Atuação de Alcolumbre para indicar ministro é vista como ‘intromissão’ por deputados do União Brasil
24 de abril, 2025
| Por: Agência O Globo
Parlamentares indicam tendência do partido de rumar para a oposição
Presidente do Congresso Alcolumbre. Foto: Lula Marques/Agência Brasil
A atuação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para indicar um nome de seu partido ao Ministério das Comunicações irritou parlamentares do União Brasil na Câmara. Deputados consideraram a amarração inicial, quando tentou colocar o líder do partido da Câmara, Pedro Lucas, como uma “intromissão” e um “desrespeito com a autonomia da bancada”.
Na quarta-feira, após a recusa de Pedro Lucas em assumir a pasta, Alcolumbre conseguiu o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para emplacar o chefe da Telebras, Frederico de Siqueira Filho.
Deputados reconhecem é um dos quadros mais importantes do partido, mas avaliam que sua influência entre os deputados é limitada. Para ele, mais uma indicação do presidente do Senado na Esplanada não mudará o quadro de votos do governo na Câmara.
— O Pedro Lucas com essa atitude (de recusar o ministério) consolidou o papel dele como líder. Tem o respeito dos colegas. Não tinha nenhuma decisão de bancada em relação à indicação dele. O partido sai fortalecido. O partido sempre foi tratado em segundo plano, o (presidente do União Antônio) Rueda tentou falar três vezes com o Lula e o Lula não o recebeu. O Davi é uma liderança importante, virou um interlocutor do governo, mas uma coisa é o Senado, outra é a Câmara. A Câmara tem uma bancada — afirma Danilo Forte (União-CE)
A decisão de Pedro Lucas em recusar o cargo deixou Lula irritado, segundo integrantes do governo. Na terça-feira, chegou a ser cogitada a hipótese de que o União perdesse espaço na Esplanada. Mas, em seguida, prevaleceu a avaliação de que a conjuntura requer um aprofundamento dos laços com o presidente do Senado.
Na visão de auxiliares do presidente, a escolha reforça o diagnóstico de que o aliado do governo no União Brasil é Alcolumbre. O partido tem divisões internas. Uma ala defende um afastamento do Planalto de olho nas eleições 2026. Fazem parte desse grupo o presidente da legenda, Antônio Rueda, e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto.
Na montagem do governo, Alcolumbre já havia indicado Waldez Góes, que é filiado ao PDT, para o Ministério da Integração Nacional. Os dois são aliados no Amapá. O União também comanda o Ministério do Turismo com Celso Sabino. Essa pasta é cobiçada pela bancada da Câmara do PSD.
Em meio às trocas no primeiro escalão do governo, deputados do União e a cúpula nacional do partido também viram no episódio um indicativo de esgotamento do modelo de troca de apoio por cargos.
Eles alegam que falta ao governo entender que essa dinâmica não é mais crucial para governabilidade, e sim uma organização na entrega e pagamento de emendas. Mesmo que a maior parte das verbas parlamentares sejam impositivas, cabe ao governo definir quando elas são pagas ao longo do ano.
Parlamentares também entendem o partido está caminhando para adotar uma postura cada vez mais distante do Poder Executivo. De acordo com parte deles, a tendência é que o partido esteja com a oposição ao governo em 2026, seja lançando candidatura própria, seja apoiando um nome de outro partido do mesmo campo.
Para o deputado Pauderney Avelino (AM), o episódio envolvendo o ministério expõe não só fragilidade do governo, mas também do partido.
— Avaliação é que o partido e o governo estão desorientados — diz.
O União Brasil nasceu da fusão entre DEM e PSL e sempre conviveu com disputas de poder por grupos distintos. Uma ala de deputados tem reclamado de intervenções da direção nacional em alguns estados e avalia pedir desfiliação no ano que vem, quando o período de janela partidária permitir isso.
Da ala de oposição, o deputado Alfredo Gaspar (AL), diz que o governo está em “fim de festa”
— Temos parlamentares com posições bem definidas. O efeito imediato será o fortalecimento da liderança partidária(na Câmara). No tocante ao governo, é clima de fim de festa, sem rumo, sem prumo.