Brasília Agora


DESTAQUE

Alexei Navalny, opositor de Putin morto na prisão

16 de fevereiro, 2024 / Por: Agência O Globo

Segundo Serviço Penitenciário Federal, ele teria passado mal após uma caminhada e perdido a consciência ‘quase imediatamente’

Alexei Navalny, opositor de Putin morto na prisão
Alexei Navalny, líder da oposição Rússia morreu aso 47 anos em uma prisão no Círculo Polar Ártico, informou nesta sexta-feira (16/2) o serviço penitenciário local.Conhecido por ser o crítico mais veemente do presidente Vladimir Putin, Alexey condenado a 19 anos de prisão por condenações comundidade internacional suspeita de motivação politica foto RS /via fotos Publicas

Instantes depois de ouvir da juíza Natalya Repnikova a sentença de dois anos e oito meses de prisão em regime fechado, creditada à violação dos termos da liberdade condicional, Alexei Navalny olhou para sua esposa, Yulia, e disse que “tudo ficaria bem”.

Dali seguiria para uma colônia penal nos arredores do Moscou. O mais ferrenho opositor de Vladimir Putin, Navalny fez uma aposta alta ao regressar a Moscou depois de ser envenenado em agosto de 2020 e passar por um tratamento na Alemanha. A prisão era esperada, mas a iminência de seu desaparecimento da vida pública jogou o movimento oposicionista russo e mesmo o governo em terreno desconhecido.

Ao contrário de outras figuras que dominam a política russa, Navalny não possui laços com oligarquias ou famílias tradicionais nem fez sua base nos tempos da União Soviética. Nascido nos arredores de Moscou e filho de pequenos empresários, ele passou alguns verões na Ucrânia, de onde vinha parte de sua família e onde aprendeu o idioma local.

No final dos anos 1990, formou-se em Direito na Universidade Russa da Amizade dos Povos, instituição criada nos anos 1960 e que teve entre seus alunos o líder palestino Mahmoud Abbas e o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. Navalny possui ainda formação em finanças, um conhecimento que se mostrou útil em suas incursões no ativismo político.

Alexei Navalny fez seu nome ao expor a corrupção oficial, rotulando a Rússia Unida, legenda de Putin, como “o partido dos vigaristas e ladrões”. Em 2006, começou a escrever um blog sobre corrupção focado nas grandes corporações que comandavam a economia russa. Em vez de se basear em denúncias anônimas, utilizou uma estratégia pouco usual: investiu 300 mil rublos (o equivalente na época a R$ 21 mil) em ações de empresas do setor petrolífero.

Assim, pressionava pela liberação dos números das operações e tinha acesso a informações que usaria em suas postagens. Um dos casos mais emblemáticos foi a denúncia de um desvio de US$ 4 bilhões na operadora de oleodutos Transneft, ocorrido em 2007 e revelado por Navalny em 2010. Apesar da documentação, o caso, que chegou ao conhecimento de Vladimir Putin, não resultou em condenações ou popularidade positiva.“Esse lado financeiro dele teve um impacto mais negativo que positivo”, declarou a ÉPOCA Angelo Segrillo, professor de história na Universidade de São Paulo (USP). “Ele foi acusado de querer ganhar dinheiro com essa estratégia.”

BS20240216113217.1
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/02/16/quem-e-alexei-navalny-opositor-de-putin-morto-na-prisao.ghtml

Como é a prisão no Ártico onde principal opositor de Putin morreu

O opositor russo Alexei Navalny passou mal durante uma campanha pela colônia penal em Kharp, no Ártico russo, e acabou morrendo, de acordo com o serviço penitenciário da Rússia. Principal rival político do presidente Vladimir Putin, Navalny estava na colônia penal número 3, na localidade de Kharp, anunciou a porta-voz do ativista, Kira Yarmish, na rede social X (antigo Twitter).

“Navalny sentiu-se mal após uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência. A equipe médica chegou imediatamente e uma equipe de ambulância foi chamada. Foram realizadas medidas de reanimação que não produziram resultados positivos. Os paramédicos confirmaram a morte do condenado. As causas da morte estão sendo apuradas”, disse o comunicado oficial.

