
Os mares do Japão
Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
O fracasso subiu à cabeça do petista Agnelo Queiroz, o pior governador que Brasília já teve.
No desespero de voltar ao cenário político, ele veicula vídeo na internet conclamando servidores do GDF a cobrarem o “retroativo da terceira parcela”, que teria sido garantido aos professores pelo Supremo Tribunal Federal. Agnelo refere-se à jogada política que fez há 10 anos para ganhar votos do funcionalismo: o reajuste salarial dos servidores públicos.
De olho nas eleições de 2014, em setembro de 2013 Agnelo conseguiu aprovar na Câmara Legislativa o reajuste do funcionalismo, que seria pago em três parcelas até 2015. No vídeo, Agnelo diz ter pago as parcelas de 2013 e 2014, e que a de 2015 “não foi paga pelo meu sucessor (Rodrigo Rollemberg) por incompetência, por descaso, por falta de compromisso com o servidor”.
Rollemberg (PSB) de fato não pagou a terceira parcela. Pior: atrasou salários e cortou benefícios dos servidores. Alegou que herdara de Agnelo um rombo de R$ 3,8 bilhões. Rombo traduzido em caos na saúde, na alimentação hospitalar, no transporte público e até na coleta de lixo. A bomba explodiria no colo de Ibaneis Rocha (MDB).
Na campanha de 2018, Ibaneis garantiu que quitaria o débito criado por Agnelo e não pago por Rollemberg. Ao assumir em 2019, herdou um rombo de R$ 5 bilhões. Ainda assim, normalizou o pagamento dos salários dos servidores. Mas a grana era curta para quitar o calote dado por Agnelo-Rollemberg. Foi preciso arrumar a casa, equilibrar as finanças, atrair investimentos para, enfim, honrar o compromisso assumido em campanha.
A conta foi alta. Foram pagos em 2022 R$ 1 bilhão em abril de 2022. Em 2023, mais R$ 1,3 bilhão. A quitação da terceira parcela, porém, não seria retroativa a 2015, como exigiam sindicalistas. Em resposta à petezada, o governador fez mais.
Ibaneis não só pagou o pendura que herdou como aumentou em 18% o salário de todos os servidores. Reajuste dividido em três parcelas, sendo 6% a cada ano, entre 2023 e 2025. Ao final, o reajuste será superior a 18%, uma vez que a correção é sobre o valor pago no ano anterior. Ou seja, o reajuste de 6% de 2025 será em cima dos 6% de 2024, que incidirão sobre os 6% de 2023.
Agnelo, ao fazer politicagem na internet, tenta restaurar a irrestaurável imagem que ele criou de si mesmo: a de um governante desgovernado. Fraco, imaturo, obscuro, incapaz. Por tudo isso e muito mais, Agnelo sequer chegou ao segundo turno nas eleições de 2014. Nunca na história desta Brasília um governador saiu do páreo ainda no primeiro turno.
Fora do Palácio do Buriti, Agnelo foi alcançado pela Justiça. Por duas vezes, viu o sol nascer quadrado. A primeira vez que a Polícia Federal o levou para o xilindró foi em 23 maio de 2017. Acusação: superfaturamento de R$ 900 milhões nas obras do Mané Garrincha. A segunda prisão ocorreu em 23 de julho de 2020, apanhado numa operação que investigava propina de R$ 4,6 milhões na compra de leitos hospitalares no Governo Agnelo.
Além de ter sido encarcerado, Agnelo sofreu outras punições. Em 2016, o Tribunal Regional Eleitoral tornou-o inelegível por oito anos e aplicou-lhe multa de R$ 1 milhão. Acusação: maracutaias na inauguração do Centrad. Apesar das condenações, Agnelo ainda tentou concorrer à Câmara dos Deputados em 2022, mas o Tribunal Superior Eleitoral cassou a candidatura. E assim, Agnelo se consolidou como página virada na história política de Brasília.
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