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Filha de Fernanda Young, Cecilia Madonna estreia como escritora e relembra perda da mãe

31 de janeiro, 2024

► Autora diz que ‘ama’ ser nepobaby, mas prefere se distanciar da sombra dos pais famosos: ‘Não estou aqui para ser uma continuação de ninguém’ […]

Filha de Fernanda Young, Cecilia Madonna estreia como escritora e relembra perda da mãe
Cecilia Madonna Young — Foto: Reprodução/Instagram @ceciliamyoung

► Autora diz que ‘ama’ ser nepobaby, mas prefere se distanciar da sombra dos pais famosos: ‘Não estou aqui para ser uma continuação de ninguém’

“Preciso que você goste de mim”, implora Cecilia Madonna Young, na quarta capa da sua primeiro livro, “Tudo o que posso te contar” (Record). A frase soa como um cartão de apresentações. A autora de 23 anos coloca a nu sofrimentos atemporais — e outros que parecem próprios da geração Z. Entre ilustrações, colagens e monólogos, fala sobre pensamentos suicidas, antidepressivos, anorexia, o arrependimento de se expor demais nas redes e os problemas com a autoestima.

A obra, que pode ser lida como um diário íntimo, é definida por ela como “jornalismo investigativo sobre minha própria pessoa”. Em algumas passagens, recupera lembranças da mãe, a escritora e roteirista Fernanda Young, morta precocemente em 2019, aos 49 anos, vítima uma crise de asma seguida de uma parada cardíaca.

— O problema de lançar um livro é que antes eu conseguia controlar se as pessoas gostavam de mim ou não — diz a escritora estreante. — Agora, não sei quantas pessoas vão ler, vão gostar ou não gostar. Estou tendo que aceitar o fato de que isso não está no meu controle. Eu me importo muito, demais até. Acho que parte da minha tristeza é achar que todo mundo me odeia toda hora.

O sentimento vem de traumas infantis, conta ela. Cecilia lembra no livro que era uma “criança gordinha”, sempre alvo de piadas. Na educação física era escolhida sempre por último. Na área romântica, também ficava para trás.

Mas parte da insegurança também tem a ver com a pressão de repetir o sucesso da mãe. Fernanda Young não era apenas uma autora de sucesso, era também uma figura midiática querida do público. Ela é lembrada principalmente por ser co-autora da série “Os normais” e por livros como “A mão esquerda de Vênus”. Também foi uma das apresentadoras do programa “Saia justa”.

— É uma pressão comigo mesmo e com ela, como se ela estivesse me assistindo ainda — diz a escritora, que é formada em comunicação e trabalhou um tempo com jornalismo de moda. — Não sei se ela estaria orgulhosa de mim agora. As mensagens que recebo dos fãs dela, quando eles só falam dela e eliminam a minha existência me deixam nervosas. Eu não estou aqui para fazer eles gostarem de mim. Se gostarem, que ótimo, mas eu não sou uma continuação de ninguém.

Só recentemente Cecilia teve coragem de ler um livro da mãe. A identificação veio de imediato.

— Cheguei a marcar algumas passagens e pensava “Meu Deus, parece que fui eu que escrevi isso!” — lembra.

Ela conta que o pai, o também escritor e roteirista Alexandre Machado (co-autor de “Os normais”), vive apontando semelhança entre as duas:

— Ele sempre diz que reajo igual a ela. A gente tem os mesmos distúrbios clínicos. De certa maneira os temas que exploramos são os mesmos, o jeito de sentir é o mesmo. Mas não quero ser a mesma pessoa que ela.

Ainda que faça o possível para se descolar da mãe, Cecilia não nega que é uma “nepobaby” — termo que ganhou popularidade nas redes designando os herdeiros de pessoas famosas.

— Eu sei que sou e falo mesmo — reforça. — Amo ser nepobaby.

O seu pai até tentou ler o livro, mas parou na primeira página porque estava batendo forte demais. “Tudo o que posso te contar”, afinal, revisita memórias dolorosas. Uma das primeiras lembranças de Cecilia sobre a morte da mãe é uma conversa na mesa com a sua irmã gêmea, Estela May. Enquanto comiam, chegaram a uma conclusão consoladora: “Que bom que o tempo passa, né?”

— Pensei que nunca ia passar, mas que iria passar mais um tempo — diz Cecilia. — Essa frase prendeu muito bem comigo. Rever isso doeu, mas de uma maneira diferente do que quando escrevi na época. Tem muitos textos que eu tinha vergonha e raiva de mim. Queria apagar 50 por cento do livro e pensava: “Não me façam publicar isso”.

(Agência O Globo) — Foto: Reprodução/Instagram @ceciliamyoung

Legenda da foto: Cecilia Madonna Young