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Brasil tem cinco casos confirmados de varíola do macaco em menos de uma semana

15 de junho, 2022

Diagnósticos mais recentes foram notificados nesta quarta-feira pelos estados de São Paulo e Rio de Janeiro RESUMINDO A NOTÍCIA São Paulo confirmou hoje o quinto […]

Brasil tem cinco casos confirmados de varíola do macaco em menos de uma semana
Crédito: Reprodução/CDC

Diagnósticos mais recentes foram notificados nesta quarta-feira pelos estados de São Paulo e Rio de Janeiro

RESUMINDO A NOTÍCIA

  • São Paulo confirmou hoje o quinto caso de varíola do macaco no Brasil
  • Rio de Janeiro também notificou paciente que chegou de Londres e teve resultado positivo
  • Há outros dois infectados no estado de São Paulo e um no Rio Grande do Sul
  • Todos os casos são considerados importados
Varíola do macaco se caracteriza por lesões na pele

REPRODUÇÃO/NHS ENGLAND HIGH CONSEQUENCE INFECTIOUS DISEASES NETWORK

O total de casos confirmados de varíola do macaco no Brasil chegou a cinco nesta quarta-feira (15), menos de uma semana após o primeiro diagnóstico positivo.

As duas notificações mais recentes ocorreram hoje, uma em São Paulo e a outra no Rio de Janeiro.

Em São Paulo, o primeiro caso é de um homem de 41 anos que havia retornado recentemente de viagem a Portugal e Espanha, dois países que vivem surto da doença.

Também esteve nos mesmos destinos um jovem de 26 anos, morador de Vinhedo, no interior paulista, que foi o segundo caso no estado, em 11 de junho. O paciente permanece isolado em casa.

Rio Grande do Sul informou também que um homem de 51 anos que esteve recentemente em Portugal teve resultado positivo para a doença.No Rio de Janeiro, um cidadão brasileiro de 38 anos que mora em Londres chegou à capital no dia 11 de junho com sintomas de varíola do macaco e procurou atendimento médico no INI/Fiocruz (Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas) no dia seguinte. O resultado positivo foi informado hoje.

O terceiro infectado em São Paulo é um homem de 31 anos, morador da capital, que também possui histórico de viagem recente para a Europa. Ele está internado em isolamento no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, assim como o primeiro paciente.

Todos têm quadro de saúde bom, segundo as secretarias de saúde. O período de isolamento é de aproximadamente três semanas ou quando caírem todas as feridas na pele.

O fato de os cinco casos terem relação com viagens ao exterior indica que ainda não há transmissão comunitária da varíola do macaco no país (o vírus foi importado).

De toda forma, a Secretaria de Estado da Saúde informou que monitora todas as pessoas que tiveram contato próximo com os pacientes que estão com a doença.

A varíola do macaco avança em um ritmo “pouco usual e preocupante”, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), que já marcou para a próxima semana uma reunião de especialistas para decidir se o surto deve ser tratado como uma emergência sanitária de preocupação internacional.

Monitoramento em tempo real feito pela iniciativa Global.health, de pesquisadores de universidades como Harvard e Oxford, mostra que já se aproximam de 1.800 os casos positivos da doença em quase 40 países.

Inglaterra, Espanha e Portugal respondem por mais da metade das infecções, mas os números também crescem em países como Alemanha, Holanda e Canadá.

O que ainda intriga a ciência sobre a varíola do macaco

Desde o dia 6 de maio, o mundo tem lidado com um surto global de varíola do macaco, que começou na Europa e hoje já infectou pessoas em mais de 30 países. Teoricamente, essa doença não deveria causar tanta preocupação nos pesquisadores, uma vez que ela é altamente conhecida. Surgiu nos macacos em 1958, e o primeiro caso em humanos foi em 1970. Além disso, a transmissão sempre foi considerada difícil pelos especialistas. Mas o crescimento exponencial de infectados e o aparecimento em lugares teoricamente sem conexão mudou essa história, e alguns pontos intrigam a comunidade científica 

