Chique em ‘Vale tudo’, Malu Galli mostra seu lado popular na Lapa: ‘Sou simples, não tenho roupa para emprestar à Celina’
1 de setembro, 2025
| Por: Agência O Globo
Gente como a gente, a atriz que faz sucesso na novela das nove da Globo topou posar para um ensaio num botequim descolado no Rio
Enquanto Celina, sua personagem em “Vale tudo”, passa a maior parte do tempo reclusa na mansão da família, cercada de luxo no alto da Glória, Malu Galli tem pouco em comum com a sofisticada irmã de Odete Roitman (Debora Bloch). “Sou uma pessoa muito simples”, avisa a atriz, moradora do Flamengo, na Zona Sul carioca.
Gente como a gente a ponto de topar, sem pestanejar, curtir umas horas no descolado Surubar, botequim da Lapa que é sucesso no Rio com suas paredes verde e rosa e petiscos como ovo rosa e a famosa “sacanagem”. A passagem de Malu por lá, onde posou para a Canal no último domingo, virou um evento: uma pequena multidão se aglomerou na porta para ver de perto a “tia Celina”, e um vídeo feito no local por fãs viralizou nas redes, com o público repercutindo os recentes acontecimentos da novela.
— Foi o maior astral. Brinquei com todos, tirei fotos… Só recebo afeto nas ruas, o público é supercarinhoso — conta Malu, que fez pose até deitada no balcão: — Adorei a locação! Depois das fotos, ainda provei as comidas do cardápio.
Apesar de já ter dado vida a personagens mais simples, como a ex-enfermeira e governanta Iolanda, de “Tempos modernos” (2010), e a boleira Rosângela, de “Totalmente Demais” (2015), Malu construiu uma galeria de mulheres chiques na TV. Entre elas estão a Lygia de “Cheias de charme” (2012), a Lídia de “Amor de mãe” (2019) e a Violeta de “Além da ilusão” (2022).
— Televisão tem essa coisa. As pessoas acabam escalando alguém que já tem meio a cara do personagem. Tenho um passado de versatilidade no teatro, mas também fiz papéis bem diferentes na TV, como a vilã Maria Fernanda da série “A mulher do prefeito” (2013) — relembra.
Durante sua preparação para “Vale tudo”, a atriz mergulhou no universo dos bilionários, até então desconhecido por ela:
— Não frequento festas badaladas, nem o “grand monde” (termo em francês que faz referência à alta sociedade). Sou do tipo que vai à feira da Glória e circula na cidade. Outro dia, depois de um show na Marina da Glória, terminamos a noite num boteco da Rua Santo Amaro, daqueles com mesa de plástico. Eram 2h da manhã quando saí do banheiro e avisei: “Melhor evitar, não está muito bom ali” (risos). Quando me reconheceram, acharam surreal: “A tia Celina usando o banheiro daqui!”.
Odete Roitman (Debora Bloch) chega à casa de Celina (Malu Galli) em ‘Vale tudo’ — Foto: Fábio Rocha/Rede Globo
Malu costuma levar tudo com bom humor. Aos 53 anos, ela vive um momento de glória na carreira. Além da popularidade com Celina, acaba de ser premiada com o Kikito de Melhor Atriz por sua atuação em “Querido mundo”, filme dirigido por Miguel Falabella, no recém-encerrado Festival de Gramado. Embora não estivesse presente na cerimônia, ela participou do evento dias antes:
Bêbada, Heleninha (Paolla Oliveira) é amparada por Eugênio (Luiz Salém), Celina (Malu Galli) e Afonso (Humberto Carrão), em “Vale tudo” — Foto: Fábio Rocha/Rede Globo/Divulgação
— Quando fui a Gramado, todo mundo me chamava de Celina. Está sendo uma feliz surpresa fazer essa novela. Antes da estreia, o remake estava cercado de expectativas. Eu revi a versão original e achei a Nathalia Timberg (a Celina de 1988) muito diferente de mim.
Celina (Malu Galli) e Estéban (Caco Ciocler) em ‘Vale tudo’ — Foto: Léo Rosario/ Rede Globo/ Divulgação
Na trama atual, Celina continua sendo uma mulher dedicada à família, tia que ajudou a criar os sobrinhos Afonso (Humberto Carrão) e Heleninha (Paolla Oliveira), mas que agora também revela novos desejos. Chegou até a viver um romance com Esteban (Caco Ciocler):
— A nova Celina não tem mais aquele ar de “santa tiazinha”. Tem outros interesses, não é uma mulher sem libido. Esse era um certo receio que eu tinha, o de não parecer essa figura superprotetora. A Paolla (de 43 anos) é só dez anos mais nova do que eu. Mas a personagem acabou sendo crível.
Veja fotos de Malu Galli
Atriz que faz a Celina de “Vale tudo” é casada com artista plástica
Casada há 26 anos com o artista plástico Afonso Tostes, a intérprete é mãe de Luis, de 24. Tem uma irmã mais velha e duas sobrinhas, na casa dos 20, e conta ser uma tia bastante presente. Hoje, a atriz de “Vale tudo” vive a chamada “síndrome do ninho vazio”, já que o filho estuda fora do Brasil:
— Tenho tendência a ser superprotetora, por ter filho único. Tento controlar isso para não ligar todo dia. Mas temos uma relação de muita cumplicidade, falamos sobre tudo. E agora, sem ele em casa, voltei a experimentar uma certa liberdade.
