Posse COFECI-CRECI
Na última quarta-feira, uma noite prestigiada no Hotel Royal Tulip Brasília Alvorada.
Entre o tédio geral, leitores ativos e cultura renovada Tédio Não é esta a primeira vez– e não será a última, dá pra supor – em que este colunista sucumbe ao tédio ante a observação de tantos, tamanhos e reiterados absurdos do poder, que por muitas vezes repetidos causam mais cansaço que revolta. Não!, leitores; seu …
Tédio
Não é esta a primeira vez– e não será a última, dá pra supor – em que este colunista sucumbe ao tédio ante a observação de tantos, tamanhos e reiterados absurdos do poder, que por muitas vezes repetidos causam mais cansaço que revolta.
Não!, leitores; seu velho colunista não perdeu a capacidade de indignar-se, reagir aos desmandos que nos impingem mas, perdoem-me!, desta vez foi demais:
diante da persistente atuação do presidente da Câmara dos Deputados para dar consequência prática à espúria aliança de Bolsonaro com o centrão;
da inabilidade (ou impotência) da oposição congressual, incapaz de deter a marcha da insensatez;
da escassa capacidade da academia de propor soluções aos impasses e-ou convencer os políticos a adotá-las;
das idas e vindas dos analistas da imprensa na interpretação desses fatos e fenômenos… – é dose pra cavalo! e o provecto escriba rende-se ao desencanto, dá um tempo e enquanto isso resgata opiniões de leitores mais argutos na compreensão do que lhe escapa.
Surrealismo
Começo por Sérgio Alves e sua notável capacidade de síntese, a duvidar de minhas expectativas minimamente otimistas expressadas na anterior edição desta coluna, na qual constatava nossos fracassos e alguma esperança de que dê pra recomeçar, se Bolsonaro acabou:
– Coincidência, caro Marco P., leio este seu contundente texto no dia do Halloween. Nossa surrealista cultura política é inibidora de otimismo.
Em (não) se plantando…
Leiam Bartyra Soares, desiludida e irônica:
[…] – Se Caminha tivesse bola de cristal, jamais teria apenas escrito que na terra descoberta ‘em se plantando, tudo dá’. Acrescentaria: ‘em não se plantando’ também dá falcatruas, corrupções, rachadinhas, (i)legítimas intenções ditatoriais entre 2019 e 2021 […], sempre, maculando a ‘terra adorada’ – felizmente ainda amada por brasileiros bem-intencionados.
Cadê a mãe gentil?
Mais de Bartyra, a acentuar-lhe o desencanto:
– Desejaria que o realismo fantástico fosse apenas literário, sem as arbitrariedades [registradas em minhas colunas]. […] Que na distante Macondo de Gabriel García Márquez os ventos levassem as nuvens pejadas dos absurdos que ora vivemos. […] ‘E daí?’ perguntaria o ex-tenente (permita-me a apropriação), presidente de alguns, se é que já ouviu falar em Cem Anos de Solidão. [Não ouviu, Bartyra.]
[…] – Desolado Brasil, andando à procura da ‘mãe gentil’ proclamada no Hino Nacional – conclui ela.
Povo invisível
– O povo no ‘brasilzinho’ é invisível – percebe Elmer Corrêa Barbosa a partir de meus comentários sobre as pungentes revelações de pacientes enganados e usados por hospital e plano de saúde cujos dirigentes, bolsonaristas, ministraram-lhes as cloroquinas da vida sem autorização ou sequer conhecimento, deles e de suas famílias. O argumento de Barbosa:
– O drama vivido por algumas pessoas foi mostrado no último dia da CPI, mas eu imagino que existam mais de 100 mil relatos semelhantes e até mais dramáticos, que nunca serão relatados.
Ignorância ou interesse?
Adiro à sua conclusão, Elmer, tampouco teria reparos de conteúdo ao que argumenta: de fato haverá muito mais pessoas violentadas por picaretas que se aproveitaram (aproveitam-se) da crise, a emular primeiro o negacionismo e em seguida o apego do presidente a tratamentos descartados pela ciência – sabe-se lá por quê, com que intenções e interesses, à parte as óbvias ignorância e teimosia.
Justo por isso considerei oportunas as denúncias e testemunhos exibidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito: na impossibilidade de apresentar “cem mil relatos” vale a pena mostrar alguns, emblemáticos do horror bolsonário.
