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Trabalho forçado e exploração sexual movimentam mais de R$ 1 bi por ano em todo o mundo, diz relatório da OIT

22 de março, 2024 / Por: Agência O Globo

O estudo mostra que quatro em cada cinco pessoas encontradas em condição de exploração sexual são meninas ou mulheres

Trabalho forçado e exploração sexual movimentam mais de R$ 1 bi por ano em todo o mundo, diz relatório da OIT
Mulheres em um bairro de prostituição do México, onde trabalham cerca de 1.500 mulheres — Foto: Reprodução/TV BBC Brasil

A exploração sexual é uma atividade ilegal, execrável, visada, mas muito lucrativa. E responde por uma parcela significativa dos casos de trabalho forçado no mundo. A cada ano, essa atividade criminosa movimenta US$ 173 bilhões (R$ 860 bilhões) globalmente.

A informação consta da nova edição do relatório “Lucros e Pobreza: Aspectos Econômicos do Trabalho Forçado”, publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O estudo calcula em US$ 236 bilhões anuais o total de benefícios obtidos por aqueles que obrigam pessoas a trabalhar de maneira forçada. A exploração sexual é uma dessas manifestações, sendo responsável por três quartos do montante final, embora suas vítimas representem apenas um terço das pessoas afetadas.

“Há uma necessidade urgente de investir em medidas de fiscalização para coibir os lucros do trabalho forçado e levar os responsáveis à justiça”, diz o texto publicado na terça-feira.

Os novos resultados superaram amplamente os números anteriores, divulgados há dez anos. Ao longo da última década, os lucros ilegais provenientes do trabalho forçado aumentaram em US$ 67 bilhões (ou 37%). Em 2021, último ano considerado para a comparação, 27,6 milhões de pessoas estavam nessa situação, alerta o relatório.

Entre 2016 e 2021, o número de trabalhadores forçados, diz o relatório, aumentou em 2,7 milhões. Do total de pessoas afetadas, 7,4 milhões foram exploradas sexualmente.

Como a exploração sexual afeta quase que exclusivamente as mulheres, na divisão por gênero, quatro em cada cinco pessoas que estão presas nessas situações diariamente são meninas ou mulheres. Apesar de não chegar nem a um terço do número de pessoas afetadas, as vítimas de exploração sexual são as que geram mais lucro para os traficantes e criminosos.


A OIT estima que as máfias obtêm US$ 27.252 de cada uma dessas mulheres.


Depois da exploração sexual, o setor que concentra os maiores lucros anuais do trabalho forçado é a indústria (US$ 35 bilhões); seguido por serviços (US$ 20,8 bilhões); agricultura (US$ 5 bilhões); e trabalho doméstico (US$ 2,6 bilhões), outro nicho de emprego dominado por mulheres.

Fenômeno global

No entanto, os benefícios são distribuídos de forma desigual de acordo com o continente em que ocorre: a contribuição é maior na Europa e na Ásia Central (US$ 84 bilhões); à frente da Ásia e do Pacífico (US$ 62 bilhões); das Américas (US$ 52 bilhões); da África (US$ 20 bilhões) e dos Estados Árabes (US$ 18 bilhões).

O relatório da OIT determina que o trabalho forçado é “todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo sob a ameaça de qualquer penalidade e para o qual esse indivíduo não se oferece voluntariamente”.

Essa penalidade imposta pode ocorrer “em qualquer fase do ciclo de trabalho”. Isso significa tanto no momento do recrutamento (forçando alguém a aceitar um trabalho contra sua vontade); durante o emprego (obrigando-o a trabalhar e/ou viver em condições com as quais não concorda); ou no momento da separação do emprego (obrigando-o a permanecer nele).

Entre as práticas intimidadoras, a retenção sistemática e deliberada do salário (36%) e a ameaça de demissão (21%) são as mais comuns.

“O trabalho forçado perpetua os ciclos de pobreza e exploração, e viola o cerne da dignidade humana”, adverte Gilbert F. Houngbo, diretor-geral da OIT. “A comunidade internacional deve unir-se urgentemente para adotar medidas que acabem com esta injustiça, protejam os direitos dos trabalhadores e defendam os princípios de justiça e igualdade para todos”.

O relatório da OIT, sediada em Genebra, destaca a necessidade de investir “em medidas de fiscalização para interromper os fluxos de lucros ilegais e responsabilizar os infratores”. Ele também pede o “fortalecimento das estruturas legais, treinamento de funcionários responsáveis pela aplicação da lei”, “expansão da inspeção do trabalho para setores de alto risco” e “melhoria da coordenação entre a aplicação da lei trabalhista e criminal”.


BS20240322030015.1 – https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/03/22/trabalho-forcado-e-exploracao-sexual-movimentam-mais-de-r-1-bi-por-ano-em-todo-o-mundo-diz-relatorio-da-oit.ghtml