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Cientistas descobrem mecanismo que pode impedir a metástase do câncer de pâncreas
14 de julho, 2022Estudo mostrou que o aumento de uma proteína nas células cancerígenas estimula a regressão dos tumores e diminui a sua periculosidade RESUMINDO A NOTÍCIA Proteína […]
Estudo mostrou que o aumento de uma proteína nas células cancerígenas estimula a regressão dos tumores e diminui a sua periculosidade
RESUMINDO A NOTÍCIA
- Proteína chave ajuda a transformar as células cancerígenas do pâncreas em uma forma menos agressiva
- Composto orgânico impede a metástase
- Estudo mostra que é possível mudar estado da célula para um mais fácil de tratar
- Pesquisa pode ser porta para novos medicamentos e tratamentos contra o câncer de pâncreas
Estudo recente publicado na Nature mostrou que o aumento dos níveis da proteína GREM1 nas células tumorais do câncer de pâncreas pode impedir que elas cresçam e causem metástase (espalhamento pelo corpo).
De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de pâncreas tem um comportamento violento e é de difícil detecção. Por essa razão, é diagnosticado tardiamente e acumula uma alta taxa de mortalidade. No Brasil, o câncer nesse órgão é responsável por cerca de 2% de todos os diagnósticos da doença e por 4% de todas as mortes.
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer, em Londres, combinaram esforços para estudar o câncer de pâncreas em camundongos e em “minitumores” pancreáticos, chamados de organoides, para detalhar o gene que desativa a proteína GREM1 e, consequentemente, possibilita a metástase da doença.
Os cientistas descobriram que, ao desligarem a GREM1, as células tumorais passam por uma mudança negativa e rápida: adquirem a capacidade de invadir novos tecidos e migrar pelo corpo. Segundo o estudo, em apenas dez dias, todas elas mudaram e tornaram-se mais perigosas e invasivas.
Além disso, o desligamento tornou os tumores mais propensos a se espalhar. Os pesquisadores também realizaram testes em camundongos com adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC) – a forma mais comum e agressiva da doença – e evidenciaram que, sem a presença do GREM1, 90% deles desenvolveram tumores que se espalharam para o fígado.
Nos casos em que a proteína estava funcionando normalmente, apenas 15% chegaram a essa situação.
Os pesquisadores também mostraram que, ao tomarem a atitude contrária, ou seja, em vez de desligarem a proteína GREM1, aumentarem os seus níveis, o processo de metástase poderia ser revertido e as células invasivas assumiam uma forma menos perigosa.
“Esta é uma descoberta importante e fundamental que abre um novo caminho para descobrir tratamentos para o câncer de pâncreas. Mostramos que é possível reverter o destino das células no câncer de pâncreas no laboratório – voltando o relógio em tumores agressivos e mudando-os para um estado que os torna mais fáceis de tratar”, informou Axel Behrens, autor sênior do estudo e líder da equipe de células-tronco do câncer no Instituto de Pesquisa do Câncer, em comunicado.
O estudo também constatou que outra proteína, chamada BMP2, participa da regulação da GREM1 e que, em conjunto, elas controlam as formas que as células de PDAC assumem.
A equipe acredita que este e os demais conhecimentos podem ser utilizados para encontrar formas de reverter o câncer de pâncreas em estágios mais avançados para um nível menos agressivo e mais fácil de tratar.
Os cientistas explicam que a ciência está em estágio inicial e que mais pesquisas são necessárias para descobrir e desenvolver tratamentos que de fato mudem o destino das células tumorais do câncer de pâncreas e estimulem o tumor a responder melhor às terapias.
Entretanto, constatações como as do estudo são primordiais para dar um direcionamento àqueles que procuram novos medicamentos e tratamentos contra o câncer.
“Esta nova descoberta ampliou nossa compreensão da base molecular de como o câncer de pâncreas ganha a capacidade de crescer e se espalhar pelo corpo. Embora seja necessário mais trabalho, esse tipo de pesquisa fundamental é essencial para desenvolver conceitos para tratamentos novos e mais eficazes contra o câncer”, detalhou Kristian Helin, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa do Câncer, em comunicado.
Há dois tipos de câncer de pâncreas. Os tumores exócrinos são mais frequentes e agressivos, sendo o mais comum o adenocarcinoma. Correspondem a 90% dos casos. Já os neuroendócrinos, que acometeram Aretha Franklin e Steve Jobs, são mais raros e de progressão mais lenta
De acordo com a Fundação de Pesquisa de Tumor Neuroendócrino, o período entre o surgimento do tumor e seu diagnóstico vai de cinco a dez anos. A oncologista explica que exames de sangue não apontam para o câncer de pâncreas e que somente exames menos comuns, como tomografia e ressonância magnética, são capazes de relevar a doença
O tratamento varia de acordo com a possibilidade de retirada cirúrgica do tumor. Caso não seja possível sua remoção, são utilizados medicamento e quimioterapia
O tabaco é o principal fator de risco para o surgimento desse tipo de câncer, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer). Quem fuma tem três vezes mais chance de desenvolver a doença. Quanto maior a quantidade e tempo de consumo, maior o risco. A doença está relacionada também ao consumo excessivo de carnes, gordura e bebidas alcoólica e à exposição a compostos químicos, como solventes e petróleo
Para prevenir a doença, a oncologista orienta que se mantenham hábitos saudáveis como não fumar, evitar bebidas alcoólicas, manter uma dieta rica em frutas, legumes e castanhas e pobre em gorduras animais e comida processada, além de atividade física regular
Exames genéticos revelam se existe predisposição à doença, no entanto, o oncologista afirma que eles não são indicados como rotina. A mutação genética hereditária mais comumente associada ao câncer de pâncreas é a mutação do BRCA, que pode auxiliar na escolha do tratamento, principalmente em casos de metástase, além de orientar sobre cuidados de prevenção em parentes de primeiro grau do paciente portador da doença e da mutação. Mas a indicação desse exame deve ser individualizada e discutida com o oncologista
A mutação do BRCA está associada a cânceres de mama, ovário, próstata e pâncreas. Já o câncer de intestino, por exemplo, quando hereditário, está relacionado a outra síndrome genética, segundo a oncologista
O câncer pode ser hereditário ou esporádico, desenvolvido a partir de hábitos de vida. Ambos apresentam os mesmos genes alterados. No câncer hereditário, a mutação do gene é herdada dos pais e está presente em todas as células do corpo. No esporádico, ela é adquirida ao longo da vida e não passa para aos descendentes
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