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SAÚDE

Desligar um gene pode impedir ganho de peso, descobrem cientistas

31 de janeiro, 2024

► Em testes com animais, pesquisadores identificaram mecanismo que interfere na capacidade das mitocôndrias de queimar a gordura e que ele pode ser revertido com […]

Desligar um gene pode impedir ganho de peso, descobrem cientistas
Redes de fast food também fazem promoções de Black Friday — Foto: Reprodução

► Em testes com animais, pesquisadores identificaram mecanismo que interfere na capacidade das mitocôndrias de queimar a gordura e que ele pode ser revertido com edição genética

Cientistas da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, identificaram que uma dieta rica em alimentos gordurosos afeta a capacidade das mitocôndrias de queimar a gordura, favorecendo ainda mais o ganho de peso. Num passo adiante, descobriram que existe um único gene que controla esse processo.

Em testes com camundongos, os pesquisadores deletaram esse gene, o que fez com que os animais passassem a não ganhar peso mesmo mantendo a alimentação gordurosa. Os achados, afirmam, podem levar a novos tipos de tratamento para a obesidade em humanos e métodos de prevenção.

“A sobrecarga calórica causada por comer demais pode levar ao ganho de peso e também desencadeia uma cascata metabólica que reduz a queima de energia, piorando ainda mais a obesidade. O gene que identificamos é uma parte crítica da transição do peso saudável para a obesidade”, diz Alan Saltiel, professor do departamento de Medicina da universidade e autor do estudo, em comunicado.

O trabalho em que detalham a descoberta foi publicado na revista científica Nature Metabolism nesta semana. Os responsáveis citam a importância de desvendar os mecanismos genéticos que envolvem a obesidade no momento em que a doença cresce de forma alarmante. Até 2035, o Atlas Mundial da Obesidade prevê que 24% da população mundial, ou seja, 1 em cada 4 indivíduos, será obeso.

Os cientistas explicam que já se sabia que a habilidade das células de queimar a gordura começa a falhar em pessoas com obesidade, e que por isso muitos pacientes têm uma dificuldade ainda maior do que pessoas saudáveis para eliminar o peso em excesso. Como essas anomalias metabólicas têm início, no entanto, é um mistério que envolve a doença.

Mas, agora, ao menos parte dessa pergunta começa a ser respondida com a pesquisa dos pesquisadores americanos. No experimento, eles alimentaram camundongos com dietas ricas em gorduras e monitoraram as mitocôndrias das células do tecido adiposo. As mitocôndrias são estruturas dentro das células que produzem energia e, para isso, ajudam a queimar a gordura.

O que eles descobriram é que, depois da alimentação gordurosa, algumas mitocôndrias dessas células começaram a se fragmentar em pedaços menores e ineficientes que, consequentemente, queimavam menos calorias. O achado já foi surpreendente, contam os pesquisadores, mas o trabalho não parou por aí.

Eles identificaram que esse efeito metabólico era desencadeado pela atividade de uma única molécula chamado RaIA. Ela já era conhecida por ter diversas funções na célula, entre elas a de quebrar mitocôndrias que não estejam funcionando adequadamente. Agora, os cientistas descobriram que, quando a RaIA está hiperativa, ela interfere até mesmo nas mitocôndrias saudáveis, desencadeando os mecanismos metabólicos associados à obesidade.

“Em essência, a ativação crônica de RaIA parece desempenhar um papel crítico na supressão do gasto energético no tecido adiposo obeso. Ao compreender este mecanismo, estamos um passo mais perto de desenvolver terapias específicas que possam abordar o ganho de peso e as disfunções metabólicas associadas, aumentando a queima de gordura”, continua o especialista.

Para testar essa relação, os cientistas decidiram fazer um experimento: deletar o gene que produz a RaIA para avaliar se isso impactaria no desenvolvimento da obesidade. Como consequência, eles observaram que os animais que passaram pela edição genética ficaram protegidos contra o ganho de peso da dieta gordurosa – embora a alimentação não tenha mudado.

Os pesquisadores explicam que algumas das proteínas afetadas pela RaIA nos camundongos são análogas a proteínas humanas associadas à obesidade e à resistência à insulina. Por isso, esperam que mecanismos semelhantes estejam envolvidos na doença em seres humanos, o que pode abrir um novo caminho de tratamento e métodos de prevenção.

“A comparação direta entre a biologia fundamental que descobrimos e os resultados clínicos reais sublinha a relevância das descobertas para os seres humanos e sugere que podemos ajudar a tratar ou prevenir a obesidade, visando a via RaIA com novas terapias. Nós estamos apenas começando a compreender o complexo metabolismo desta doença, mas as possibilidades futuras são emocionantes”, afirma Saltiel.

(Agência O Globo)

Legenda da foto: Redes de fast food também fazem promoções de Black Friday — Foto: Reprodução