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Cientistas descobrem uma maneira de apagar memórias ruins

15 de janeiro, 2025 | Por: Agência O Globo

Estudo testou técnica que reativa lembranças positivas durante o sono e as sobrepõe às recordações negativas

Ténica ajuda a apagar memórias ruins. — Foto: Freepik

Cientistas da Universidade de Hong Kong desenvolveram uma nova técnica para eliminar memórias ruins que envolve a reativação de lembranças positivas durante o sono. O procedimento foi testado com sucesso em um estudo pequeno publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

“De modo geral, nossas descobertas podem oferecer novas percepções relevantes para o tratamento da lembrança patológica ou relacionada a traumas (…) Nosso estudo convida pesquisas futuras a aproveitar o potencial das técnicas de edição de memória baseadas no sono para gerenciar memórias aversivas e promover o bem-estar psicológico”, escrevem os autores no artigo.

Os pesquisadores explicam que a reativação de memórias é algo que acontece naturalmente durante o sono, mas que esse processo pode ser manipulado por meio de uma ferramenta chamada de Reativação da Memória Direcionada (TMR, da sigla em inglês).

Ela funciona associando recordações a sinais sensoriais, como odores ou sons. Depois, esses sinais são apresentados novamente durante o sono para que, de modo inconsciente, o cérebro os ligue às lembranças e reative aquela memória específica.

“As pesquisas sobre TMR aumentaram drasticamente na última década com rápidos desenvolvimentos”, afirmaram duas autoras alemães que publicaram uma revisão sobre o tema no ano passado na revista científica npj Science of Learning, do grupo Nature.

Agora, os cientistas de Hong Kong decidiram testar o uso da TMR para eliminar memórias consideradas negativas. Para isso, o estudo recrutou 37 voluntários, de em média 20 anos, que foram expostos a 48 imagens consideradas positivas e 48 negativas.

No primeiro dia, foram apresentados aos participantes as imagens negativas, que foram associadas a palavras aleatórias. Depois os voluntários tiveram uma noite de sono para consolidar aquelas memórias.

No dia seguinte, os cientistas exibiram as imagens positivas e tentaram associar metade das palavras usadas na sessão anterior com os novos conteúdos. O objetivo era que uma mesma palavra ficasse ligada tanto a uma memória negativa, como a uma positiva.

Durante a segunda noite, foram reproduzidas gravações das palavras ao longo da fase de sono chamada de movimento não rápido dos olhos (NREM), conhecida por ser importante para o armazenamento da memória.

Os pesquisadores observaram que a atividade da banda teta no cérebro, ligada ao processamento da memória emocional, aumentava em resposta às gravações. E, por meio de questionários conduzidos nos dias subsequentes, descobriram que os voluntários eram menos capazes de recordar as memórias negativas que haviam sido misturadas com as positivas.

Segundo os responsáveis pelo estudo, as lembranças boas tinham maior probabilidade de aparecer na cabeça dos participantes quando a gravação de uma palavra associada a ambas as memórias era reproduzida, ou seja, reativando a positiva e a sobrepondo à negativa.

“Nossos resultados foram alinhados com pesquisas recentes de TMR que demonstraram que o esquecimento episódico poderia ser induzido por meio da reativação de memórias interferentes durante o sono”, explicam os autores no estudo.

“Os achados sugerem que a TMR reativou preferencialmente memórias positivas recentemente adquiridas e enfraqueceu memórias aversivas mais antigas, alterando assim o destino das experiências emocionais (…) Em suma, nosso estudo apresenta uma nova abordagem para enfraquecer memórias aversivas mais antigas durante o sono”, continuam.


BS20250113134251.1 – https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2025/01/13/cientistas-descobrem-uma-maneira-de-apagar-memorias-ruins.ghtml

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