Medíocres, capiaus
As objeções e denúncias de Elmer, entretanto, ultrapassam de muito sua insatisfação com as consequências da Cpi, até mesmo a revelação das desastrosas (in)ações do governo Bolsonaro no enfrentamento, que só atrapalhou, da pandemia. Abro espaço a sua crítica de meus comentários ao artigo do jornalista Aylê Selassié sobre os males da reeleição:
– Tenho dúvida se o problema é a reeleição ou os eleitos. No Brasil não temos bons políticos, […] são indivíduos sem boa formação intelectual, sem princípios. […] E este regime de presidencialismo!, nossos presidentes têm mais poder que imperadores, só dependem de Congresso formado de medíocres, capiaus […].
Reduzir tudo
Elmer arrola outros argumentos: “Politico aqui é comprado pelo fundo partidário ou verbas liberadas pelos governos, sua vida em Brasília é um prêmio, os caras não gastam em nada […] e ainda recebem um troco gordo para as campanhas eleitorais, [tudo] criação de uma casta de notáveis medíocres e corruptos espertos” – antes de propor o que lhe parece solução:
– Reduzir o número de ‘depuFEdes’ [!] a dois por estado para a Câmara; um para o Senado […] e a verba partidária serviria para pagar TODAS as despesas de campanha e de manutenção do boneco em Brasília, durante o mandato.
Propostas radicais
Tem mais de Elmer:
– Acaba o horário gratuito, […] o Estado sai da disputa e tudo fica por conta dos partidos saberem ou não administrar os recursos. Deputados e senadores não têm assessores […], juízes idem… Cada casa teria funcionários públicos competentes capazes de redigir as leis […] e os juízes idem. Os ministérios reduzidos a cinco no máximo e o resto são secretarias executivas.
– Em cinco anos acabariam as mamatas – projeta – e manipulações da opinião pública. Se funciona em monarquias, porque não pode funcionar numa republiqueta como o Brasil?
A considerar
Enquanto deixo aos demais leitores a avaliação das radicais propostas de Elmer Barbosa, interponho uma ressalva:
não é absoluta minha oposição ao radicalismo; por exemplo, se confrontados por um projeto tirânico que nos ameaça o estado de direito e a democracia teremos de ser radicalmente contra, sem meios termos.
Já as radicais soluções aventadas pelo leitor serão alternativas a considerar, criticar e comparar a outras, que cada um saberá formular.
Por que não temos Nobel?
– O Brasil não tem uma política para o livro, a leitura e o escritor – quem denuncia é o mesmo leitor, agora em outro tema: comenta observação deste colunista, quase um lamento!, de que brasileiros jamais ganharam um Prêmio Nobel, embora Jorge Amado chegasse muito perto.
– Nossos escritores – ele observa –, […] se dependessem de livros vendidos, morreriam de fome. Quando o Partido Comunista divulgava a literatura do Jorge Amado ele ficou conhecido na Europa, […] mas depois foi esquecido. Era um bom contador de histórias, ao estilo dos realistas do século xix; usava a forma de falar do brasileiro dentro dos cânones europeus; historias bem contadas, mas longe de inovações literárias […].
Saramago cacifado
Elmer Barbosa tem mais explicações pertinentes:
– O Nobel é dado por duas motivações: uma revolução na narrativa ou motivação político-cultural. Saramago [primeiro escritor lusófono a conquistá-lo] ganhou o Nobel porque Portugal estava para entrar na União Europeia e precisava de cacife; o governo português pôs toda a tropa de choque diplomática e investiu pesado em traduções para o alemão, espanhol, francês, italiano e inglês.
– O resultado desse investimento levou três anos mas saiu, graças a um trabalho de formiguinha de Ray-Güde Mertin, tradutora e agente literária – assim ele termina essa parte do relato.
Desafio
Enriquecido por experiências pessoais, é um relato esclarecedor:
– No dia em que Saramago ganhou o Nobel me encontrei com ambos em Frankfurt e [o escritor] disse alto e bom som: ‘Devo isto a esta mulher!’.
[…] – Durante dez anos – continua – levamos (eu como diretor do Departamento Nacional do Livro e da Leitura da Fundação Biblioteca Nacional) autores, editores e livreiros à Feira de Frankfurt. Me encontrei com muitos agentes literários, tradutores, críticos de literatura de vários países e editores estrangeiros, tentando entender porque nossos autores não merecem atenção dos grandes editores. Este é o desafio.
