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1 de fevereiro, 2025

A fábula da política brasiliense A esperteza quando é demais engole o dono, diz o ditado oriundo da fábula em que o tatu engana a onça. Transferindo os bichos falantes para a política do Distrito Federal, temos o ex-governador José Roberto Arruda no papel da onça que engambela o homem e, depois de jurar que …

A fábula da política brasiliense

A esperteza quando é demais engole o dono, diz o ditado oriundo da fábula em que o tatu engana a onça. Transferindo os bichos falantes para a política do Distrito Federal, temos o ex-governador José Roberto Arruda no papel da onça que engambela o homem e, depois de jurar que não vai matar ninguém, é liberado e começa a ameaçar a todos até que o tatu (Ibaneis) aparece e a convence a voltar à jaula, deixando o pessoal em segurança. Acuado por Arruda, que se recusou a cumprir acordo prévio, Ibaneis se mexeu, fechou com o PP e com o Republicanos e isolou Arruda.

Histórico de confusões

Arruda tem um histórico de confusões nas campanhas eleitorais do DF, desde os tempos em que traiu Roriz e enfrentou Márcia Kubistchek – mãe da mulher de Paulo Octávio, Anna Cristina – na disputa pelo Senado, em 1994. Quatro anos depois ele voltou a trair Roriz, juntou vários partidos numa terceira via para enfrentar o ex-governador, mas perdeu. E se envolveu num escândalo de fraudes que causou sua cassação e que ficou famoso por seu discurso “não matei, não roubei”. Isso ficaria para depois.

Enfim, uma disputa em paz

Em 2002, pela primeira e única vez, Arruda disputou uma eleição sem (muita) confusão. Era um tempo em que não se falava de ficha limpa ou suja. Foi candidato e foi eleito deputado federal pregando um discurso de humildade e arrependimento; 25% do eleitorado acreditaram. Quatro anos depois, mais confusão e, depois de passar a perna no então senador Paulo Octávio, disputou e ganhou o governo, mandato que não terminaria. Houve o escândalo da Caixa de Pandora, prisões e, de lá para cá, as confusões só aumentaram.

Infernizando candidaturas

Arruda tentou voltar ao governo depois de ter sido preso duas vezes, ostentando a glória de ser o primeiro governador brasileiro preso no exercício do poder. Foi candidato, teve que renunciar à candidatura duas vezes, infernizou a vida de todo mundo, até que nas eleições passadas, segundo contam as más línguas, atormentou tanto o candidato Jofran Frejat – então líder nas pesquisas de intenção de voto – que este desistiu de concorrer, implodindo seu próprio grupo – Arruda nega a pressão, mas é voz única nesta alegação. Nesta época ficou para os anais políticos a frase de Frejat: “não vou vender minha alma para o diabo”.

O tatu devolve à jaula

Até a eleição deste ano Arruda nunca tinha se deparado com um tatu, até encontrar Ibaneis Rocha. O atual governador suportou até onde pode as peripécias de Arruda, principalmente depois que ele obteve no STJ autorização para sua candidatura, quando agiu abertamente, assediando partidos da base de Ibaneis. Quando Arruda propôs ao presidente do PP que indicasse a deputada Celina Leão para ser sua vice-governadora, o caldo entornou. Ibaneis agiu rápido, fechou acordos e garantiu sua chapa, devolvendo Arruda à jaula.

Uma aventura incerta

Resta saber quem vai ficar na chapa de Ibaneis Rocha, com registro garantido, e quem vai embarcar numa aventura com a onça Arruda. O ex-governador está pendurado numa liminar que pode ser cassada com a volta do ministro Gurgel, do STJ, do recesso forense. O ministro já votou duas vezes contra os interesses de Arruda e, segundo amigos, não gostou nada de saber que suas decisões caíram por decisão do plantão da corte. Ademais, Arruda ainda tem que esperar decisão do STF sobre a validação da retroatividade da Lei da Improbidade.

Uma derrota antecipada

Quem mais perdeu com essa movimentação até agora foi o ex-senador e ex-governador, Paulo Octávio. Indeciso, esperou, conversou, esperou, viu Arruda se movimentar, buscou um acordo para trazer Flávia Arruda de volta à chapa de Ibaneis, mas não conseguiu segurar o ímpeto do amigo Arruda e nem enxergar que havia uma tentativa de emparedar o governador – e quem conhece Ibaneis sabe que ele não gosta de se sentir pressionado ou emparedado. Ibaneis agiu rapidamente e Paulo Octávio tem de decidir se repete a chapa que deu em cadeia para muita gente nas eleições de 2006, já apelidada de Chapa Pandora, ou se apoia Ibaneis (hipótese difícil).

E a base, como fica?

Paulo Octávio tem um problema adicional na nominata que seu partido, PSD, construiu para a disputa da Câmara Legislativa. Os dois principais nomes, os deputados Cláudio Abrantes e Robério Negreiros são aliados de primeira hora do governador Ibaneis Rocha e sempre foram atendidos em seus pleitos – Abrantes com muitas obras em seu principal reduto eleitoral e Negreiros com a poderosa e influente Secretaria de Trabalho, por exemplo. Os dois não vão ficar contra o governador. Um terceiro candidato, o também deputado Jorge Viana, é mais – digamos – fluido; é da base, mas muitas vezes contraria os interesses do governo. Mas também não vai ficar confortável na oposição.

Flerte com a oposição?

Aliás, quem foi visto saindo do escritório de Paulo Octávio esta semana foi Rafael Parente, candidato ao governo pelo PSB. A conversa não vazou e o empresário desconversou, dizendo que tem falado com todos os políticos de todos os partidos – de Leila Barros (PDT) aos dirigentes do PT – em busca de entendimentos comuns. Mas até a estátua de Juscelino Kubistchek que fica na pracinha em frente ao prédio do hotel onde o empresário tem escritório sabe que Parente procura um candidato ao Senado para chamar de seu.

 

 

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