A viagem até sua nova prisão durou 20 dias e foi “bastante cansativa”, declarou ele na rede X. “Mas estou de bom humor, como o Papai Noel”, acrescentou, em referência à barba que cresceu durante a viagem e à roupa de inverno que usa, adaptada às temperaturas polares. “De qualquer forma, não se preocupem comigo. Estou bem. Estou aliviado por finalmente ter chegado”.

Navalny, um ativista anticorrupção e um dos principais adversários políticos do presidente Vladimir Putin, cumpre pena de 19 anos de prisão por “extremismo”. Ele foi detido em janeiro de 2021 ao retornar à Rússia, depois de se recuperar na Alemanha de um envenenamento que, segundo ele, foi planejado pelo Kremlin.

Os parentes e colaboradores não tinham notícias de Navalny, de 47 anos, desde o início de dezembro. Até então, ele estava detido na colônia da região de Vladimir, a 250 quilômetros de Moscou.

Kharp, uma pequena cidade de 5 mil habitantes, situa-se em Yamalia-Nenetsia, uma região remota no norte da Rússia. A localidade fica além do Círculo Polar Ártico e abriga várias colônias penais. Um dos principais colaboradores de Navalny, Ivan Zhdanov, afirmou que esta é “uma das colônias mais remotas” da Rússia. As condições lá são “difíceis”, escreveu na rede X.

“As condições lá são duras, com um regime especial na zona de permafrost” e muito pouco contato com o mundo exterior, disse Jdanov. O permafrost é uma camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada.

Cadeia para ‘penas perpétuas’

De acordo com o veredito de “extremismo” pronunciado contra ele, o opositor tem de cumprir a pena em uma colônia de “regime especial”. Nessa categoria, a mais gravosa na Rússia e normalmente destinada aos condenados à prisão perpétua ou aos detentos mais perigosos, as condições de detenção são mais duras.

“Desde o início, ficou claro que as autoridades queriam isolar Alexei, especialmente antes da eleição presidencial”, prevista para março de 2024, acrescentou Zhdanov.

De acordo com a agência Reuters, a nova prisão de Navalny é conhecida como colônia “Polar Wolf” (“Lobo Polar) e considerada uma das prisões mais difíceis de se ficar na Rússia. Os invernos são rigorosos, com temperaturas que rodeiam os 30 graus Celsius negativos.

Localizada às margens do rio Sob, a Polar Wolf é uma das sete colônias de trabalho corretivo de segurança máxima operadas pelo Serviço Penitenciário Federal para condenados à prisão perpétua, status este que ganhou em 2004, segundo o site Atlas News. O portal afirma ainda que a prisão é composta por “caldeira, padaria, usina a diesel, cantina e departamentos de produção para os presos fazerem blocos de concreto e brita”.

Ainda segundo o site, há também oficinas de marmoraria, costura, alfaiataria e carpintaria. Os condenados podem receber um pacote por ano e podem passear em uma pequena jaula uma vez por dia durante 90 minutos.

“[Os detidos] Possuem cama, mesa, criado-mudo, prateleira fechada onde podem guardar alimentos, prateleira para produtos de higiene pessoal, caixa d’água, cabide e vaso sanitário. Os presos não podem deitar na cama durante o dia e não podem conversar com outros presos. Todos os movimentos são realizados algemados”, descreve o portal.

A prisão foi fundada em 1960 como parte do sistema de campos de trabalhos forçados soviéticos, de acordo com o jornal Moskovsky Komsomolets, destaca a Reuters.

As transferências de um centro penitenciário para outro na Rússia podem levar várias semanas em viagens de trem, com várias etapas. E as famílias dos detentos não recebem informações durante o período.

A falta de notícias sobre Navalny gerou preocupação em vários países ocidentais e na ONU.

O movimento de Navalny foi minado de maneira metódica pelas autoridades russas nos últimos anos, com vários de seus colaboradores e aliados sendo presos, ou indo para o exílio.

As autoridades iniciaram novos processos judiciais por “vandalismo” contra o opositor, o que pode resultar em mais três anos de detenção.

