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VARIEDADES

Chitãozinho e Xororó comandam ensaio dos sertanejos do Rock in Rio

9 de setembro, 2024 / Por: Agência O Globo

Dupla vai estrear no festival carioca ao lado de convidados como Junior Lima e Luan Santana

Chitãozinho e Xororó comandam ensaio dos sertanejos do Rock in Rio
Chitãozinho & Xororó são anunciados no Rock in Rio — Foto: divulgação/RIR

Chitãozinho (José Lima Sobrinho), de 70 anos, é um homem cheio de surpresas.

— Eu já vi Iron Maiden, no meio da chuva, aqui em Interlagos… e amei! No meio daquele povo tudo de camiseta preta, eu era o único caipira. E também assisti ao Def Leppard em Miami — revelou o cantor, na última terça-feira, na sede do Instituto Baccarelli, na comunidade paulistana de Heliópolis, onde foi participar do primeiro ensaio do show “Pra sempre sertanejo”, que ocupará o Palco Mundo do Rock in Rio em 21/9, o Dia Brasil do festival.

Nesta que será a primeira incursão da música sertaneja na história do evento, ele e o irmão Xororó (Durval de Lima, 66 anos, que viu por indicação do filho, o cantor Junior Lima, o show de Lenny Kravitz com abertura do Aerosmith em Miami) serão acompanhados pela Orquestra Sinfônica Heliópolis. Com arranjos sinfônicos do maestro Jetter Garotti, a dupla que mudou os rumos da música caipira e ajudou a criar o pop sertanejo no começo dos anos 1980, recebe com sua banda (dirigida pelo tecladista Claudio Paladini) grandes representantes de diferentes gerações do estilo: Junior, Simone Mendes (ambos de 40 anos), Luan Santana (33) e Ana Castela (20).

— A gente esperou muitos anos por este convite do Rock in Rio, mas eu não esperava tanta responsabilidade — confessou Chitãozinho. — Tem o Júnior, que é da família, e os outros são pessoas pelas quais a gente tem um carinho muito grande, desde o começo da carreira de cada um. E eles também têm um respeito muito grande por nós. A gente vai subir naquele palco para se divertir, porque a gente já cantou junto com eles em outros eventos, então, não vai ser tão difícil.

E Xororó completou:

— Ao longo da nossa carreira, a gente quebrou tantas barreiras, tantos tabus, não é? E no Rock in Rio não vai ser diferente, mais uma vez a gente vai cantar para um público diferente, mas com certeza um público brasileiro, que gosta de música sempre teve um carinho especial pelo nosso trabalho.

Não é nem a primeira vez de Chitãozinho e Xororó com orquestra (eles já tiveram um projeto sinfônico com o maestro João Carlos Martins), nem de flertes com o rock (em 2008, fizeram uma dobradinha com a banda Fresno no Estúdio Coca Cola). Na verdade, já nos anos 1970 eles já eletrificaram seus violões e violas (“a gente resolveu inovar que é pra conquistar um novo público”, conta Xororó) e agora, pouco antes do Rock in Rio, prometem lançar músicas de José e Durval, a persona “com a licença de pesar um pouco mais no rock”, como diz Xororó.

— O rock sempre esteve presente na nossa vida, na década de 1970 eu ouvia muito Elton John, depois apareceu o Bon Jovi… esse rock mais romântico a gente sempre ouviu — disse Chitãozinho.

Xororó entregou:

— Quando a gente começou a levar para estrada uma produção grande, o nosso palco foi inspirado naquele do Yes, no primeiro Rock in Rio. A gente meio que copiou aquela ideia e levou pra estrada. A gente subia uma escada e aparecia no centro do palco!

E o Rock in Rio é só o começo para os irmãos: há alguns dias, eles foram escolhidos como os homenageados do Prêmio da Música Brasileira de 2025.

— Vai ser demais ver João Bosco, Caetano Veloso, os cariocas, os baianos cantando nossas músicas — comemorou Xororó.

— A gente não é só cantor sertanejo, a gente é música brasileira, com muito orgulho. A nossa origem é caipira, mas graças a Deus a nossa música sertaneja cresceu tanto que virou algo muito importante dentro do cenário da música brasileira — devolveu Chitãozinho, que pouco antes do ensaio, junto com o irmão, ouviu um coral de 40 alunos do Instituto Baccarelli, com idades entre 12 e 15 anos, homenageá-los com músicas de Adoniran Barbosa e alguns de seus grandes sucessos, como “Evidências” e “Fio de cabelo”.

