
VIVER A VIDA
A vida de Ana Loureiro já é uma festa, mas, no dia em que ela troca de idade, se transforma numa espécie de evento oficial no Lago Sul, onde reside.
Os desastres inconclusos e os médicos a flertar com a morte Tragédias anunciadas, … Semana difícil, seria trágica não se encerrasse antes de consumarem-se os maiores desastres que produziu. Começou com decisão do Superior Tribunal de Justiça que encontrou tecnicalidades para extinguir provas reunidas pelo Ministério Público e Justiça do Rio de Janeiro contra o …
Tragédias anunciadas, …
Semana difícil, seria trágica não se encerrasse antes de consumarem-se os maiores desastres que produziu. Começou com decisão do Superior Tribunal de Justiça que encontrou tecnicalidades para extinguir provas reunidas pelo Ministério Público e Justiça do Rio de Janeiro contra o senador Flávio Bolsonaro.
Quase ao mesmo tempo o Senado ameaçou acabar com a vinculação de recursos mínimos no orçamento para educação e saúde (em plena pandemia!), afora autorizar tunga nas suadas remunerações da maioria dos servidores públicos e sem minimamente tocar os ganhos extratexto dos famosos ‘marajás’ – eles concentram-se no Congresso e no Judiciário, mas o Executivo também premia os seus.
…quase consumadas e só…
Para não ficar atrás a Câmara dos Deputados tentou aprovar emenda constitucional a toque de caixa, sem debates nem consultas à sociedade, sequer cumprimento dos ritos legislativos que mandam criar comissão especial, ouvir sua Comissão de Constituição e Justiça e só então discutir e votar em plenário. E a tal emenda, dita ‘da imunidade parlamentar’, destina-se de fato a garantir impunidade a parlamentares.
…por enquanto adiadas
Sob liderança do mais convicto líder do centrão, hoje presidente da Câmara e viva simpatia de Bolsonaro e sua turma, os deputados que têm contas a acertar com a Justiça querem blindar-se preventivamente com inacreditáveis enxertos na Constituição, tudo escancaradamente casuísta. Ante a reação da opinião pública, fartamente verbalizada na imprensa, o chefe do centrão recuou e enviou a proposta a exame de comissão especial a ser criada, em respeito ao rito de tramitação das pecs.
Assim a semana fatídica termina a augurar desastres às próximas, não sem antes legar-nos um extemporâneo ‘manifesto’ de médicos ‘bolsominions’.
Anúncio “pela vida” …
Quase todos os maiores jornais brasileiros (exceção foi o O Estado de S. Paulo) publicaram no fim de semana passado um anúncio infame patrocinado por médicos bolsonaristas, a pretextar defesa da vida mas flertar com a morte – pois não são médicos bolsonaristas?
Defendem ‘tratamento precoce’ da covid-19 à base de doses maciças de hidroxicloroquina (muito maiores que as recomendadas para malária e outras afecções às quais se recomenda) além de ivermectina, outras drogas e sais minerais. Aconselham iniciar o tratamento logo aos primeiros sintomas ou até antes deles, preventivamente, por quem se sinta ameaçado. E isso poderia ser feito em casa, sem controle adequado – preconizam os tais médicos ‘pela vida’.
… flerta com a morte
Como tem sido adequadamente noticiado, o tal ‘tratamento precoce’ não tem apoio na ciência. Originou-se de um artigo publicado na França, a descrever experimentos que teriam permitido utilizá-lo mas foi rejeitado por precário, inconclusivo e a medicação descartada; no popular, tudo não passou de um logro.
Enquanto isso dezenas textos de fato científicos em publicações confiáveis concluíram que o coquetel (cloroquina etc.) não cura nem mitiga os efeitos da infecção pelo SarsCoV-2, muito menos a previne. Pior, as drogas só poderiam ser ministradas, em quaisquer tratamentos, sob rigoroso acompanhamento em hospitais, os pacientes devidamente monitorados – porque delas podem resultar efeitos colaterais graves, levando inclusive à morte.
