POLÍTICA

Com Centrão distante do governo Lula, PT aposta em alianças locais com novos presidentes eleitos

8 de julho, 2025 | Por: Agência O Globo

Dos 16 nomes que ficarão a frente de diretórios estaduais confirmados até a noite de ontem, 11 adotaram o discurso de privilegiar alianças

Em Segipe, Rogério Carvalho já articula apoio governador Fábio Mitidieri (PSD);  Diego Zeidan <italic>(de branco)</italic>, com o pai, Washington Quaquá, em primeiro plano
Em Segipe, Rogério Carvalho já articula apoio governador Fábio Mitidieri (PSD); Diego Zeidan (de branco), com o pai, Washington Quaquá, em primeiro plano — Foto: Reprodução

Com as eleições internas do PT realizadas no domingo, o partido do governo Lula terá à frente uma nova geração de dirigentes considerada mais aberta ao diálogo com siglas de centro e centro-direita. Essa tendência, observada principalmente no Nordeste e em estados estratégicos do Sudeste e Centro-Oeste, antecipa o plano da legenda para as eleições de 2026, quando deverá buscar alianças amplas para palanques competitivos ao Senado, aos governos estaduais, além do federal, onde o governo vive distanciamento de lideranças nacionais de partidos do Centrão.

Dos 16 presidentes de diretórios estaduais confirmados até a noite de ontem, 11 adotaram o discurso de privilegiar alianças. O resultado da eleição nacional, que confirmou o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva no comando da sigla (mais detalhes abaixo), completa o quadro de petistas considerados mais moderados.

O perfil desses novos dirigentes contrasta com a retórica adotada pelo partido nas últimas semanas, quando retomou a aposta na polarização entre “ricos e pobres” para mobilizar a militância e enfrentar o desgaste do governo Lula. Na prática, porém, as disputas internas revelam um movimento de acomodação com forças locais, como MDB, PSD, PSB e União Brasil, mirando a governabilidade e as composições eleitorais futuras.

A vitória de Edinho se sustentou principalmente em estados com grande número de filiados, como São Paulo, berço do PT, onde o deputado Kiko Celeguim foi reeleito.

Celeguim é visto como uma figura de diálogo com o centro e simpático à ideia de compor um arco de alianças de centro e esquerda. Em janeiro, ele esteve em um jantar da bancada paulista organizado pelo PP em apoio à candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara, em uma pizzaria no centro de São Paulo. O evento teve discursos do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e de bolsonaristas, como o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).

Composição com aliados

Nos estados onde a eleição do PT já foi concluída, a lógica da composição predominou. Alagoas e Paraíba elegeram, respectivamente, os deputados estaduais Ronaldo Medeiros e Cida Ramos, ambos com trânsito junto aos governadores Paulo Dantas (MDB) e João Azevêdo (PSB). No Piauí, a escolha foi por Fábio Novo, que no ano passado disputou a prefeitura de Teresina em uma ampla aliança que incluía até o PSDB, oposição ao PT no âmbito nacional. Já em Sergipe, o senador Rogério Carvalho comandará a sigla e já articula apoio do partido ao governador Fábio Mitidieri (PSD).

— Vamos reconstruir pontes, ampliar o diálogo com a sociedade e preparar o partido para os desafios que virão. O PT vai voltar a ser referência no nosso estado — disse o senador.

A eleição de Carlos Veras em Pernambuco, embora marcada por disputas internas, também reflete essa lógica. Veras recebeu apoio de setores ligados tanto ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), quanto à governadora Raquel Lyra (PSD), simbolizados pelos senadores Teresa Leitão e Humberto Costa, respectivamente. Embora o grupo de Campos tenha mais ascendência sobre Veras, um palanque duplo em 2026 não está descartado.

No Rio, Diego Zeidan, filho do vice do PT Washington Quaquá e secretário do prefeito Eduardo Paes (PSD), provável candidato ao governo, foi eleito para comandar o diretório estadual. Ele derrotou a candidatura de Reimont, apoiada por uma ala mais ideológica representada pelos deputados federais Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara, e Benedita da Silva.

— Nós somos de uma corrente interna voltada ao diálogo, à construção política e queremos ampliar ao máximo o palanque do Lula no Rio e não restringi-lo a 30% como foi na eleição passada — disse Zeidan.

Já em Goiás, a deputada federal Adriana Accorsi venceu com apoio de setores que defendem diálogo com o governador Ronaldo Caiado (União), que será representado por seu vice, Daniel Vilela (MDB), no próximo ano. Ex-delegada de Polícia Civil, Accorsi nunca integrou a oposição mais barulhenta ao governador, que tem na segurança pública seu principal ativo.

Em Mato Grosso do Sul, por outro lado, a eleição do deputado federal Vander Loubet indica uma ruptura iminente com o governador Eduardo Riedel (PSDB). Loubet prega o fim da aliança e critica os acenos recentes do governador à base bolsonarista. Riedel defendeu a anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro.

Projetos individuais

A escolha dos novos dirigentes também passa por projetos individuais. No Paraná, a disputa entre o deputado federal Zeca Dirceu e o estadual Arilson Chiorato traduz um embate interno sobre quem disputará o Senado em 2026. Zeca quer presidir o diretório e ser candidato à vaga. Já Arilson, apoiado pela ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), defende sua permanência e pavimenta o caminho para uma eventual candidatura da ministra. Até a noite de ontem, os dois estavam empatados.

No Ceará, o candidato do prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão, e do governador Elmano de Freitas, Antonio Conin, venceu a disputa contra o grupo da deputada federal Luizianne Lins.

Em Minas, a votação será reagendada nesta terça-feira, em reunião marcada para o fim da tarde. A direção nacional adiou as eleições, na noite de sábado, após a deputada federal Dandara Tonantzin obter uma liminar para concorrer. Sua candidatura havia sido barrada devido a uma dívida de campanha e a parlamentar recorreu à Justiça alegando ter feito o pagamento. Ontem, a medida cautelar foi derrubada em segunda instância. Aliados de Dandara, no entanto, prometem recorrer, o que pode arrastar o impasse por mais tempo.

Apesar do fogo cruzado, Tonantzin e sua principal adversária, a deputada estadual Leninha, compartilham o mesmo projeto eleitoral: ambas apoiam o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD) para o governo de Minas e fazem oposição ao governador Romeu Zema (Novo).

Estados como Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Tocantins ainda não finalizaram o processo eleitoral. Em Santa Catarina, haverá segundo turno entre os deputados estaduais Fabiano da Luz e Luciana Carminatti. (Colaborou Samuel Lima).


BS20250708063021.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/07/08/com-centrao-distante-do-governo-lula-pt-aposta-em-aliancas-locais-com-novos-presidentes-eleitos.ghtml

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