Houve mutação genética?A infecção pelo vírus da varíola do macaco pode ocorrer pelo contato com animais ou entre pessoas. Ela sempre esteve associada a viagens aos países africanos onde a doença é endêmica (acontece frequentemente). Além disso, nos surtos anteriores, as infecções se concentravam e rapidamente sumiam. Uma das hipóteses levantadas é que o vírus tenha sofrido mutações que facilitariam a transmissão entre humanos. De acordo com os primeiros resultados de análise genômica, houve mais de 47 alterações no DNA do vírus, mas ainda não é possível afirmar que ele está mais patogênico ou mais transmissível. Não se sabe, por exemplo, há quanto tempo o vírus atual está circulando entre humanos

Segundo as agências de saúde dos países que têm casos registrados, a maioria dos infectados são homens que fazem sexo com homens. Por isso, pesquisadores investigam se algo mudou na transmissão do vírus, que sempre foi por contato próximo, principalmente com a pele, ou com secreções, como saliva.
‘Não é possível saber se é uma doença transmitida por meio do sêmen, não há comprovação. O que aconteceu é que os primeiros casos na Europa foram registrados em homens que tinham como link epidemiológico o fato de serem homens que fazem sexo com homens. Mas isso não se deve ao fato de que o vírus está sendo transmitido sexualmente, igual ao HIV.
Provavelmente, eles tiveram pontos convergentes de exposição, por exemplo, um aplicativo de encontro. O vírus vai passando por meio dessas redes, ou festas, encontros em massa. O vírus conseguiu pegar uma cadeia de muita sorte e foi por essa rota de homens que fazem sexo com homens’, explicou Giliane Trindade, virologista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)

A varíola do macaco é transmitida por relação sexual?Segundo as agências de saúde dos países que têm casos registrados, a maioria dos infectados são homens que fazem sexo com homens. Por isso, pesquisadores investigam se algo mudou na transmissão do vírus, que sempre foi por contato próximo, principalmente com a pele, ou com secreções, como saliva.'Não é possível saber se é uma doença transmitida por meio do sêmen, não há comprovação. O que aconteceu é que os primeiros casos na Europa foram registrados em homens que tinham como link epidemiológico o fato de serem homens que fazem sexo com homens. Mas isso não se deve ao fato de que o vírus está sendo transmitido sexualmente, igual ao HIV.Provavelmente, eles tiveram pontos convergentes de exposição, por exemplo, um aplicativo de encontro. O vírus vai passando por meio dessas redes, ou festas, encontros em massa. O vírus conseguiu pegar uma cadeia de muita sorte e foi por essa rota de homens que fazem sexo com homens', explicou Giliane Trindade, virologista da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)

O fato de a doença ser detectada em pessoas sem conexão sugere que o vírus pode estar se espalhando silenciosamente. A epidemiologista do CDC (Centro para Prevenção e Controle de Doença) dos Estados Unidos Andrea McCollum considera o fato “profundamente preocupante”.
Essa resposta só será possível descobrir a partir das análises genômicas. ‘As análises até agora comprovam que os surtos nos diversos países partiram de uma única ‘reintrodução’ na espécie humana’, afirma Camila Malta, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e do Instituto de Medicina Tropical

A varíola original foi erradicada no mundo em meados da década de 1970. A partir desse período os imunizantes contra a doença pararam de ser aplicados. No Brasil, a vacina foi dada até 1973.
Cientistas já sabem que o imunizante usado anteriormente tem uma eficácia de até 85%, mas não sabem se a imunidade não cai ao longo do tempo.