Eugênio (Luiz Salém) entre Celina (Malu Galli) e Odete (Debora Bloch), em “Vale tudo” — Foto: Fábio Rocha/Rede Globo/Divulgação
A coincidência de nomes entre o marido e o sobrinho na ficção, ela conta, foi motivo de estranhamento no início da novela:
— Era engraçado olhar para o Humberto Carrão. No começo, achava estranho chamá-lo de Afonso em cena. Depois virou algo corriqueiro.
Heleninha (Paolla Oliveira), Celina (Malu Galli) e Afonso (Humberto Carrão) em ‘Vale tudo’ — Foto: Fábio Rocha/Rede Globo
Ao falar do marido, que a acompanhou no dia das fotos para a Canal e até fez “figuração” no ensaio, Malu não economiza elogios:
— Ele vibra muito com minhas conquistas, assim como eu vibro com as dele. É o maior entusiasta da minha vida, um companheiraço.
Malu Galli com o marido, o artista plástico Afonso Tostes — Foto: Arquivo e Instagram
Especialmente para esta reportagem, o Afonso da vida real de Malu retribui:
— Ela é uma pessoa muito especial, um acontecimento na vida de quem se aproxima dela. Na minha, então, foi além. Nosso encontro foi uma sorte! Nos apoiamos, nos amamos e, principalmente, nos divertimos muito.
Malu Galli com o marido, o artista plástico Afonso Tostes, e o filho — Foto: Instagram e Divulgação
Já Celina, que vive cercada por uma família problemática, tenta escapar um pouco dos seus dilemas através da leitura. Malu explica como surgiu a ideia de ter a personagem quase sempre com um livro na mão (veja à esquerda alguns títulos que já apareceram com a ricaça na novela):
— Tivemos aulas de etiqueta e também contamos com a consultoria do Bruno Astuto. Os bilionários não vão à cozinha, não se servem, eles são servidos o tempo todo. Como muitas cenas da Celina a mostram sentada, tomando café ou chá, não teria muita ação. Então decidimos que ela leria livros. É a equipe de arte da novela que seleciona os títulos.
O figurino luxuoso da personagem, que ganhou até um perfil no Instagram (@closetdatiacelina) feito pelos fãs, foi pensado pela figurinista Marie Salles e sua equipe. O cabelo curtinho e moderno, porém, foi ideia da própria Malu:
— Cheguei com a ideia do corte. E o figurino da Celina virou um acontecimento! Ela frequenta exposições de arte e tem essa pegada. Sua imagem mistura cores vivas, estampas, cortes modernos e bijuterias grandes. O legal é que ela é zero perua.
Celina (Malu Galli) e Heleninha (Paolla Oliveira) em ‘Vale tudo’ — Foto: Marcos Serra Lima/Rede Globo
Malu admite que usaria várias peças da personagem e que adoraria guardar alguma lembrança ao fim da novela:
— Sou louca pelos braceletes dela, são lindos. Digo que são os escudos da Mulher-Maravilha. Mas tudo que ela usa é caríssimo. É o conceito “quiet luxury”, peças que vão totalmente contra a ostentação, mas que custam uma fortuna.
Celina nas duas versões de ‘Vale tudo’ — Foto: Divulgação/ Rede Globo
Já sobre a possibilidade de eventualmente emprestar algo do seu guarda-roupa da vida real para Celina, a atriz brinca:
— Não tenho nada assim como a Celina. Imagina se eu tivesse alguma coisa que ela pudesse usar! Realmente sou uma pessoa simples.
Violeta (Malu Galli) e Eugênio (Marcello Novaes) fazem participação em ‘Garota do Momento’ — Foto: Léo Rosario/Rede Globo
Além do visual moderno, a Celina do remake tem sua relação tóxica com Odete evidenciada. Na versão de 1988, esse conflito era mais sugerido do que necessariamente mostrado.
— A Celina do passado era doce, suave, mas também tinha força nas opiniões. Só que não ia contra a Odete como agora. Antes, a manipulação da irmã não estava tão clara na história. A Manuela Dias (autora do remake) trouxe isso para a superfície. Ao ler os capítulos, percebi que havia um novo caminho para desenhar essa relação tóxica entre elas — compara a atriz.
Maria de Fátima (Bella Campos) e Celina (Malu Galli) se enfrentam, em “Vale tudo” — Foto: Rede Globo/Divulgação
Chamada de covarde por Raquel (Taís Araujo) após vender a Paladar para Odete, Celina realmente não conseguiu se justificar. Nas redes sociais, parte do público da novela brincou que a personagem tinha se transformado em vilã.
— A Celina foi cancelada, coitada! — diverte-se Malu, completando: — Mas a história é uma montanha-russa. Ela é ferida e também comete erros, vítima dessa relação abusiva. Retrocede diante da Odete e não consegue enfrentá-la. Com a Heleninha (que é alcoolista), tem uma relação de codependência: muitas vezes, familiares adoecem junto com os dependentes. Celina infantiliza a sobrinha e se culpa pelo vício dela. É uma grande neurose. Na verdade, ela precisaria se tratar e fazer terapia.
Agradecimento: Pitty Basilio e Surubar @surubar.rj
Ficha técnica
Texto: Zean Bravo @zean.bravo
Fotos: Vinícius Mochizuki @viniciusmochizuki
Assistência de fotografia: Rodrigo Rodrigues e Josias Vieira @josiasvieirareal
Produção Executiva: Camilla Mota
Styling: Mari França @marifranca_
Assistente de styling: Fabiola magalhães @famagalhaess