SAÚDE
Canabidiol é eficaz para tratar dores do cachorro, afirmam veterinários; veja como ter acesso ao composto
11 de outubro, 2024 / Por: Agência O GloboProdutos como óleos, pomadas e rações enriquecidas com CBD já são usados em outros países e estão começando a chegar ao Brasil
Há diversos estudos que comprovam os benefícios do uso da cannabis medicinal em humanos. O remédio pode, por exemplo, ajudar em condições como dor crônica, epilepsia e transtornos neuropsiquiátricos. Mas estudos recentes agora mostram que os fármacos, principalmente o canabidiol (CBD), também pode ser administrados para pets contra dores crônica, cânceres, crises convulsivas, Alzheimer canino, e como tratamento coadjuvante, como doença renal e lúpus.
Produtos como óleos, pomadas e rações enriquecidas com CBD já são usados em outros países e estão começando a chegar ao Brasil. No país, não há uma regulamentação a favor ou contra o uso dessas substâncias para pets. O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) prega que o médico veterinário pode prescrever qualquer tratamento que ele julgue necessário, porém o tutor ainda enfrenta dificuldades para conseguir o composto.
Larissa Uchida, CEO da ExpoCannabis Brasil, evento anual que acontece em São Paulo justamente sobre o mercado, explica que há mais de uma forma de conseguir este tipo de remédios para pets.
— O primeiro deles é pelas farmácias de manipulação autorizadas a trabalhar com a cannabis e com o canabidiol. O tutor, com uma prescrição de um veterinário, pode solicitar um remédio. O segundo é importar diretamente com uma marca fora do país. Nesse caso, o tutor também tem que ter uma prescrição do veterinário e pedir uma autorização da Anvisa para importar. O tramite legal é rápido mas é custoso — diz Uchida.
Há ainda uma terceira forma, e considerada a mais fácil e barata de conseguir o medicamento, que é por meio de associações brasileiras autorizadas a cultivar a planta e produzir o medicamento.
Uma dessas associações é a Associação Brasileira de Petcannabis, que além de cultivar e produzir o óleo de canabidiol e outros fitocanabinoides também contam com uma equipe de veterinários que fazem toda a parte da consulta e começo de tratamento.
— Atendemos o zoológico e o aquário de São Paulo, institutos de resgate, concedemos os nossos óleos para pesquisas de faculdades e temos mais de três mil pacientes que atendemos de forma gratuita pela cota social, ou seja, aqueles que não têm condições financeiras de arcar com a consulta e o tratamento — afirma o veterinário e idealizador da associação, Fabio Mercante de San Juan.
Como o remédio atua no organismo do animal?
Assim como os seres humanos, todos os animais, incluindo vertebrados e invertebrados, têm um sistema endocanabinoide, responsável pela homeostase (capacidade do organismo manter a estabilidade o estado interno, mesmo frente a mudanças externas).
Ele é constituído por receptores canabinoides (CB1 E CB2), endocanabinoides, enzimas que participam da modulação dos processos fisiológicos do corpo.
Os receptores CB1 ficam localizados, principalmente, no sistema nervoso central e podem influenciar o apetite, sono, a liberação hormonal, cognição e muitos outros aspectos do organismo animal e humano. Já os CB2 estão presentes no sistema imunológico, hematopoiético (que produz as células sanguíneas) e também em algumas partes do nervoso central, podendo regular funções associadas a essas estruturas.
A cannabis, com suas propriedades, tem como objetivo regular e equilibrar esses sistemas se algo sair do lugar e surgir as condições médicas, servindo como suplemento para um melhor funcionamento do sistema como um todo.
As dores, por exemplo, podem ser decorrentes de outras condições médicas, como câncer, osteoartrite e circunstâncias de pós-operatório. A cannabis tem propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, ajudando a tratar essas dores, especialmente as neuropáticas (dor crônica causada pela danificação dos nervos sensitivos do sistema nervoso central).
— O caminho da dor no corpo humano é conhecido. Os remédios anestésicos bloqueiam os receptores da dor até chegar no cérebro. Com os animais é a mesma coisa, e o canabidiol faz exatamente o mesmo caminho — explica Mercante.
Segundo um relatório da Kaya Mind, empresa brasileira especializada em dados e inteligência de mercado no segmento da cannabis, do cânhamo e de seus periféricos, o câncer, que é uma doença comum entre os animais de estimação, pode causar dores, enjoo, falta de apetite e mais. Os fitocanabinoides e outros componentes da cannabis podem auxiliar a tratar esses sintomas por conta de suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, além de o CBD ter capacidade de diminuir a proliferação de células cancerígenas e, assim, atrasar o crescimento de tumores.
— O CBD é um ótimo aliado durante o tratamento oncológico, porque seu efeito anti-inflamatório, antiemético e ansiolítico atuam diretamente nos principais efeitos colaterais causados pela radioterapia e quimioterapia. Além disso, ele contribui para que o sistema imunológico, um dos mais afetados durante o tratamento, se fortaleça — afirma a veterinária Claudia Borges dos Santos leal.
O veterinário Fabio Mercante de San Juan, entretanto, afirma que há alguns cuidados. Segundo o especialista, sempre é necessário consultar um especialista para saber a melhor dose para seu animal.
— O sistema endocanabinoide é como uma impressão digital. É um tratamento que precisa ser verificado de perto, uma dosagem exacerbada pode ser perigosa, assim como uma dose pequena pode não ter efeito. Nos primeiros dias é importante que o tutor relate como o animal está se sentindo, se ele está sonolento ou agitado, por exemplo. O óleo de cannabis alto em Tetrahidrocanabinol (THC) funciona para dor, câncer e epilepsia, porém podem deixar o animal mais “chapado”, com mudança de comportamento. Já os óleos ricos em CBD ou misto (CBD com THC) são mais seguros — afirma.
Segundo o especialista, os óleos custam dependendo da quantidade de resina. Por exemplo, 1ml de resina custa em torno de 300 a 500 reais, enquanto um vidro de 30ml do óleo pode chegar a 800 reais. Para importar, por conta do frete e da moeda, o produto pode chegar a ultrapassar os 1.200 reais.