‘Agora que vamos começar a descobrir. Não tem como prever quando se faz uma vacina quanto tempo a imunidade vai durar. É um experimento de vida real em que se percebe no dia a dia que caiu a imunidade [vacinal] das pessoas quando acontece um surto’, explica a virologista Clarissa Damaso, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e membro do Comitê Assessor da OMS (Organização Mundial da Saúde) para Pesquisa com o Vírus da Varíola
NIAID-NIH

Pessoas que foram vacinadas contra a varíola estão imunes?A varíola original foi erradicada no mundo em meados da década de 1970. A partir desse período os imunizantes contra a doença pararam de ser aplicados. No Brasil, a vacina foi dada até 1973. Cientistas já sabem que o imunizante usado anteriormente tem uma eficácia de até 85%, mas não sabem se a imunidade não cai ao longo do tempo.'Agora que vamos começar a descobrir. Não tem como prever quando se faz uma vacina quanto tempo a imunidade vai durar. É um experimento de vida real em que se percebe no dia a dia que caiu a imunidade [vacinal] das pessoas quando acontece um surto', explica a virologista Clarissa Damaso, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e membro do Comitê Assessor da OMS (Organização Mundial da Saúde) para Pesquisa com o Vírus da Varíola

Por ora, a OMS acredita que a vacinação pode ser localizada e indicada para pessoas próximas às infectadas, como está sendo feito no Reino Unido e nos Estados Unidos. Profissionais de saúde da linha de frente também podem ser beneficiados com o imunizante.
Existe uma vacina contra a varíola do macaco produzida pelo laboratório Bavarian Nordic, na Dinamarca. Além disso, a vacina usada anteriormente poderia ser empregada, mas precisaria passar por atualização. A questão é que não há produção em larga escala de nenhum imunizante.
A epidemiologista Andrea McCollum, do CDC, disse, em entrevista à revista Nature, acreditar que as terapias provavelmente não serão implantadas em grande escala para combater a varíola. Para conter a propagação do vírus, deve ser usado o método chamado vacinação em anel. Aplica-se o imunizante nos contatos próximos de pessoas que foram infectadas para cortar quaisquer rotas de transmissão. “Mesmo em áreas onde a varíola [do macaco] ocorre todos os dias, ainda é uma infecção relativamente rara”, afirmou a especialista

Vai ser necessário vacinar toda a população?Por ora, a OMS acredita que a vacinação pode ser localizada e indicada para pessoas próximas às infectadas, como está sendo feito no Reino Unido e nos Estados Unidos. Profissionais de saúde da linha de frente também podem ser beneficiados com o imunizante. Existe uma vacina contra a varíola do macaco produzida pelo laboratório Bavarian Nordic, na Dinamarca. Além disso, a vacina usada anteriormente poderia ser empregada, mas precisaria passar por atualização. A questão é que não há produção em larga escala de nenhum imunizante.A epidemiologista Andrea McCollum, do CDC, disse, em entrevista à revista Nature, acreditar que as terapias provavelmente não serão implantadas em grande escala para combater a varíola. Para conter a propagação do vírus, deve ser usado o método chamado vacinação em anel. Aplica-se o imunizante nos contatos próximos de pessoas que foram infectadas para cortar quaisquer rotas de transmissão. “Mesmo em áreas onde a varíola [do macaco] ocorre todos os dias, ainda é uma infecção relativamente rara”, afirmou a especialista

Por ser até então uma doença rara, ainda não é possível saber se há casos de reinfecção ou se as pessoas que já pegaram outros tipos de varíola estão imunes à doença.
‘Não se sabe se a doença pode ser pega mais de uma vez. O que se sabe é que a imunidade gerada pela doença ou pela vacinação é uma imunidade protetora e que dura um longo período de tempo. Até porque, se não fosse assim, a varíola não teria sido erradicada’, ressalta Giliane Trindade

É possível a reinfecção da doença? Por ser até então uma doença rara, ainda não é possível saber se há casos de reinfecção ou se as pessoas que já pegaram outros tipos de varíola estão imunes à doença. 'Não se sabe se a doença pode ser pega mais de uma vez. O que se sabe é que a imunidade gerada pela doença ou pela vacinação é uma imunidade protetora e que dura um longo período de tempo. Até porque, se não fosse assim, a varíola não teria sido erradicada', ressalta Giliane Trindade

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  • Fonte: SAÚDE | Do R7