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Como Vini Jr manteve força e se tornou referência na luta antirracista no futebol

11 de junho, 2024 / Por: Agência O Globo

Craque brasileiro atualmente é o grande ícone no combate ao preconceito no esporte

Como Vini Jr manteve força e se tornou referência na luta antirracista no futebol
O atacante Vinicius Junior descarta o favoritismo da seleção brasileira frente ao próximo adversário, a Croácia - Foto: Lucas Figueiredo/cbf

A decisão histórica da Justiça da Espanha, que na segunda-feira condenou à prisão três torcedores do Valencia por racismo contra Vini Jr, foi um passo enorme na luta antirracista no futebol. Além de uma vitória da sociedade como um todo, a sentença também foi um triunfo pessoal do craque brasileiro, que nunca se calou e sempre cobrou punição aos atos de preconceito.

O brasileiro transcendeu as quatro linhas para se tornar um ícone em meio aos gritos racistas no futebol espanhol. Vini mostrou resiliência para não deixar os preconceituosos se tornarem protagonistas em um cenário que, aos poucos, sai da inércia.

– Vini se tornou alguém tão grande no combate ao racismo no futebol mundial porque ele é um atleta que está em atuação. Na maioria das vezes, o que a gente percebe, é que esse silenciamento, esse falar sobre racismo, vem muito de ex-jogadores. O Vini é um atleta que está atuando e mais do que isso, é um dos principais atletas do futebol mundial, cotado para ganhar o prêmio de melhor jogador do mundo. Um jogador desse tamanho falando sobre racismo, quebrando o silêncio e cobrando punições aos envolvidos, acaba se tornando essa voz potente no mundo. Ele não se calou.

Importante também a gente entender que em momento algum ele abaixou a cabeça e aceitou a inação das autoridades. Vini entendeu que ele precisava cobrar respeito e punição. Ao não silenciar e continuar sempre falando e cobrando, ele acabou se tornando dentro do futebol mundial a referência na luta antirracista – disse Marcelo Oliveira, presidente do Observatório Racial do Futebol, em entrevista ao Globo.

A luta antirracista de Vinicius Junior no futebol não é de hoje. Desde que chegou ao futebol espanhol, em 2018, o brasileiro convive com frequentes ataques racistas de torcedores rivais como, por exemplo, do Barcelona, do Mallorca, do Real Valladolid, do Sevilla e, principalmente, do Atlético de Madrid – onde chegaram a pendurar um boneco com a camisa de Vini sendo enforcado em uma ponta da capital espanhola.

Mesmo com tudo isso, o camisa 7 do Real Madrid mostra dia após dia que não vai abaixar a cabeça e, talvez por conta de suas atitudes, tenha se tornado uma figura imponente e importante nas ações de combate ao preconceito.

Logo após o caso envolvendo os torcedores do Valencia, por exemplo, a seleção brasileira fez um amistoso contra Guiné, quando atuou por 45 minutos com camisas pretas em uma ação da CBF em apoio à luta antirracista.

O tamanho do Vini Júnior é gigantesco. Ele já era grande porque ele tinha conseguido levar o debate para Espanha, depois com o apoio da CBF, do governo brasileiro, de tantas outras autoridades, ele conseguiu fazer com que esse debate sobre racismo tivesse presente dentro do futebol, não só no momento que ele sofre racismo, mas em vários outros momentos. Não à toa que houve um amistoso da seleção brasileira com essa temática. Vini Jr vai ganhando esse tamanho e agora, com a primeira punição para casos de racismo na Espanha, ele se torna ainda maior.

A gente precisa lembrar que Vini não é o primeiro, nem o único atleta negro a sofrer racismo na Espanha, mas ele é um dos poucos que não ficou em silêncio. Mais do que isso, ele conseguiu, através da sua cobrança e do seu posicionamento, que torcedores racistas fossem condenados. Ele fez com que as autoridades na Espanha punissem torcedores racistas, algo que nunca tinha acontecido antes – afirmou Marcelo.

