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POLÍTICA

Padilha diz que não vai ‘descer ao nível’ de Lira e cita Emicida: ‘Rancor é igual tumor’

12 de abril, 2024 / Por: Agência O Globo

Declaração do ministro das Relações Institucionais foi em resposta ao presidente da Câmara, que o chamou de ‘incompetente’

Padilha diz que não vai ‘descer ao nível’ de Lira e cita Emicida: ‘Rancor é igual tumor’
O ministro de Relações Institucionais Alexandre Padilha - Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

O ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha, atacado pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) nesta quinta-feira, rebateu as falas e declarou que não vai “descer ao nível” do deputado, que o chamou de “incompetente” e “desafeto pessoal”. Responsável pela articulação política do governo, Padilha ainda disse não guardar rancor do parlamentar.

— Sinceramente, não vou descer a esse nível. Sou filho de uma alagoana arretada que sempre disse que, se um não quer, dois não brigam — afirmou Padilha nesta sexta-feira, antes do evento Líderes em Energia, no Rio.

As declarações de Lira ocorreram durante evento no Paraná, após ser perguntado sobre a votação que manteve o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) na prisão. Lira e Padilha estão rompidos desde o fim do ano passado. Hoje, Padilha classificou a relação do governo com o Congresso como um “sucesso” no ano passado, e citou Emicida.

— Quero repetir esse sucesso, não tenho nenhum tipo de rancor. A periferia de São Paulo produziu uma grande figura, o Emicida, que diz: ‘Mano, o rancor é igual tumor: envenena a raiz, quando a plateia só deseja ser feliz’. Sei que os deputados querem ser feliz e manter os bons resultados para o país — apontou.

Para o presidente da Câmara, o governo passou a “plantar” a tese de que ele trabalhou a favor da soltura de Brazão, preso no mês passado acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. Lira nega ter se movimentado para este fim. Na quarta-feira, por 277 a 129 votos, a Câmara manteve a detenção do parlamentar do Rio.

No mesmo dia, Padilha se manifestou logo cedo pela manutenção da prisão de Brazão. O governo orientou as bancadas a votarem para que o parlamentar continuasse preso. Ao longo do dia, auxiliares do presidente Lula entenderam que Lira não gostou do gesto.

As críticas públicas de Lira contra o ministro de Lula foram recebidas pelo Palácio do Planalto como uma demonstração de insatisfação do deputado pelo resultado do plenário. O presidente da Câmara afirmou que a votação foi “individual” e que não houve empenho seu convencimento de parlamentares para aderirem a soltura de Brazão. O Planalto, no entanto, interpreta a reação de Lira nesta quinta como um “recibo” de que, se houve movimentação do presidente da Câmara para soltar Brazão, o parlamentar saiu derrotado dessa articulação.

Questionado nesta sexta-feira sobre o aspecto que teria motivado as críticas de Lira, Padilha alegou de novo que não desceria o nível:

— O único ato que fizemos publicamente durante a votação desse tema foi afirmar que o governo defendia, sim, a manutenção da prisão desse parlamentar — disse Padilha, que complementou. — Lembrando que o governo inclusive tem uma ministra (Anielle Franco, da Igualdade Racial) que é irmã da Marielle.

A declaração desta sexta-feira foi a primeira do ministro após a o ataque de Lira. Ontem, logo após as críticas virem à tona, Padilha publicou um post no X (antigo Twitter) com um vídeo em que Lula faz uma série de elogios a ele e ao seu desempenho frente à articulação política. Lula chegou a dizer que Padilha iria “bater recorde” de tempo à frente do ministério.

Arthur Lira e Alexandre Padilha não conversam desde o final do 2023. Lira tem tratado de assuntos do governo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

Relembre o histórico de rusgas entre Lira e Padilha

  • Padilha “centralizador”: Em entrevista ao GLOBO, em abril do ano passado, Lira criticou Padilha ao reclamar da distribuição de emendas aos deputados. O presidente da Câmara o definiu como “centralizador”: “É um sujeito fino e educado, mas que tem tido dificuldades. Não tem se refletido em uma relação de satisfação boa”.
  • Diálogo cortado: Em outubro, Lira decidiu romper com Padilha. O estopim, segundo aliados do deputado, foi a edição de uma portaria do governo que prevê que a liberação de recursos apadrinhados por parlamentares na área da Saúde deve ser aprovada por um colegiado formado por gestores estaduais e municipais do SUS em cada estado.
  • Recado ao Planalto: Em discurso no início do ano legislativo, em fevereiro, diante de uma plateia de parlamentares e ministros, Lira cobrou o cumprimento de acordos firmados, disse que “errará” quem apostar na inércia da Casa por causa das eleições municipais e elevou a tensão na queda de braço pelo controle do Orçamento ao dizer que a peça orçamentária “pertence a todos e não apenas ao Executivo”.
  • Lula em campo: Lula chamou Lira em uma reunião para aparar arestas entre Congresso e Planalto. Segundo aliados de Lira, o deputado disse que o jogo “estava zerado” e que sua interlocução com o governo se daria com ministro da Casa Civil, Rui Costa, e via um canal mais direto com Lula. Padilha minimizou o rompimento entre eles. “O governo nunca rompeu qualquer diálogo e nunca romperá”. Apesar do movimento, Lira e Padilha ainda não se falam.

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