ECONOMIA

Crise no IBGE: Servidores da ENCE fazem carta contra comunicados da presidência do instituto

29 de janeiro, 2025 | Por: Agência O Globo

Com 20 assinaturas de funcionários da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), documento se defende de acusações de repasse de recursos para associações privadas e critica gestão Pochmann

O presidente do IBGE, Marcio Pochmann — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mais um grupo de servidores do IBGE se juntou ao coro que critica a gestão do atual presidente do instituto, Marcio Pochmann. Funcionários da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) publicaram nesta segunda-feira uma carta de posicionamento com 20 assinaturas se defendendo de comunicados feitos pela presidência do instituto e criticando a criação da Fundação IBGE+.

Em comunicados publicados no site do IBGE, a presidência usa como justificativa para criação da fundação de caráter público-privado, o fato de que servidores da ENCE exercem atividades de consultoria para associação científica de direito pivado, além de acusar a escola de repassar recursos ilegalmente para tal associação.

Na carta, os funcionários da escola se defendem considerando que os trabalhos de pesquisa acadêmica feitos por eles se diferem das pesquisas feitas para produção de estatísticas nacionais e oficiais divulgadas pelo IBGE, e indicam que nenhum repasse de recursos foi feito para associações privadas.

O documento considera ainda que os comunicados da presidência representam um ataque aos servidores do instituto, assim como aos integrandes do sindicato.

“Consideramos as acusações levantadas contra professores e pesquisadores ativos e inativos da ENCE e, portanto, do IBGE, um ataque leviano à integridade e trajetória profissional dos servidores do Instituto. Trata-se de uma investida que se soma às iniciativas tomadas contra a ASSIBGE em represália às críticas e preocupações legítimas do corpo funcional quanto às ações e omissões da presidência do órgão”, escreveram os funcionários na carta.

Eles acrescentam ainda que as acusações seriam uma “cortina de fumaça” para desviar o foco das discussões sobre os riscos relacionados à criação da Fundação IBGE+.

“É preciso abrir espaço para o diálogo, de modo a superar a lamentável crise que se abateu sobre o IBGE”, concluem os servidores da ENCE.

A criação da Fundação IBGE+ vem sendo criticada pelo sindicato dos servidores do instituto, ASSIBGE, mas também por outros servidores, como coordenadores e profissionais das três principais diretorias do órgão, que vêm se organizando em cartas abertas com críticas à falta de diálogo da gestão Pochmann.

A principal preocupação é com o possível impacto da criação de uma fundação privada sobre a qualidade da pesquisa e do trabalho desenvolvido pelo instituto.

Na semana passada, 136 servidores vinculados a três das maiores diretorias (Pesquisas Econômicas, Geociências e Tecnologia da Informação) — entre eles gerentes, coordenadores e dois ex-diretores — assinaram uma carta aberta criticando a gestão do atual presidente do instituto. O documento diz que a gestão tem viés “autoritário, político e midiático”.

Na semana passada, Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto, então diretora e diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, a mais importante do instituto, deixaram seus cargos tendo como principal motivo para o afastamento a falta de interlocução com a presidência do órgão. Em seguida, o instituto divulgou comunicado negando crise e criticando os servidores que vão contra a criação da fundação. No comunicado, o instituto diz que pode recorrer à Justiça contra “desinformação e mentira”.

Pochmann viaja

Enquanto a crise na instituição toma novos contornos, o presidente do IBGE vai viajar para cidades das cinco regiões do país para divulgar o plano de trabalho previsto para 2025. Esse plano é citado pelos servidores como outro exemplo de falta de interlocução. Eles não têm informações sobre essas diretrizes e nem foram consultados.

A primeira parada de Márcio Pochmann foi nesta segunda-feira em Belém do Pará. O segundo destino é em Recife, em Pernambuco, nesta terça. O calendário ainda inclui Brasília no dia 29; Vitória, no Espírito Santo, no dia 30; e Porto Alegre, capital gaúcha, no dia 31.

Segundo o IBGE, o cronograma também prevê atividades internacionais, que não foram detalhadas.


BS20250128152432.1 – https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/01/28/crise-no-ibge-servidores-da-ence-fazem-carta-contra-comunicados-da-presidencia-do-instituto.ghtml

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