Vinícius Júnior chora ao falar sobre o racismo na Espanha — Foto: Rafael Ribeiro/CBF

POSICIONAMENTOS FORTES

A resistência de Vini Jr não ficou somente em ações de combate ao racismo. O brasileiro levantou sua voz ativa e sempre se posicionou publicamente para denunciar os casos de preconceito que sofreu no futebol espanhol. O brasileiro não mediu palavras para crescer o discurso antirracista e sempre confrontou aqueles que insistiam em ser racistas nos estádios espanhóis, até mesmo em jogos em que Vini sequer estava em campo.

Em 2021, quando começaram a surgir os primeiros ataques racistas direcionados a Vini Jr, o jogador falou sobre a luta contra o racismo em entrevista à revista inglesa ‘Gaffer’, quando afirmou que não iria parar de falar sobre assunto, tampouco de lutar pela igualdade.

Já em 2022, Vini Jr passou a ser ainda mais o centro dos ataques racistas no futebol espanhol. E principal caso aconteceu, curiosamente, fora dos gramados. Em um programa de TV, o presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores, Pedro Bravo, disse que Vini precisava “deixar de fazer macaquice” ao se referir a suas danças nas comemorações de seus gols.

A polêmica fez com que o brasileiro se posicionasse de uma forma contundente e gerasse ainda mais repercussão no mundo, principalmente por uma rede de suporte onde Vini foi abraçado e apoiado com a hashtag #BailaVini.

Ainda em 2022, na última partida do Real Madrid naquele ano, Vini Jr foi alvo de ofensas racistas e gritos de ‘macaco’ por parte de torcedores do Real Valladolid. Após a partida, o brasileiro postou um desabafo nas redes sociais e foi irônico ao dizer que ‘no final, a culpa é minha’.

O estopim foi em 2023, quando houve o caso que gerou a condenação de torcedores do Valencia. Durante a partida do Campeonato Espanhol, o brasileiro foi alvo de ataques racistas e chegou a partir para cima e bater boca com alguns indivíduos na torcida do Valencia. O ato foi a gota d’água para a discussão mais forte sobre o assunto na Espanha, muito por conta, também, de o brasileiro não ter abaixado a cabeça até mesmo para o presidente de La Liga, e cogitado deixar o Real Madrid.

Nesta segunda-feira, após a notícia da sentença da justiça espanhola, Vini Jr novamente se pronunciou sobre o caso e afirmou que não vai parar de denunciar atos racistas no futebol, dizendo que é o ‘algoz de racistas’.

PUNIÇÃO PODE SER LUZ NO FIM DO TÚNEL

A condenação inédita dos três torcedores do Valencia nesta segunda-feira serviu, não somente para punir os criminosos, como também um alento para o futuro da sociedade no futebol internacional. Vini Jr não foi o primeiro a sofrer racismo no futebol, mas pode ser encarado como uma referência na luta contra o preconceito por ter sido responsável por colocar torcedores preconceituosos em seu devido lugar.

– Sem dúvida é um avanço na luta contra o racismo na Espanha. A possibilidade de ir preso agora é algo que assombrará os racistas nos estádios espanhóis, e isso pode reduzir os casos. Não vai acabar com o problema, já que a mudança do pensamento só vai acontecer realmente com alterações estruturais na sociedade espanhola, mas já é um início. Um dos fatores de maiores indignação nos casos de racismo no futebol espanhol era a absoluta sensação de impunidade.

Vinícius Júnior se tornou o protagonista nessa luta, ao se ver envolvido nos principais casos. Sofreu, mas não teve medo de ser o rosto dessa luta. E assim deu voz a tantas outras pessoas, que ganharam confiança e respaldo para denunciar novos casos. Agora, com a condenação dos racistas de Valencia, novas vítimas terão ainda mais força para denunciar e buscar a punição dos envolvidos – projeta Gustavo Hoffman, correspondente da ‘ESPN Brasil’ em Madrid.


BS20240611150852.1 – https://oglobo.globo.com/esportes/noticia/2024/06/11/como-vini-jr-manteve-forca-e-se-tornou-referencia-na-luta-antirracista-no-futebol.ghtml