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50 coisas que era melhor não fazer, mas eu faço
1 de agosto, 2024Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
Dormir pouco. Comer pouco. E, às vezes, comer muito. Principalmente açúcar. Mas principalmente mesmo algodão doce, que é só açúcar. Qualquer algodão doce, na praia, em festa de criança ou em evento na rua, independente da procedência. E melhor ainda se forem os coloridos, que aí é açúcar e corante logo de uma vez. Tomar sol no rosto pra pegar cor. Tomar sol a qualquer hora do dia. Não tomar o tanto de água que deveria, mesmo quando se tomou sol e se comeu açúcar.
Gastar muita água em banho longo. Ligar o chuveiro e fingir que tá tomando banho pra ir ao banheiro sem medo de que alguém te escute. Escutar áudio na velocidade 2x. Todos os áudios, inclusive podcast sério. Fingir que só escuta podcast sério. Seguir todo e qualquer reality show de quinta categoria, seja em podcast, na Netflix ou os antigos no Youtube. Procurar saber dos participantes.
Se apegar a eles. Colecionar apegos de diversas temporadas. Ler comentários no instagram sobre os mesmos programas e olhar os perfis do povo que comentou e dos amigos do povo e dos parentes do povo. Esquecer se essa pessoa pra quem você torce pelo jogo de futebol do sobrinho é um ex-participante de reality show, um comentador de notícia do instagram ou um colega da quarta série do ensino fundamental. Permanecer no grupo de Whatsapp dos colegas da quarta série do ensino fundamental. E no do ensino médio. E no da Faculdade. E nos dos trabalhos todos. Se sentir culpada porque silenciou os grupos do whatsapp.
Silenciar-se quando o taxista faz uma piadola de mau gosto. Pegar táxi quando dava pra ir de metrô. Pegar metrô quando dava pra ir a pé. Ir a pé quando dava pra nem ter ido. Aceitar convite pra festa que você não quer. Mandar feliz aniversário pra gente de quem você não gosta. Gostar de gente que não presta. Prestar contas pra quem não se deve nada. Contar umas mentirinhas no meio do caminho pra história ganhar graça. Usar diminutivos demais: mentirinha, felizinho, convitinho, festinha. Usar adjetivos demais: tudo é “bonito” e “lindo” e “grande”. 33.
Usar intensidade demais: tudo é “demais” e “muito”, e “tão”, e “bem”. Dividir as coisas entre bem e mal. Ficar na dúvida se é mal ou mau e não esperar nem um pouquinho pra lembrar da regra. Saber que mal com l é contrário de bem e mau com u é contrário de bom, mas dar Google mesmo assim. Tascar tudo no Google. Ter certeza de onde é a Baronesa de Itu e a Barão de Tatuí e checar no Google. Se distrair pensando que não presta nome de rua ser nome de Barão e de Baronesa e que essa rua deveria se chamar Pedro, não o Dom, mas o porteiro que é um fofo e é amigo da rua inteira.
Achar que 3 pessoas que tu conhece da rua são a rua inteira. E que tua família é Pernambuco inteiro. Dizer coisas como o pernambucano isso e o paulista aquilo como se desse pra saber de todo mundo daqui ou de de lá. Tu não sabe nem tu direiro, Roberta. Falar na cabeça e no texto com essa Roberta que é ao mesmo tempo tu e também não e agora já somos bem umas três. Fazer texto de lista.
Chamar todo mundo de querido, só que teve aquele leitor que mandou desaforo no e-mail que nem era tão querido. Dar boa semana no final do texto sem saber se o povo tá de bom humor. Dar boa semana no final do texto sem saber se o povo chegou no final do texto. Era melhor não fazer, né? Mas eu faço. Boa semana, queridos.
Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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