Limites da liberdade
A pregação irresponsável desses médicos encantados com seu ‘mito’ faz tempo escapou do debate científico; em vez de revistas especializadas na área médica, haveria de frequentar o noticiário policial. Mas quero discutir aqui é uma questão anterior, nos domínios da comunicação de massas.
No estado democrático, pessoas e grupos pensam livremente e expressam o que pensam, mesmo a afrontar o pensamento dominante, o senso comum e até a ciência. Alguém acredita que a Terra é plana? Tudo bem. Mas se todos têm direito a opiniões, não podem criar os próprios fatos nem divulgá-los massivamente se tal implicar proselitismo de ideias cuja adoção cause danos sociais.
Vacina sim
A necessária vacinação que vai deter o avanço da covid-19 é paradigma no tema. Tem gente que é contra vacinas, genericamente e algumas pessoas recusam as que vêm da China, Rússia e… São Paulo; consta que temem inocular-se por vírus comunista, ou algo assim.
Afora ideologices, seria lícito? alguém que exerce um direito legítimo, o de não crer em vacinas, encetar campanhas contra vacinação?, sabendo-se que o vírus só se combate eficazmente mediante ampla imunização, que proteja algo entre dois terços e três quartos das pessoas?
A mim parece que até o hipotético indivíduo antivacinas haveria de ser forçado, ao menos induzido a imunizar-se, em nome do bem comum.
Atestado obrigatório
Vacinação obrigatória não é tema abstrato, a comportar posicionamentos religiosos, ideológicos tão radicais quanto irrelevantes e opiniões destrambelhadas de idiotas eventualmente no poder. Ela permeia a história recente, particularmente a do Brasil.
Até o terceiro quarto do século xx exigia-se, para obtenção de documentos, matrícula em escolas, contratação por empresas, inscrição em concursos, um singelo ‘atestado de vacina’, no caso contra varíola – o qual só caducou quando a doença foi erradicada. Ainda hoje muitas nações condicionam o ingresso de estrangeiros à comprovação de que estão vacinados contra uma ou várias afecções.
Foi por pouco
Dou testemunho. Há uns quatro anos Inês e eu quase fomos impedidos de embarcar para Bogotá e Cartagena, a iniciar a neta Alice (então com dez anos) nas belezas e mistérios do país-irmão, porque o governo da Colômbia exigia prova de imunização contra a febre amarela que ainda grassa por estas bandas.
Nosso embarque foi sustado até que atestássemos a vacinação da netinha, no que contamos com a flexibilidade e atualização dos agentes da Polícia Federal no Galeão, que emitiram comprovante a partir de foto do cartão de vacinas enviada de Brasília por celular.
Surtos insanos
Vacinas integram há mais de século o cotidiano brasileiro porém, mesmo assim, ainda emergem surtos de insanidade em que se as recusam. Para isto basta que um populista ignorante, eventualmente enquistado no poder renegue-as a partir de instintos mal assimilados e teimosias imotivadas: logo seguidores igualmente apedeutas ecoarão a bobagem.
A propósito, consta que emergiu na semana passada novo e poderoso lobby antivacinal: o dos jacarés, temerosos de virar bolsonaros.
(Perdão!, leitores; não resisti à melhor anedota que ouvi no tema.)
Limites da informação
Resta, ainda a espreitar os conceitos da filosofia e ciência da comunicação, uma dúvida atroz: deveriam Folha de S. Paulo, O Globo, Correio Braziliense e outros veículos de expressão nacional impedir a veiculação de material publicitário cujo conteúdo contraria-lhes o posicionamento em favor da ciência? Configuraria? algo similar a censura a recusa de um anúncio que desinforma, falseia e propaga opiniões nocivas à saúde pública?
Propaganda e contexto
Assim como limites à liberdade de imprensa, haveria análoga contenção da propaganda? – por definição, a que se estampa nos veículos é ‘ineditorial’, quer dizer, não apenas escapa à opinião editorialmente formalizada como também ao contexto das reportagens, análises, comentários e opiniões dos articulistas e colaboradores.