Nesse cenário, com a oposição quase inexistente e a repressão intensa a qualquer voz crítica, Putin aspira sem problemas a um novo mandato de seis anos na Presidência da Rússia nas eleições de março de 2024.


BS20240216115012.1
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/02/16/permanentemente-congelada-como-e-a-prisao-no-artico-onde-principal-opositor-de-putin-morreu.ghtml

Líquido verde e toxina da era soviética: relembre outras tentativas de matar opositor de Putin, Alexei Navalny

Alexei Navalny, principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, morreu aos 47 anos na prisão, anunciou o Serviço Penitenciário Federal nesta sexta-feira. Navalny era uma das maiores ameaças à legitimidade do governo Putin antes de ser preso. Além de organizar manifestações para protestar as ações do presidente, ele denunciava corrupção do Kremlin e de empresas russas nas redes sociais.

Antes de chegar à colônia penal em Kharp, no Ártico russo, onde cumpria pena de 19 anos de prisão por “extremismo”, Navalny foi alvo de diversos ataques que levantaram suspeitas contra o Kremlin. Em 2017, o opositor afirmou ter sido atacado por um homem desconhecido com um líquido verde, fazendo com que perdesse 80% da visão de um olho e sofresse queimaduras químicas.

Em 2019, Navalny afirmou ter sido envenenado com uma substância que lhe causou uma grave reação alérgica durante uma de suas 13 passagens pela prisão. Um ano depois, o opositor ganhou as manchetes mais uma vez quando foi envenenado mais uma vez.

Ele passou mal no avião ao retornar para Moscou após alguns dias na Sibéria, onde participava da campanha para as eleições locais e regionais do dia 13 de setembro. Acredita-se que seu chá, a única coisa que ingeriu naquele dia, tenha sido contaminado no aeroporto.

O hospital alemão onde Navalny foi internado afirmou ter encontrado “sinais de envenenamento” em seu corpo, confirmando as suspeitas de seus aliados. O dissidente foi contaminado com Novichok — uma toxina da era soviética. Uma investigação independente da CNN e do grupo Bellingcat acusa o Serviço de Segurança Russo (FSB) de estar por trás da tentativa de assassinato. Putin negou a acusação e afirmou que, se fosse o caso, os agentes teriam “terminado o serviço”

O ativista anticorrupção de 47 anos era um dos poucos nomes de uma oposição real a Putin na Rússia. Ele foi preso logo que chegou ao país após passar pelo tratamento médico na Alemanha. Na época, apoiadores e a equipe do político insistiam que tanto o envenenamento quanto a prisão tiveram motivações políticas.

Em janeiro, Navalny havia aparecido em imagens pela primeira vez desde que foi transferido para uma colônia penal em Kharp, no Ártico russo, em dezembro. Na época, a equipe dele tinha ficado três semanas sem receber notícias, e pouco se sabia sobre seu estado de saúde. Há pouco mais de um mês, ele participou de uma audiência da Suprema Corte que avaliava suas queixas sobre as condições de sua detenção na Sibéria. Ele afirmou, na ocasião, que era submetido a temperaturas “congelantes”, que chegavam a 32 graus negativos.

Cadeia para ‘penas perpétuas’

De acordo com o veredito de “extremismo” pronunciado contra ele, o opositor tem de cumprir a pena em uma colônia de “regime especial”. Nessa categoria, a mais gravosa na Rússia e normalmente destinada aos condenados à prisão perpétua ou aos detentos mais perigosos, as condições de detenção são mais duras.

“Desde o início, ficou claro que as autoridades queriam isolar Alexei, especialmente antes da eleição presidencial”, prevista para março de 2024, acrescentou Zhdanov.

De acordo com a agência Reuters, a nova prisão de Navalny é conhecida como colônia “Polar Wolf” (“Lobo Polar”) e considerada uma das prisões mais difíceis de se ficar na Rússia. Os invernos são rigorosos, e a previsão é que as temperaturas caiam a cerca de 28 graus Celsius negativos na próxima semana.


BS20240216124752.1
https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/02/16/liquido-verde-e-toxina-da-era-sovietica-relembre-outras-tentativas-de-matar-opositor-de-putin-alexei-navalny.ghtml