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O esquema do ‘radiolão’ e o veredito da imprensa em um caso que nem foi investigado

29 de outubro, 2022

Confira o desenrolar do que pode ser o maior escândalo das eleições brasileiras, mas que teve investigação negada pelo TSE O escândalo que poderia ser […]

O esquema do ‘radiolão’ e o veredito da imprensa em um caso que nem foi investigado
Marcello Casal JrAgência Brasil

Confira o desenrolar do que pode ser o maior escândalo das eleições brasileiras, mas que teve investigação negada pelo TSE

O escândalo que poderia ser batizado de “radiolão” — a exemplo de outros como o “mensalão” e  o “petrolão” nos quais o PT está envolvido até o pescoço — teve início na última segunda-feira (24), quando a campanha de Jair Bolsonaro afirmou que, nas duas últimas semanas, teve 154 mil inserções de rádio a menos que a campanha de seu adversário.

Na própria segunda, a assessoria jurídica do presidente entra com uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O ministro e presidente da Corte eleitoral, Alexandre de Moraes, dá 24 horas para que a defesa de Bolsonaro apresente “provas e/ou documentos sérios que comprovem sua alegação, sob pena de indeferimento da petição inicial por inépcia e determinação de instauração de inquérito para apuração de crime eleitoral praticado pelos autores”.

No dia seguinte (terça, 25), cumprindo o prazo estabelecido, a equipe jurídica de Bolsonaro apresenta um relatório com mais informações sobre a denúncia, incluindo um link público do Google Drive que dá acesso a uma planilha de horários com uma amostra de oito rádios que, de 7 a 14 de outubro, veicularam 730 inserções a menos para a campanha de Bolsonaro.

“Para que se aquilate a gravidade da irregularidade noticiada, a título exemplificativo, pôde-se comprovar, em pequena amostragem de oito rádios (nominalmente referidas), em apenas uma semana, significativa discrepância de 730 inserções, em desfavor da campanha do candidato peticionário”, afirma a defesa do presidente.

Na quarta-feira (26), coincidência ou não, o TSE exonera o servidor responsável pelas inserções de propaganda eleitoral, Alexandre Gomes Machado. Não fica claro se a atitude se deu em razão da denúncia, pois a Corte afirma apenas que “faz parte das alterações que o presidente da Corte, Alexandre de Moraes, tem promovido em sua equipe após assumir o cargo”.

No mesmo dia, parte da imprensa conduz o caso como “novo factoide criado por Bolsonaro” e “tese infundada”, enquanto o TSE divulga nota afirmando que “não é função do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) distribuir o material a ser veiculado no horário gratuito”. Dessa forma, Alexandre de Moraes nega o pedido de investigação do caso, e o juiz-eleitoral Marlon Reis afirma que “é pouco provável que seja possível fazer alguma apuração do fato faltando tão poucos dias para as eleições”.

A sequência de acontecimentos nos mostra claramente que parte da mídia já havia dado seu veredito em um caso que nem sequer foi investigado. Por outro lado, ainda que houvesse investigação, não há tempo hábil para que qualquer providência seja tomada a fim de reparar o dano causado à campanha de Bolsonaro. E, se não é função do TSE distribuir o material, não seria seu papel, no mínimo, investigar a denúncia?

Por que vemos uma agilidade olímpica por parte do TSE para conduzir denúncias feitas pela campanha do PT, mas nenhum desejo de fazer o mesmo pelo outro lado? Por que vemos matérias jornalísticas sendo aceitas como “provas” de denúncias feitas pela esquerda, mas, neste caso, um relatório público com uma amostra da irregularidade não é suficiente?

Se isso tudo parece normal para você, saiba que esse duplo padrão que hoje lhe agrada, amanhã pode surtir o efeito contrário, pois nada disso tem a ver com justiça. Saiba que o “tarde demais” existe e que quem se exime de fazer sua própria escolha não terá como se eximir do resultado das escolhas dos outros.

 

  • Fonte: PATRICIA LAGES | Do R7