E ainda uma questão factual, localizada: por que? o Estadão não exibiu o anúncio?
Informação x propaganda
Seria instrutivo, didático saber das razões (se as houve) do tradicional jornal dos Mesquita. Mas não encontrei menção ao episódio nos editorais das edições subsequentes – teriam vindo depois, e me escaparam?
(Descarto, por improvável, que o Estadão fosse excluído pela agência que intermediou a operação.)
Com ou sem tal posicionamento, porém, convém questionar até que ponto o material publicitário separa-se, principalmente na visão do leitor, do conjunto editorial.
Haveria, mesmo? a radical distinção – e assim a assimilaria a opinião pública?
Separação de poderes
A tradição dos veículos de comunicação de massas é separar, a priori, seus departamentos de publicidade das redações em que se define o conteúdo editorial – o qual, todos afirmam, estabelece-se mediante critérios infensos aos interesses econômicos e quaisquer outros dos anunciantes.
No caso em tela, interessa saber também se a recíproca é verdadeira – ou seja, se os responsáveis pela captação e veiculação de publicidade decidem livremente que anúncios publicar (ou não).
A ser assim, emerge outra dúvida: os departamentos de publicidade analisam conteúdos?; se sim, estão instrumentados para isso? E como agem ao deparar-se com peças de propaganda avessas à linha editorial?
Norma geral
Este velho jornalista viveu mais de meio século o dia-a-dia das redações e, também com base no que hoje observa (a conveniente distância) nas estruturas de gestão e no comportamento dos meios de comunicação, tenta responder a essas perguntas, talvez a aclarar o que ocorreu na controversa publicação do tal anúncio dos médicos.
À primeira dúvida, quanto à efetiva separação entre publicidade e conteúdo editorial, diria que sim, ela existe e em geral é respeitada; exceções – tentativas de interferência de anunciantes, inclusive governos como justo agora – costumam repelir-se e caso contrário geram escândalo, comoção, trocas de comando.
Imprensa e… imprensa
Certo que me refiro a veículos efetivamente dedicados à missão de informar, e por sorte hoje os temos no proscênio – com seus defeitos, idiossincrasias, até interesses, mas estão aí. Diferem, por exemplo, de emissoras de tv ‘confessionais’, voltadas para a divulgação da fé (vá lá…) de seus donos, que no entanto concorrem na emissão de notícias e o fazem sob previsível viés religioso e-ou político.
E não parece que leitores distingam material publicitário com aparência editorial do que é efetivamente notícia ou comentário jornalístico. Assim cresce a importância da pergunta seguinte, quanto à análise do que inserem nos respectivos veículos os departamentos de publicidade dos jornais, revistas, emissoras de rádio e tv.
Exame inútil
De novo a valer-me da antiga experiência como da observação recente, diria que não, a área comercial dos veículos é autônoma e encaminha direto à impressão o material recebido dos anunciantes (habitualmente via agências de propaganda), sem julgamentos de valor ou considerações quanto à linha editorial. Eventual controle atribuir-se-ia à administração superior das empresas de comunicação, à qual se submetem redações e departamentos comerciais; o patrão, porém, costuma agir a posteriori, já consumadas eventuais ofensas à linha editorial – como parece ter sido o caso da inserção do ‘manifesto’ irresponsável, perigoso dos tais médicos pela cloroquina.
Tributo a Octavio Malta (Última Hora, Rio, circa 1960)
Marco Antônio Pontes
A vida de Ana Loureiro já é uma festa, mas, no dia em que ela troca de idade, se transforma numa espécie de evento oficial no Lago Sul, onde reside.
Você tá colhendo tudo que plantou com trabalho, empatia e respeito. Uma pessoa de verdade, de coração puro.
A Abrasel-DF divulgou que, durante a semana do Dia dos Pais, os bares e restaurantes do DF esperam um crescimento de até 15% no faturamento.
Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…