira bem natural: durante a pandemia, ilhados em casa, Yamandu e Elodie começaram a tocar juntos.

— A gente foi estudar um repertório novo, até como uma maneira de manter a sobrevivência mental. Foi um jeito de estabelecer metas e aproveitar o tempo, porque eu estava sempre muito envolvido com as minhas coisas, e ela com as dela — explica ele.

Ao longo do processo, os dois gravaram vídeos para o YouTube que depois acabaram virando áudios do álbum. Quer dizer, parte deles.

— Depois vimos que tinham umas cinco ou seis sem condições técnicas de entrar no disco, aí a gente entrou no estúdio de novo para regravá-las — observa Yamandu.

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