ECONOMIA

Conheça o ‘Rei do Ovo’, que já vendeu picolé e acaba de comprar uma das maiores granjas dos EUA

28 de março, 2025 | Por: Agência O Globo

Veia empreendedora de Ricardo Castellar Faria vem de longe; desde a sua infância

‘Rei do Ovo’, Ricardo Faria já vendeu picolé e acaba de comprar uma das maiores granjas dos EUA — Foto: Reprodução

A Global Eggs, empresa de capital fechado controlada pelo brasileiro Ricardo Faria, dono da Granja Faria e conhecido como “Rei do Ovo”, vai comprar por US$ 1,1 bilhão a Hillandale Farms, uma das maiores fornecedoras de ovos de galinha dos EUA. O anúncio foi feito por Faria em entrevista ao Financial Times.

A veia empreendedora de Ricardo Castellar Faria — que entrou para a lista de bilionários da Forbes no Brasil no ano passado — vem de longe. Mais precisamente da infância. Aos 7 anos, o garoto, filho de pai médico e mãe engenheira, nascido em Niterói, já faturava um dinheirinho. O quintal do pai, em Santa Catarina, tinha alguns pés de laranja e ele decidiu vender a fruta, carregando sacos até o centro da cidade.

Quando as férias chegavam a família ia para a praia, ele trocava a laranja por picolés. E passava algumas horas empurrando seu carrinho abastecendo as crianças como ele. Aos 16 anos, Ricardo, que pensava em seguir os passos de Américo Faria, o pai, foi fazer intercâmbio nos EUA para se preparar e cursar Medicina na volta.

Desistiu da carreira quado em terras americanas descobriu o potencial do agronegócio. “O Brasil tem três coisas fundamentais na área: terra, água e sol”, disse ele, em entrevista a um podcast especializado no assunto, em 2021. Ao retornar ao país, Ricardo prestou o vestibular para Engenharia Agrônoma.

Começava ali uma ascensão meteórica e a corrida por um patrimônio hoje na casa dos R$ 17,45 bilhões. Antes, porém, vendo que os frigoríficos da região tinham uma enorme demanda de costura de macacões, criou uma oficina para atendê-los. Percebeu ainda, que os uniformes tinham que ser lavados diariamente. Abriu uma lavanderia industrial para dar conta, que depois virou a maior rede de lavanderias industriais da América Latina e foi vendida em 2017 por R$ 1,3 bilhão para uma companhia francesa.

Com isso veio o aporte necessário para se lançar no mercado granjeiro, se tornando hoje o “Rei do Ovo”. Suas galinhas, criadas soltas, dão 7 milhões de ovos por dia. Algo que começou quando trocou 1 litro de leite que bebia por dia pela proteína.

“Consultei um nutricionista que me orientou a trocar o leite por quatro ovos diários. Já estava de olho no mercado, vendo que o consumo de ovo tinha aumentado o mundo inteiro, acompanhando os ovos hábitos alimentares da população”, contou.

Nas horas vagas, Ricardo, ou Tata para os íntimos, se considera um atleta. Faz pelo menos 15 horas de esporte por semana, entre o tênis, o beach tênis e a musculação, para participar de torneios nos quais “adora ganhar dos jovens de 20 e poucos anos”, costuma dizer. Tudo isso após acordar às 4h, se exercitar, trabalhar e voltar para casa às 20h.

Para dar conta das granjas e fazendas de grãos que possui no Centro-Oeste e Nordeste e sua casa de R$ 75 milhões, na Fazenda Boa Vista, em SP, ele tem dois jatos particulares. Empreendedor nato, Ricardo, de 49 anos, pai de dois filhos adolescentes, encara seus negócios como uma empesa familiar, na qual “o olho do dono engorda o gado”. No caso dele, as galinhas.

Preço nas alturas

A aquisição ocorre num momento em que os preços dos ovos dispararam nos EUA devido à gripe aviária, que está dizimando os rebanhos de galinhas poedeiras no país. E em meio a um forte aumento das exportações de ovos brasileiros, sobretudo para o mercado americano.

— Os americanos adoram ovos. É um mercado com alto consumo — disse Faria ao Financial Times.

Faria afirmou que a compra da Hillandale não foi motivada pelas dinâmicas recentes do mercado, mas sim parte de uma estratégia de expansão internacional. Segundo ele, os ovos se tornaram parte do cardápio das famílias de maior poder aquisitivo que, em busca de uma alimentação mais saudável, passaram a substituir pães e leite no café da manhã, por exemplo.

Com sede em Gettysburg, na Pensilvânia, a Hillandale foi fundada em 1958 por Orland Bethel, que dirige a empresa desde então. Faria, de 49 anos, entrou para a lista de bilionários da Forbes Brasil no ano passado, com uma fortuna estimada em R$ 17,5 bilhões (US$ 3 bilhões). A aquisição dobrará a produção de ovos das empresas controladas pela Global Eggs, que hoje tem uma receita de cerca de US$ 2 bilhões.

A Global Eggs foi formada no ano passado e opera no Brasil por meio da Granja Faria, fundada pelo empresário em 2006 e que se autodenomina líder de mercado. O grupo fez sua primeira incursão no exterior em novembro, pagando 120 milhões de euros pelo controle do Grupo Hevo, da Espanha.

Como parte da transação com a Hillandale, o braço de private equity do banco de investimentos brasileiro BTG Pactual injetará US$ 300 milhões na Global Eggs em troca de uma participação de 11% na empresa. O império dos ovos também está planejando lançar ações nos EUA, por meio de uma oferta pública inicial (IPO) em Nova York.

Os negócios transnacionais destacam o poder do setor agrícola do Brasil, que está entre os maiores produtores globais de produtos alimentícios como soja, milho e carne bovina. A JBS, a maior processadora de carne do mundo e com sede em São Paulo, entrou no setor de ovos em janeiro com a compra de 50% da empresa brasileira Mantiqueira. Na ocasião, o grupo sinalizou que pretende entrar no mercado de ovos dos EUA, onde já tem forte presença em carne bovina.


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