À espera de reforma, ala do Centrão tenta mudar ministros que protagonizaram conflitos; Pacheco pode substituir Silveira
15 de janeiro, 2025
| Por: Agência O Globo
Estão na mira as pastas de Minas e Energia, de Agricultura e a Articulação Política
Dirigentes partidários e integrantes da cúpula do Congresso tentam aproveitar as negociações envolvendo uma reforma ministerial para pressionar pela saída de ministros que entraram em conflito com setores do Legislativo. As pressões visam a ampliar o espaço do PP, Republicanos e MDB dentro do governo e envolvem até disputas dentro de um mesmo partido, o PSD.
Entre os principais auxiliares do presidente Lula, estão na mira Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais). As trocas não estão certas e, tanto interlocutores do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), quanto do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não esperam uma reforma ministerial ampla para antes de março.
Silveira tem acumulado desgaste com senadores e deputados desde o início do governo. Políticos insatisfeitos dizem que o ministro, que era senador pelo PSD de Minas, tem dificuldade de receber parlamentares e ouvir suas demandas.
Lira critica o ministro de Minas e Energia desde os primeiros meses do governo e, recentemente, a crise de relacionamento com o Congresso ganhou novos contornos com atritos envolvendo o senador Davi Alcolumbre (União-AP), provável novo presidente do Senado, e o atual chefe da Casa, Rodrigo Pacheco. Ambos fizeram parte da articulação para emplacar Silveira no ministério durante a transição de governo, mas agora passaram a divergir dele por conta de indicações em vagas em agências reguladoras.
De acordo com integrantes da articulação política do governo, Pacheco já teria comunicado ao Palácio do Planalto que Silveira não representa mais uma indicação dos senadores.
Entraves para mudanças
Um dos nomes sugeridos para substituir Silveira na pasta é o do próprio Pacheco. Pesa contra essa mudança a proximidade de Silveira com Lula. O ministro agiu com o PT nas eleições municipais do interior de Minas e tem atuado em parceria com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, além de ter boa relação com a primeira-dama Janja.
Procurados, Pacheco e Alcolumbre disseram por meio de suas assessorias que não têm atritos com Silveira, mas não fizeram outros comentários. Silveira não retornou aos contatos da reportagem.
Em outra frente, Lira tem se queixado do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que é senador licenciado pelo PSD de Mato Grosso. Lira reclama da concentração de emendas da pasta no estado do ministro, e já chegou a cobrar publicamente a saída dele do cargo. O nome do próprio Lira passou a ser defendido por setores do PP para entrar no lugar de Fávaro.
Como uma forma de ter melhor relação com o Poder Legislativo, integrantes do PT também têm pregado que Lira entre no governo.
— O governo precisa de ministros que saibam lidar melhor com o Congresso — declarou o deputado Zeca Dirceu (PT-PR).
Em relação a Padilha, há uma queixa envolvendo vários partidos da Câmara de que o PT concentra muito espaço nos cargos envolvendo a articulação política e que isso não acontecia nas outras gestões de Lula na presidência. Os nomes do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, do Republicanos, e do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), têm sido citados por parlamentares como opções para contemplar a Câmara. Nesse cenário, Padilha seria deslocado para o Ministério da Saúde.
Interlocutores de Padilha avaliam que não há decisão tomada para mexer na SRI e nem na Saúde.
Outro fator que complica a montagem do quebra-cabeça nas trocas de ministérios é a pressão da bancada do PSD da Câmara para ter uma pasta de maior relevância da que tem hoje, que é o Ministério da Pesca, comandado pelo ex-deputado André de Paula, do PSD de Pernambuco. A bancada da sigla ainda não decidiu quem indicaria em uma reforma ministerial, mas há a possibilidade de o próprio André de Paula ser o nome escolhido para uma eventual promoção dentro do governo.
O líder da sigla na Câmara, Antonio Brito (BA), tem dito que o partido deve se distanciar do governo se não houver uma mudança no ministério. A interlocutores, ele diz que a ideia é entregar menos votos em projetos de interesse do governo e deixar mais a ala oposicionista do PSD ter espaço na Casa.