Brasileiros desconhecidos
– No Dnl acertamos as dívidas que tínhamos com editores – conta Elmer Barbosa –, promovemos encontros no Rio de tradutores, críticos e professores estrangeiros. Queria identificar o problema da divulgação do autor e da literatura brasileira, por quê? […] nossos autores só são conhecidos de professores da literatura e língua portuguesa na Europa?
Numa manhã em Barcelona – revela –, Carmen Balcells me esclareceu: o problema não está na tradução nem no interesse […] em editar os brasileiros […].
Sem respostas
– As razões são as seguintes – Elmer cita Carmen Balcells Segala, agente literária de autores de língua espanhola, inclusive seis ganhadores do Prêmio Nobel, que impulsionou o boom da literatura latino-americana nos anos 1960:
(1) os publishers não leem português […];
(2) querem saber quantos exemplares um determinado autor vende em seu país e quantas obras tem publicadas;
(3) que tipo de leitor compra a obra do autor.
– Não somos capazes de atender a estas questões – lamenta-se – porque nossos autores vendem em média 3.000 exemplares de um titulo em 2 ou 3 anos.
Mercado pífio
– O retorno ($$$) desses autores é pífio – ele acrescenta, cada vez mais cáustico – e o mercado editorial brasileiro não existe de forma competitiva. Quantas pessoas compram livros no Brasil? quantas podem comprar livro a R$ 80, hoje?, cinco milhões? seis milhões? […] numa população de 213 milhões de indivíduos? […] Este pais pode ter entrado na era digital, a do telefone celular mas ainda não chegou à do livro impresso.
Não somos leitores
Meu erudito leitor informa que “nos países de leitores” – e cita Estados Unidos, Reino Unido, Suécia, Holanda, Espanha, Alemanha, Portugal, França, Itália, nossos vizinhos Chile, México, Colômbia, Venezuela, Argentina e mais a Rússia, a nova China – “os governos compram livros para as bibliotecas públicas […], segundo as vocações culturais locais.
– Nunca chegaremos lá – desencanta-se – com os políticos que temos. Não conseguimos até hoje entrar nem no mercado de livros e material impresso dos países da Cplp [Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa]; Portugal não permite.
Academia renovada
Pra não dizer que não falei de flores (obrigado!, Vandré), registro entusiasmado a eleição de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil à Academia Brasileira de Letras. Ambos irão honrar a Casa de Machado de Assis, acrescentar-lhe um sopro de reconhecimento popular que não se opõe, mas associa-se aos desideratos do ‘sodalício dos imortais’ (se posso resgatar antigo e merecido aposto) e completa-lhe a condição de guardiã, impulsionadora da cultura brasileira em suas múltiplas faces.
Excelências
Fernanda é a grande dama do teatro brasileiro, herdeira e continuadora da plêiade de extraordinárias atrizes que souberam harmonizar a excelência no metier à condição de estrelas de primeira grandeza no firmamento dos artistas populares, ídolos que influenciam e mobilizam multidões.
Gil não deixa por menos, sua inovadora presença na música popular brasileira resgatou a herança dos velhos mestres e não hesitou quando lhe pareceu oportuno superar – quer dizer, ir além da herança e acrescentar-lhe novas qualidades – o extraordinário acervo que insere a mpb entre as mais ricas manifestações da cultura musical em nosso tempo.
Engajados
Gil e Fernanda vão além, mais alto e profundo que a glória de cada qual em sua arte. São também e sobretudo exemplos de intelectuais engajados nas melhores causas desta nação que luta para erradicar a desigualdade e suas terríveis manifestações: ignorância, apatia política, pobreza, miséria, fome.
Tenho certeza de que a Academia receberá, honrada e prazerosamente, Fernanda Montenegro e Gilberto Gil.
Tributo a Octavio Malta (Última Hora, Rio, circa 1960) Marco Antônio Pontes ([email protected] ou [email protected])
Na última quarta-feira, uma noite prestigiada no Hotel Royal Tulip Brasília Alvorada.
Restaurante especializado em carne anuncia sua expansão. Inauguração está prevista para o segundo semestre, no Manhattan Shopping.
O presidente Lula diz que é muito cedo para fazer pesquisa sobre 2026 e para avaliar um governo que ainda tem quase dois anos no poder.
No Distrito Federal, o número de trabalhadores ocupados cresceu 4,6% entre dezembro de 2023 e dezembro de 2024, o que representa um acréscimo de 65 mil postos de trabalho. A taxa de desemprego caiu de 15,5% para 14,6% no mesmo período.