ARTIGOS
As contradições do Brasil no esforço pelo protagonismo mundial
12 de janeiro, 2024Samuel Hanan, engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia
O Brasil vem tentando, desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conquistar posição de protagonista mundial. Faz uma aposta alta, reiterada nas inúmeras viagens internacionais do chefe da Nação nas quais busca influenciar decisões de repercussão internacional enquanto, paralelamente, acalenta o sonho de conquistar um assento no Conselho de Segurança da ONU, órgão que já se mostra anacrônico e não se presta mais a representar o mundo.
Embora legítimo, o movimento brasileiro esbarra em posicionamentos dúbios, por vezes contraditório, suficientes para despertar a desconfiança internacional sobre a capacidade diplomática de nosso país, nitidamente contaminada pela ideologia política do presidente. É o que revelam os fatos.
O governo brasileiro apressou-se em se apresentar para negociar o cessar-fogo na guerra entre Palestina e Israel. Sem sucesso, passou claramente a tomar partido do Hamas, contrariando o princípio básico da neutralidade por quem se dispõe a buscar a paz.
Não foi, porém, novidade. Já havia o precedente em relação à postura diante da invasão da Ucrânia pela Rússia, que inviabilizou qualquer chance de sucesso na mediação do conflito no leste europeu.
Curiosamente, muito recentemente, diante da realização de plebiscito da Venezuela para tomar parte do território da Guiana, o governo brasileiro, aliado de Nicolas Maduro, apressou-se em se posicionar no sentido de que a questão é um problema interno da Venezuela.
O mais adequado – e esperado – seria o Brasil se posicionar de forma intransigente em defesa do estado democrático de direito, da soberania e do respeito às leis e acordos internacionais. O que se vê, todavia, é o Brasil se aliando cada vez mais a estados que nada têm de democráticos. Apoia Venezuela, Rússia, China e Irã. Alia-se a ditadores que se perpetuam há muitos anos no poder, fingindo não enxergar se tratar de teocracias e regimes com eleições de fachada.
O país exercita uma política externa indisfarçavelmente contraditória, que sinaliza uma coisa e faz outra. Mais um exemplo disso foi dado agora na COP 28, a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Ao lado das questões climáticas, o presidente brasileiro dedicou-se a tentar acelerar e concluir o acordo entre Mercosul e a União Europeia, mesmo à revelia da Argentina, integrante do bloco sulamericano. Fracassou e o mundo inteiro ouviu o presidente francês Emmanuel Macron afirmar que o discurso de Lula se parece com o dele, mas a semelhança é meramente retórica porque o Brasil não pratica o mesmo que a França. Macron se posicionou contra o acordo por considerá-lo “completamente contraditório” e restou a Lula dizer que a posição do presidente francês não é a posição da União Europeia.
A pergunta é: como ser protagonista se o Brasil não tem comportamento de protagonista? O país e a intelligentsia nacional acreditam que basta ser a 9ª economia do mundo; o 5º maior país em área territorial e a nação com a 7ª maior população.
É uma ilusão que seria desfeita se o Brasil olhasse primeiro para dentro antes de sonhar com um papel de relevância no Exterior. A nação precisa reconhecer que tem doenças sérias, amplamente conhecidas por todos os líderes mundiais.
Essas doenças são desigualdade gigantesca, fome, miséria, baixa escolaridade, desnutrição infantil, violência urbana, falta de saneamento, saúde precária, corrupção e tantas outras repetidamente esmiuçadas e nunca solucionadas. A educação, por exemplo, está permanentemente em debate, porém sempre se aponta para inviabilidade de implantação de escolas em tempo integral em toda a rede pública, enquanto, por outro lado, a cada eleição se viabiliza o aumento dos fundos partidário e eleitoral.
Samuel Hanan, engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia