BRASIL

Armas viajam centenas de quilômetros pelo país para serem utilizadas em diferentes crimes

31 de março, 2025 | Por: Agência O Globo

Matéria do Fantástico usou dados do Sistema Nacional de Análises Balística e refez rota de fuzil que percorreu 1.300 km e foi utilizado em pelo menos três grandes crimes

Armas apreendidas pela polícia — Foto: Divulgação

Dados do Sistema Nacional de Análises Balística (Sinab) mostram que uma mesma arma está sendo usada em crimes em localidades diferentes do país. Matéria do Fantástico exibida neste domingo, reconstruiu a rota de um fuzil cadastrado no sistema administrado pela Polícia Federal e mostrou que ele esteve presente em um assalto em Guarapuava, no Paraná, e em outro em Araçatuba, interior de São Paulo, localidades com 600 km de distância. Os dois crimes foram cometidos com um intervalo de mais de sete meses entre eles.

Desde que foi criada em 2022, o Sinab já identificou mais de 4 mil ligações entre diferentes crimes cometidos com a mesma arma, os chamados “Hits”. O sistema armazena perfis balísticos que são inseridos por todas as polícias do Brasil, e permite o cruzamento de informações de diferentes investigações.

— O trabalho de cadastro é relativamente rápido. São 15 minutos para fazer a imagem, entrar os dados do caso e encaminhar isso para o banco. O maior desafio que temos ainda é o volume de crimes praticados com armas de fogo no Brasil. Os nossos laboratórios, os nossos 40 laboratórios que operam no SINAB, receberam no ano passado mais de 50 mil armas de fogo para exame e mais de 100 mil elementos de munição para serem trabalhados antes de colocar no banco. falta pessoal em quantidade suficiente para analisar esse tipo de material, para passar por todas as etapas de recebimento, limpeza, triagem, inserção, correlação automática do banco e revisão dos resultados que é o perito criminal que vai encontrar finalmente o hit — explicou Lehi Sudy dos Santos, coordenador do Sistema Nacional de Análise e Balística.

O primeiro registro do fuzil 556 foi em Araçatuba, em agosto de 2021, quando o motorista de aplicativo Gustavo Salgado foi abordado por um homem armado, que pediu para que ele descesse do veículo. Criminosos queriam por em prática uma ação coordenada para dominar a cidade e o homem foi feito de refém. Durante as horas de terror, duas agências bancárias foram roubadas e muitos tiros foram disparados, inclusive contra o batalhão da Polícia Militar que teve a fachada metralhada. O assalto deixou quatro mortos, dois moradores da cidade e dois criminosos, mas o resto do bando conseguiu fugir, levando com eles todas as armas usadas no crime, inclusive a que estava com o bandido alvejado pela polícia. Na fuga, Gustavo ficou pendurado no capô do carro, para servir de escudo humano.

Os dados sobre o crime foram inseridos pelos peritos responsáveis, que analisaram os projéteis disparados e as marcas deixadas pelas balas. Eles não acharam registros prévios do armamento no sistema, mas ela é identificada novamente em uma nova ação, dessa vez em Guarapuava, no Paraná, no dia 17 de abril de 2022. Mais uma vez um crime do chamado “Novo Cangaço”, quando cidade são tomadas nos momentos dos crimes.

Na noite de Páscoa, um grupo inicia mais uma tentativa de mega assalto, que tinha como alvo uma empresa de transporte de valores. Carla ouviu os tiros de casa, enquanto esperava o marido policial militar, o cabo Ricieri Chagas, voltar para casa do plantão. O militar sai com outros dois PMs para averiguar o motivo dos disparos e é embocado pelos criminoso, que atira contra os militares. Dois deles sobrevivem, mas Ricieri, que chega a ser socorrido, morre seis dias depois por conta de um tiro que tomou na cabeça. Os bandidos fugiram sem conseguir levar o dinheiro da empresa, mas as análises balísticas dos vestígios deixados pelo grupo indicam a presença na cenário crime do mesmo fuzil identificado em São Paulo.

E não parou por ai. A mesma arma foi registrada depois em um crime em Campinas, interior de São Paulo, no dia 20 janeiro de 2023. Na ocasião, bandidos mascarados entraram em um bar e mataram duas pessoas. Menos de uma semana depois a arma é apreendida e pode-se confirmar que ela viajou 1.300 km até ser recolhida pela polícia.

O Sinab identificou ainda que armas usadas em diferentes crimes no mesmo estado viajam menos, mas matam mais. Em menos de um mês, uma mesma pistola foi usada em uma série de nove ataques em Curitiba, em 2022, que deixaram 14 mortos. A polícia acreditam que se taravam de uma guerra entre facções. No início, os casos estavam sendo investigados separadamente, mas após o cruzamento de dados do Sinab, foi possível concluir que tinha sido cometidos com a mesma arma.

— O Sinab dá voz aos vestígios balísticos para vítimas, para familiares que perderam seu ente querido por um conflito armado, para violência armada. Ele é mais do que um sistema tecnológico. É uma esperança que esse crime não permanecerá no esquecimento. — explicou perito criminal Jesus, que utiliza o sistema.


BS20250331005537.1 – https://extra.globo.com/brasil/noticia/2025/03/armas-viajam-centenas-de-quilometros-pelo-pais-para-serem-utilizadas-em-diferentes-crimes.ghtml

Artigos Relacionados