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JOGO ABERTO

10 de outubro, 2023

A cor da pele ainda incomoda As principais TVs e portais já tinham escancarado a imagem, na sexta-feira passada. No sábado, foram os jornais que […]

JOGO ABERTO

A cor da pele ainda incomoda

As principais TVs e portais já tinham escancarado a imagem, na sexta-feira passada. No sábado, foram os jornais que mostraram a foto de três ginastas negras no mesmo pódio da prova “individual geral” do Mundial de Ginástica Artística, na Antuérpia, Bélgica.

Importância

O feito das nortes-americanas Shilese Jones (ouro) e Simone Biles (bronze) e da brasileira Rebeca Andrade (prata) surpreendeu e se tornou notícia “valorizada” por serem negras, como se esse tipo de pódio fosse privilégio da raça branca. Ou seja, ainda convivemos com a importância da cor da pele para dar mais destaque à notícia. São humanas! Basta!

Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Questão social

Espanto seria se tivéssemos uma negra ou um negro num valorizado pódio do tênis, ou no hipismo; um nadador ou nadadora, considerando-se o seletivo acesso aos clubes sociais dessas modalidades, onde estão as melhores piscinas. A raça negra fica fora desses pódios porque foi “eliminada”, antes de tudo, por questões sociais e econômicas, mas não pela falta de capacidade de atletas. No Mundial de Ginástica, na Antuérpia (Bélgica), Rebeca (foto) ganhou cinco medalhas: ouro (individual no salto), três de prata (equipe, individual geral e no solo) e uma de bronze (individual na trave).

Pesquisa

O biólogo, geneticista norte-americano, Alan Templeton, comparou mais de oito mil de várias partes do mundo, entre elas índios Ianomamis e Xavantes, do Brasil. Disse ele: “As diferenças genéticas entre grupos das mais distintas etnias são insignificantes”. Disse mais: “Encontrar um índio brasileiro não miscigenado ou mesmo um alemão puro da raça ariana é tarefa quase impossível.

Classificação

Em entrevista à imprensa da Universidade Federal de Minas Gerais, Templeton afirmou: “Curiosamente, foi aqui no Brasil que há mais de 20 anos eu senti – digo senti porque ainda não era algo científico, mas emocional mesmo – o quanto é arbitrária a divisão dos seres humanos em raças. Um professor da Universidade de São Paulo me contou que, numa viagem aos Estados Unidos, percebeu que lá, diferentemente do Brasil, as pessoas morenas ou pardas são consideradas negras.

 

“Foi aí que comecei a compreender que a classificação de pessoas em raças é feita a partir de uma vivência cultural”

 

Explicação

Disse mais o pesquisador:Os genes, unidades que carregam todas as informações sobre o organismo de um ser humano, determinam as características físicas. Mas as partículas que definem a cor do cabelo ou o formato do rosto são tão poucas que perdem seu significado quando comparadas ao número total de genes. E concluiu Alan Templeton:

“Não importa se há diferenças na cor da pele, nas feições do rosto, na estatura ou origem geográfica. Geneticamente somos todos iguais”

 

Todos são iguais

Seja por preceito religioso – “somos todos filhos de Deus” – seja por ordem constitucional – “todos são iguais perante a lei – a cor da pele entre brancos e negros ainda sustenta discussões que não se admite mais. Deveríamos entender que três atletas negras estarem no mesmo pódio é tão normal quanto três brancas recebendo medalhas. Nesse último caso, com certeza seriam citados apenas os nomes. A valorização da notícia por essas diferenças indigna. Mas não restam dúvidas de que os governos que se sucedem ainda não conseguiram dar rumos às oportunidades esportivas para “todos os iguais”.

Oportunidades

O resultado da ginasta brasileira, especificamente, não é “milagre”. Deve-se, principalmente, à oportunidade que ela teve de frequentar projetos da Prefeitura de Guarulhos (SP), antes de se tornar atleta do Flamengo. Como já ocorreu com atletas do judô, do atletismo e outros. Mas esses projetos não se repetem fartamente no tênis, na natação, hipismo, surfe… ainda reservados à elite social. Essa é a questão. O esporte continua elitizado por modalidades e esse deve ser o debate.

 

JOSÉ CRUZ
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