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Anísio Teixeira é declarado patrono da escola pública no Brasil
27 de outubro, 2024 / Por: Agência BrasíliaDefensor da educação integral, educador idealizou as Escolas Parque, locais em que as crianças têm acesso a outras áreas do conhecimento de forma gratuita; rede pública de ensino conta com oito dessas unidades
Defensor de uma educação democratizada, Anísio Teixeira, até hoje, é referência na área. Sua atuação foi reconhecida no último Dia do Professor, quando uma lei consagrou o pensador baiano — que morreu em 1971 — como patrono da escola pública no Brasil.
Em Brasília, um de seus legados são as Escolas Parque. Anísio vislumbrava um ensino integral que fosse além das disciplinas tradicionais, como Português e Matemática. Por isso, foi convidado a trazer esse modelo de escola à nova capital. À época da construção, o educador dirigia o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) — instituição que, mais tarde, viria a receber seu nome — e já havia implementado uma unidade em Salvador (BA) — até hoje, a única fora do Distrito Federal.
A ideia era que os estudantes tivessem as aulas convencionais nas Escolas Classe e, no contraturno, fossem às Escolas Parque para ter aulas de artes visuais, música, teatro e educação física. A pioneira foi a Escola Parque da 307/308 Sul, tombada como patrimônio cultural do DF em 2004, que, atualmente, recebe alunos de quatro colégios, do 1º ao 5º ano.
“É um projeto fantástico do ponto de vista do crescimento intelectual do indivíduo, tendo a Escola Classe e, aqui na Escola Parque, acesso a essas aulas que são diferenciadas gratuitamente”, destaca o diretor da unidade, Alexandre Baena, que ainda ressalta o resultado pedagógico aos alunos: “Eles têm um crescimento muito bom. A gente encontra famílias, depois de terem saído da Escola Parque, que falam sobre a diferença de a criança ter passado por aqui”.
E o “parque” da escola não se restringe à ideia de as disciplinas serem mais lúdicas. O espaço físico também foi pensado para envolver os estudantes. “Esse espaço é incrível, com jardim, piscina, quadras ao ar livre, teatro, as salas grandes, espaçosas… A gente tem uma arquitetura fantástica. Tudo isso é inspirador. Quando a gente faz o planejamento das aulas, a gente incentiva os professores a manterem esse conceito de Escola Parque, de ensinar de forma lúdica, brincando, de as crianças terem espaço para desenvolver a criatividade delas”, pontua a supervisora pedagógica e professora de música, Mariana Mesquita. “É um lugar encantador”, completa.
Educação integral
O DF conta hoje com oito Escolas Parque, sendo três na Asa Sul, duas na Asa Norte, uma no Núcleo Bandeirante, uma em Brazlândia e uma na Ceilândia — que, inclusive, leva o nome de Anísio Teixeira. Todas são geridas pela Subsecretaria de Educação Inclusiva e Integral da Secretaria de Educação (SEEDF). As do Plano Piloto funcionam recebendo alunos no contraturno todos os dias, enquanto, nas demais, estudantes de diferentes escolas vão uma vez por semana no horário regular.
Mas o ensino integral não é restrito às escolas pensadas por Anísio Teixeira. Ao todo, o DF tem 172 unidades com educação integral, que atendem 30.314 estudantes. “A educação em tempo integral tem várias importâncias. Além de ampliar o tempo na escola, ela amplia os espaços de atendimento, na perspectiva da vulnerabilidade. Quando tira a possibilidade da criança e do jovem ter contato com um mundo que não é da escola — como o da violência e o das drogas —, o ganho social é muito grande. Tem também o ganho na segurança alimentar, já que os estudantes contam com cinco refeições garantidas, e os aspectos pedagógicos: se formos observar os índices, as escolas de tempo integral têm as melhores notas no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)”, reforça a diretora de Educação em Tempo Integral da SEEDF, Érica Soares Martins.
Anísio Teixeira
Nascido em Caetité, na Bahia, em 1900, Anísio Teixeira formou-se em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua trajetória na educação começou em 1931, quando assumiu a Diretoria de Instrução Pública do Distrito Federal, que, à época, era o Rio de Janeiro. A criação da Escola Parque em Salvador veio em 1950, quando era secretário de Educação da Bahia.
Na nova capital federal, além das Escolas Parque, ele ajudou a criar a Universidade de Brasília (UnB), da qual foi reitor entre 1962 e 1963 e que hoje tem um pavilhão batizado em sua homenagem. “Ele foi um dos autores do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que defendia que a educação fosse pública, gratuita e de qualidade e que os cidadãos participassem de uma formação que possibilitasse não só o conhecimento formal, mas tivessem acesso a outras áreas”, conta Klever Corrente Silva, doutor em Educação pela UnB, professor da Universidade do Distrito Federal (UnDF) e da rede pública de ensino do DF. “É muito relevante essa perspectiva, essa formação humana. Não apenas as questões intelectuais, mas formar o indivíduo em toda a sua integralidade. E não só crianças, mas adultos também”, arremata o docente.