No ensaio, onde cantou um medley de seus sucessos (“Meteoro”, “Acordando o prédio”, “Você não sabe o que é amor”), Luan Santana se disse honrado com o convite para estar ao lado de Chitãozinho e Xororó no “Para sempre sertanejo”:

— A gente representa um momento muito bonito, ali de 2008, 2009, em que aconteceu uma revolução muito legal na música sertaneja, e ela começou a atingir os grandes polos de novo. Ela começou a conquistar o coração dos mais jovens, da criançada… foi uma renovação de público muito importante, da qual a gente ainda colhe os frutos.

Para Luan, que foi ao Rock in Rio apenas uma vez, para ver Elton John (“não tem como você olhar aquele palco e não falar ‘cara, queria tocar aí!’”, suspirou), o sertanejo “é o estilo que mais abrange os outros estilos”.

— Ele abre as portas para parcerias e feats. Dificilmente você vê o contrário, outros estilos abrindo as portas, chamando artistas sertanejo pra participar. Acho que esse é um dos motivos de a música sertaneja ser tão popular — teorizou. —Minha música tem uma essência muito sertaneja ainda hoje em dia, porque o que eu ouço, o que eu mais gosto de ouvir no meu tempo livre é aquele disco de estúdio de 1985 do Chitão. A gente acaba trazendo um pouco disso para as nossas músicas, por mais que os arranjos sejam mais modernos.

Já Ana Castela, também presente ao ensaio, nunca foi ao Rock in Rio. E neste, além de cantar com os amigos sertanejos, quer ver a estrela americana Katy Perry.

— Só de o sertanejo de estar ali, para nós assim é um é um baita passo, mostra que a gente pode conquistar o que a gente quer — festejou.

Quem também exultava com o ensaio era o vice-presidente artístico da Rock World (empresa que produz Rock in Rio e The Town), Zé Ricardo, o mentor do “Pra sempre sertanejo”. Pela primeira vez, ele ouvia com a orquestra os arranjos de Jether Garotti.

— É uma coisa para emocionar, porque às vezes o arranjo de cordas pode ficar muito correto e não emocionar. A gente está falando de uma dupla pop que se comunica com o Brasil inteiro. Essa é uma homenagem do Rock in Rio pelo que eles representam para a música sertaneja — disse ele, também satisfeito com a escolha do elenco do show. — Acho que eu consegui encontrar uma história mais rica por ter construído uma linha do tempo e ter achado os elementos certos para montar essa linha do tempo!

A Orquestra de Heliópolis já tinha participado do Rock in Rio no espetáculo com o projeto Mondo Cane de Mike Patton, cantor do grupo Faith No More (em 2011) e, ano passado, no The Town, em show com os Racionais MC’s. No “Para sempre sertanejo”, ela vem completa, com 72 músicos, boa parte deles alunos do Instituto Baccarelli, que está para completar 28 anos e que, até o fim do ano, planeja abrir seu novo teatro, uma das maiores salas de música do Brasil. Hoje, o Instituto tem 1.420 alunos, crianças de Heliópolis que, depois de formadas, acabam indo fazer parte de diversas orquestras brasileiras e até algumas de fora do país.

— Muitos anos atrás, quando a gente começou a aparecer mais na mídia, uma mãe chegou numa reunião pedagógica e disse: “eu estou feliz porque Heliópolis continua nas páginas dos jornais, só que agora nas páginas de cultura não mais nas de polícia, estão falando do talento dos nossos filhos e não das mazelas da nossa da nossa comunidade.”— contou o CEO do Instituto Baccarelli e maestro do espetáculo, Edilson Ventureli. — Essa frase eu guardei porque eu acho que ela resume o sentimento da comunidade em relação ao nosso trabalho.

Num intervalo do ensaio, Xororó conversou com os músicos da orquestra e lembrou das próprias dificuldades que passou com o irmão, no fim dos anos 1960, quando perseguiam a carreira artística:

— A gente pensou em desistir, faltava dinheiro, mas a gente seguiu nos cirquinhos da vida e chegou lá. A música salva vidas.

*O repórter viajou a São Paulo a convite do festival


BS20240909030108.1 – https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2024/09/09/chitaozinho-e-xororo-comandam-ensaio-dos-sertanejos-do-rock-in-rio.ghtml