CONVERSARAM CONVERSA DE UBER
4 de fevereiro, 2025 | Por: Roberta D’AlbuquerqueRoberta D’Albuquerque é psicanalista, autora e criadora do portal A Verdade é Que…
Mel e Converse 2020 estão na rua desde cedo. O sol em peixes e o otimismo delirante fizeram da moça uma procrastinadora profissional. São 10h e o ônibus sai às 12h30, ela segue sem previsão de horário pra voltar pra casa. Esqueceu de comprar um presente que precisa se juntar a roupas e sapatos na mala da praia. É mesmo praia. Converse 2020 já desconfiava porque Mel tomou água morna de café da manhã e até agora não parou pro lanche. Ela faz isso como que pra murchar a barriga antes de usar biquíni. Confirmou quando os dois entraram na Drogasil pra comprar protetor.
Pro presente entraram nas Americanas e na Camicado. Ela parou pra olhar os joguinhos de xícaras de porcelana e as taças de licor. Um certo interesse específico por micro itens de cozinha. Converse 2020 achou graça. Eram ele mesmo e os colegas da sapateira também criaturas do mini mundo. Mel parou de crescer perto dos 11, quando ainda calçava 33. Por isso o zelo extra com Sandy. Vocês já tentaram achar sapatos adultos desse tamanho? Foi uma saga. Chegou a provar sapatinhos de cinderela na Rihappy na urgência de ter pelo menos um par de saltos. Agora já melhorou, mas não faz muito tempo que os tênis 33 eram quase todos de fechamento com velcro.
Na saída da Camicado, viu na prateleira das promoções uma mini caçarola de cerâmica, pequenininha mesmo, uns 10cm de diâmetro. De R$199 por R$109. Ela tinha planejado gastar no máximo R$100 e depois, nem utilidade tinha aquilo lá. Mas era tão linda a panelinha, era tão tarde já, era tão forte o cheiro de pão de queijo que tomava o térreo do shopping que resolveu comprar. Ali no caixa, naquela bancada que minha mãe chamava de pega besta, achou um saquinho de algodão cru quase igual ao de Sandy. Chamou o Uber com uma mão e digitou a senha do cartão com a outra. R$139,90. No débito.
Converse 2020 atentou pra sacolinha quando já estavam os dois dentro do carro. Ela, no medo do assalto de quem cresceu em São Paulo, apoiou a mochila e as compras no chão entre os dois pés. Conversaram conversa de Uber, Converse 2020, a sacola de plástico da Camicado, a mini caçarola e a sacolinha de algodão cru. Nossa, como esquentou. Essa cidade está um perigo mesmo e afins.
Mel chegou em casa já na corrida, entrou no quarto feito um raio. Alcançou a sacolinha de algodão cru de Sandy. Só deu tempo dela abanar um tchau com a tira de couro, deu tempo de mandar uma piscadinha pra Chat também. Ele respondeu até já já. Pensou que a sacolinha iria com os demais escolhidos para a viagem e Sandy ficaria com ele de volta no guarda-roupa. Mas o conjunto todo foi jogado na mala. Na sacolinha nova ela saiu enfiando as calcinhas e os biquínis sem nem olhar direito quais levava. Na mesma pressa, tirou o vestido longo e botou com cabide e tudo no meio das outras coisas. Tentou fechar, não deu, sentou na mala, Sandy lá dentro, forçou o zíper com uma mão, já chamando o Uber com a outra. É praia, mas parece que é casamento na praia.
Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quemmandaaquisoueu – Verdadesinconfessàveissobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…
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