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De jingles a charges em jornais alternativos, estratégias inovadoras auxiliaram nomes como o de Lula a ocuparem cargos no Planalto e no Congresso; pesquisadores apontam dificuldade em encontrar um modelo que funcione na internet
Os sucessivos reveses amargados pelo governo Lula no embate político travado nas arenas digitais, com repercussões majoritariamente negativas que vão da crise do Pix às fraudes no INSS, mostram, na avaliação de especialistas, a perda de protagonismo da esquerda no campo discursivo nos últimos anos. Somente em 2025, o petista perdeu um milhão de seguidores no Instagram e Facebook, segundo levantamento feito pela consultoria Ativaweb. Se, no passado, este segmento ocupava uma posição de vanguarda em diferentes debates, desafiando forças hegemônicas à época, há uma dificuldade, hoje, de encontrar um modelo de comunicação que funcione nas redes sociais, dominadas pela direita radical.
Pesquisadores apontam que as estratégias inovadoras coordenadas pela esquerda já incluíram, por exemplo, a distribuição de panfletos e o investimento em jornais alternativos. Desde a Revolução Francesa, no fim do século XVIII, essas táticas impulsionaram a capilaridade de pautas com foco no viés trabalhista e na mobilização da classe operária.
No Brasil, o fortalecimento discursivo da esquerda ganha tração na figura de movimentos progressistas que resistiam à ditadura. Essa articulação política era impulsionada, assim, pelo contraponto à opressão representada pelo regime militar, em um fenômeno que se acentua até a redemocratização.
— A partir daí, passou a haver uma concentração de vozes, e a esquerda começa a organizar movimentos para criar alternativas para lidar com a chamada mídia hegemônica. Crescem jornais feministas, de movimentos negros, e as rádios progressistas — aponta o professor da pós-graduação em Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Marcelo Alves.
O humor, arma corriqueira no mundo da internet, também foi empregado sobretudo pela esquerda a partir da década de 70, quando jornais independentes, como O Pasquim e O Popular, exibiam charges, artigos, caricaturas e respostas a slogans governamentais oficiais. Se a ditadura lançava o lema “Brasil, ame-o ou deixe-o”, o jornalista Ivan Lessa recomendava no Pasquim que “o último a sair apagasse a luz do aeroporto”.
O alcance desse tipo de discurso era facilitado ainda pela penetração nas universidades e a aderência em grupos como a classe artística, que participou em peso da gravação do jingle “Lula lá” em 1989, na primeira campanha presidencial depois da ditadura. Derrotado por Fernando Collor naquela disputa, o petista venceria a corrida pelo Planalto 13 anos mais tarde. Para Marcelo Alves, a profissionalização da comunicação política da esquerda, com a contratação de marqueteiros, ocorre na esteira da garantia do sistema partidário e do crescimento do PT em eleições nacionais.
— Durante a campanha de Lula em 2002, há uma institucionalização da comunicação no partido, ainda muito voltada para as massas — diz.
Em um cenário que permanecia mais amigável à esquerda, que enchia manifestações nas ruas, Lula deixou a Presidência em 2010 com mais de 80% de aprovação e elegeu Dilma Rousseff como sucessora, panorama que em muito difere do atual, no qual as pesquisas vêm detectando uma popularidade minguante do presidente. Pressionado pela queda na aprovação, o petista também vê o discurso de seu grupo político ser limitado pela força da direita no Parlamento:
— Ao analisar o governo Lula, vemos que ter minoria no Congresso o impede de investir em políticas de comunicação muito à esquerda, sendo constantemente puxado para o Centro — destaca Afonso de Albuquerque, professor de Estudos de Mídia na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Doutor em Semiótica pela Universidade de Bologna, Paolo Demuru avalia que a esquerda chegou a conseguir pautar debates mesmo na arena digital do início dos anos 2000 até 2013, com a articulação de movimentos antiglobalistas e fóruns mundiais. Entretanto, a intensificação do impacto dos algoritmos e a radicalização crescente da sociedade, em meio a uma organização crescente de grupos conservadores, trouxe a reboque a dificuldade da esquerda de manter a dianteira retórica, num cenário que só se acentuou com a consolidação da internet como ambiente de discussão política.
— Mas a esquerda comete erros na comunicação digital que independem da estrutura das redes sociais. Por exemplo, construir como slogan principal “Sem anistia” para se posicionar contra o projeto de lei sobre o 8 de Janeiro é um erro. A palavra anistia circula cada vez mais no debate público e ganha espaço na pauta, o que não é inteligente do ponto de vista estratégico — afirma Demuru.
O uso de símbolos para demarcar a posição política e facilitar a identificação pelo eleitorado — como a imagem do batom explorada pelo bolsonarismo em referência ao caso da cabeleireira Débora dos Santos, uma das condenadas pelos ataques na Praça dos Três Poderes — também foi um método instrumentalizado pela esquerda ao longo do tempo. Esse fenômeno remonta ao surgimento dos conceitos de esquerda e direita em si, no esteio da Revolução Francesa.
O lançamento do “Manifesto comunista”, por Karl Marx e Friederich Engels, é um dos marcos inaugurais da disputa comunicacional entre os extremos do espectro ideológico. A própria figura do pensador alemão viraria, com o passar dos anos, um ícone discursivo, bem como o uso da cor vermelha e da imagem da foice e do martelo ou da estrela de cinco pontas, alusiva à Revolução Russa. Outros personagens históricos, como o guerrilheiro argentino Che Guevara, cuja fotografia em preto e branco clicada em 1960 tornou-se um clássico instantâneo, também engrossaram o caldo temperado pela esquerda, transmutando-se em recurso retórico de forte adesão numa sociedade pós-guerra e com predominância do modelo de trabalho ainda industrializado. Transformações sociais recentes, porém, modificaram esse cenário:
— Há uma base social da esquerda que não existe mais, já que a sociedade contemporânea não é mais industrial, e o espaço onde trabalhadores se reúnem mudou. Isso faz parte de um elemento estrutural de uma crise da esquerda, que é global — destaca Afonso de Albuquerque, frisando que a dinâmica midiática atual favorece extremos.
Professor de Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci segue raciocínio semelhante. Para o pesquisador, o funcionamento das redes sociais privilegia um modelo de discurso “emocional e narcísico”, voltado às individualidades, o que também limita o alcance de uma retórica à esquerda com foco em pautas sociais. O resultado, opina Bucci, é uma propaganda política degradada ao ponto de ser normalizada como peça de fanatismo.
— No passado, quando a comunicação era mais voltada à emoção em meios de entretenimento, quem se dava bem era a antipolítica. Foi assim que o nazismo cresceu, explorando o cinema e o rádio. Não havia lugar para o debate e a crítica — sustenta Bucci, contestando, no entanto, a percepção de que a esquerda foi tão mais eficiente em outros momentos históricos. — Os jornais alternativos e os panfletos da esquerda nunca se afastaram da condição de um exercício de pensamento deste grupo. Temos a sensação de que ela se comunicava melhor no passado, mas não é isso. A diferença é que existia política na ambiência comunicacional.
BS20250604063029.1 – https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/06/04/da-vanguarda-do-passado-a-agrura-nas-redes-como-a-esquerda-perdeu-protagonismo-na-comunicacao-politica-nos-ultimos-anos.ghtml
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