Deputado que indicou emenda investigada pediu troca de beneficiário para chegar a envolvidos em esquema, diz PF
13 de fevereiro, 2025
| Por: Agência O Globo
Documento assinado pelo parlamentar foi enviado pelo chefe de gabinete a lobista envolvido em ação
Deputado Afonso Motta — Foto: Divulgação/Câmara
Um ofício assinado pelo deputado federal Afonso Motta (PDT-RS) pediu a troca da destinação de R$ 200 mil de uma cidade com o objetivo de chegar a um hospital onde havia um esquema de desvio de recursos. O documento consta na investigação da Polícia Federal, que deflagrou nesta quinta-feira uma operação que apura a ação criminosa de desvio de emendas indicadas ao Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul (RS).
A investigação apurou que havia até um contrato prevendo o pagamento de 6% de “comissão” como contrapartida para a empresa de um lobista, Cliver Fiegenbaum, que constava como responsável pela captação do recurso público. Ele mantinha conversas com o chefe de gabinete do deputado, Lino Furtado.
Em uma das trocas de mensagem, em novembro do ano passado, após duas ligações entre os dois, Lino enviou a Cliver um ofício assinado pelo deputado endereçado ao Ministério da Saúde solicitando a troca de beneficiário de indicação de uma emenda parlamentar de R$ 200 mil.
O ofício solicita que o beneficiário deixe de ser o Fundo Municipal de Saúde São Miguel das Missões e passe a ser o Fundo Municipal de Saúde de Santa Cruz do Sul. Ao final, o ofício justifica que o recurso deverá atender o Hospital Ana Nery.
“Amanhã já deve estar aparecendo no sistema da prefeitura para o cadastro”, escreveu o assessor do parlamentar.
No dia seguinte, Lino envia um novo documento ao lobista, também assinado pelo deputado e endereçado ao ministério, no qual pede que o beneficiário deixe de ser a Fundação Universitária de Cardiologia e passe a ser o hospital.
O deputado Afonso Motta não foi alvo da PF. Em nota, ele afirmou que “nem ele nem o gabinete foram alvos da operação da PF”. O texto acrescenta que ele “foi surpreendido e que está buscando acesso aos autos, para entender o que é investigado e se posicionar”.