POLÍTICA

Com novo marqueteiro, Zema se diferencia de Tarcísio e adota estratégia de ataques a Lula

13 de março, 2025 | Por: Agência O Globo

Governador de Minas trocou farpas com o presidente em dois eventos oficiais e deu tréplica

Romeu Zema e Lula em evento em BH — Foto: Ricardo Stuckert

Com o objetivo de se cacifar à Presidência da República, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem investido em uma estratégia de ataques ao governo federal. A postura contrasta com a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, em agenda conjunta há duas semanas, adotou um tom conciliador e fez elogios ao presidente Lula (PT). Ambos são cotados para representar a direita nas eleições presidenciais do ano que vem, quando Lula buscará a reeleição.

O mais recente embate entre Lula e Zema ocorreu nesta terça-feira, durante dois eventos do Palácio do Planalto em Minas Gerais. O governador aproveitou as ocasiões para criticar o que considera um inchaço da máquina pública no governo federal e relembrar os anos em que o PT governou o estado. Em resposta, Lula destacou o crescimento de 3,4% do PIB em seu governo e defendeu a qualidade de seus ministros, além de questionar os investimentos realizados por seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), em Minas Gerais.

Os desentendimentos geraram desconforto em ambos os eventos. No primeiro, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tentou amenizar a tensão com uma piada. No segundo, a primeira-dama Janja da Silva optou por não assistir ao discurso de Zema.

Mesmo após as solenidades, as críticas continuaram. O governador mineiro fez uma nova publicação na manhã desta quinta-feira com críticas ao governo federal: “Enquanto o presidente tá em modo avião, aqui em Minas estamos fazendo o dever de casa, equilibrando as contas e investindo com responsabilidade”, postou.

O termo, aliás, também foi adotado pelo governador em entrevista ao GLOBO. Além das críticas ao presidente, Zema alfinetou Janja.

— Conheço muito pouco a primeira-dama, aliás, não a conheço, né? E pelo visto, ela vive também em modo avião.

Zema também rebateu a comparação com Bolsonaro, chamando-a de “descabida” por desconsiderar o período da pandemia, e chamou os investimentos federais em Minas de insuficientes:

— Minas precisa de muito mais, até porque somos o estado número um da balança comercial (…) A relação com Lula é cordial, mas ele está desconectado da realidade. Essa gastança do governo joga gasolina na inflação e, a longo prazo, vai destruir o Brasil.

Os posicionamentos recentes de Zema contrastam com a postura que tinha até o ano passado, em eventos do governo federal. Em fevereiro de 2024, em Belo Horizonte, o governador fez um discurso falando sobre “deixar as diferenças de lado” em nome da boa política. Nesta solenidade, os dois ainda sentaram lado a lado e conversaram em diversos momentos.

Conforme o Globo apurou, à época, o assunto em voga naquele momento era a renegociação da dívida pública do estado que, após a aprovação do Propag, deixou de ser uma problemática.

Outro fator que explica a mudança de estratégia é a troca de seu marqueteiro. No início de 2025, Zema substituiu Leandro Groppô, responsável por sua campanha em 2018, por Paulo Pereira, profissional conhecido por atuar em campanhas de políticos tradicionais, como o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.

Desde então, Zema tem intensificado as críticas a Lula e aumentado sua presença na mídia, buscando ampliar sua projeção nacional. Por ser visto como um representante de uma direita mais moderada, aliados avaliam que ele poderia se tornar o herdeiro do eleitorado conservador caso seu nome ganhe força nas pesquisas.

Apesar da movimentação política, Zema nega intenções presidenciais e insiste em seu discurso de “outsider”:

— Eu não sou político. Sou um mineiro inconformado com o que fizeram com o meu estado e decidi contribuir com Minas. Vou também contribuir com o Brasil.

Nos bastidores, há quem acredite que Zema não disputará a Presidência, mas que sua projeção pode favorecer nomes ligados ao seu grupo político, como o vice-governador Mateus Simões (Novo) e o secretário de Governo Marcelo Aro (PP), que é apontado como candidato ao Senado.

Enquanto Zema busca consolidar sua imagem junto ao eleitorado de direita, Simões adota um tom mais centrista. Com o bolsonarismo apoiando a candidatura do senador Cleitinho (Republicanos), o vice-governador poderia se beneficiar da falta de nomes competitivos na centro-esquerda. O favorito, o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD), tem reiterado que não tem interesse em concorrer ao governo de Minas.

Tarcísio adota tom conciliador

Em contraste com Zema, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem adotado uma postura mais diplomática em relação ao governo federal. No fim de fevereiro, durante o anúncio da construção do túnel Santos-Guarujá, Tarcísio agradeceu publicamente a Lula pela priorização da obra:

— Presidente, eu quero agradecer o senhor porque, desde o início das nossas conversas, colocou esse túnel como prioridade. O senhor falou: “Não está na hora de ter disputa política, temos que atender o cidadão”. É o que estamos fazendo hoje aqui.

Segundo a coluna de Bela Megale, Bolsonaro ficou surpreso com o gesto e não gostou. Em outros momentos do governo, a postura de Tarcísio com Lula provocou críticas públicas de aliados do ex-presidente. Apesar disso, ele desponta como o governador preferido para disputar a Presidência.


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