ECONOMIA
Clima extremo faz preços globais de alimentos terem a maior alta desde a invasão da Ucrânia
1 de outubro, 2024 / Por: Agência O GloboÍndice que mede commodities agrícolas sobe 6,9% em setembro, maior variação desde fevereiro de 2022
Seca extrema no Brasil, chuvas torrenciais na Ásia e mudanças abruptas de temperatura em diferentes países aumentaram os temores com as próximas safras e já estão levando a uma forte alta nas cotações globais de commodities agrícolas, o que pode acabar repercutindo nos preços ao consumidor.
O índice da Bloomberg de Agricultura — que acompanha as cotações de nove dos principais produtos agrícolas — fechou setembro com alta de 6,9%, a maior desde fevereiro de 2022, quando a invasão da Ucrânia pela Rússia fez essa taxa disparar para 8,6%.
A Ucrânia é um grande produtor de alimentos e, naquela ocasião, o temor dos efeitos da guerra acabou provocando uma forte alta nos preços.
A subida do índice agora reflete o custo do clima extremo. Brasil, Vietnã e Austrália tiveram condições adversas, com perdas para a produção de perdas para a produção de açúcar, grãos e café.
– Recentemente, vimos uma confluência de condições climáticas piores que elevaram os preços, e a incerteza sobre a oferta deixa os compradores dispostos a pagar mais – disse Michael Whitehead, chefe de pesquisa de agronegócio do ANZ Group.
É uma reviravolta em relação ao início deste ano, quando os preços dos alimentos ficaram sob controle diante da perspectiva de oferta elevada e demanda fraca em grandes mercados, como a China.
Se a alta das commodites agrícolas continuar, pode afetar os preços de alimentos nos supermercados, disse Dennis Voznesenski, diretor associado de economia sustentável e agrícola do Commonwealth Bank of Australia.
O índice de commodities agrícolas rastreia safras usadas para alimentar gado, adoçar bebidas e fabricar pão. Outras lavouras de menor relevância, como o cacau, também viram os preços subirem com força em 2024, diante do clima adverso na África Ocidental.
Soja, cana e café no Brasil, trigo na Austrália
A cotação do trigo na Bolsa de Chicago subiu em setembro em meio à a preocupações de que o mau tempo nos principais exportadores reduza ainda mais os estoques globais do alimento, que já caminham para uma mínima de nove anos. As plantações australianas têm enfrentado tanto seca quanto geadas, e a falta de chuva na região do Mar Negro restringiu o plantio para a próxima safra.
Enquanto isso, os futuros de soja caminham para a maior alta mensal em dois anos, enquanto o Brasil enfrenta sua pior seca em décadas. As condições áridas — que restringiram o ritmo do plantio — devem persistir em algumas áreas, preveem especialistas.
E os incêndios nas plantações de cana-de-açúcar do país elevaram os futuros de açúcar em quase 17% este mês.
O café arábica atingiu a cotação mais alta desde 2011 com o mau tempo no Brasil, que afeta as plantas durante o período crucial de floração. tão cara. A seca no Vietnã, seguida por fortes chuvas à medida que a colheita se aproxima, também prejudicou a produção do café.
Em outras partes do Sudeste Asiático, o fornecimento de óleo de palma diminui e os futuros atingiram uma máxima de cinco meses e são negociados com um raro prêmio em relação ao óleo de soja.
Tudo isso significa mais pressão em toda a cadeia de abastecimento.
A seca em grande parte do norte e centro-oeste do Brasil provavelmente continuará a ameaçar as safras, segundo analistas do JPMorgan. Além disso, o mercado está de olho nas tensões no Oriente Médio e no Mar Negro, e em como o resultado da eleição nos EUA deve impactar as relações comerciais do país com a China, de acordo com Whitehead.
– Há um grau razoável de volatilidade que os mercados não podem ignorar – disse.