Governo estima déficit de R$ 617 milhões para cobrir aposentadoria de inativos até novembro de 2025
Foto: Carlos Gandra/ Agência CLDF
A votação do projeto de lei complementar nº 82/2025, que altera normas relativas ao Regime Próprio de Previdência Social do Distrito Federal (RPPS), dividiu os parlamentares na sessão da Câmara Legislativa de terça-feira (30). O texto autoriza o Instituto de Previdência dos Servidores do DF (Iprev/DF) a usar até 100% dos rendimentos mensais do Fundo Solidário Garantidor (FSG) para o pagamento da folha dos inativos. A proposta foi aprovada com 13 votos a favor e seis contra e agora vai à sanção.
De autoria do Poder Executivo, o PLC chegou à CLDF na semana passada e foi incluído na pauta de votação hoje após reunião de deputados realizada, a portas fechadas, antes da abertura da sessão.
No plenário, a divisão de opiniões ficou clara: de um lado, os deputados contrários à proposição argumentaram que o texto do governo não foi discutido com os servidores e que a proposta coloca em risco a sustentabilidade das aposentadorias futuras; de outro, os favoráveis pregaram que a medida é necessária para assegurar o pagamento da folha de inativos e pensionistas do DF.
“Nas propagandas de TV, o GDF se vende como o governo das obras, que tem muito dinheiro em caixa. Então, por que mexer no rendimento do Fundo Solidário Garantidor, que é o que dá sustentabilidade para os pagamentos futuros?”, questionou o deputado Fábio Felix (PSOL). “Estamos votando um projeto que chegou na semana passada sem nenhuma discussão com a sociedade e com os sindicatos”, lamentou.
De forma semelhante, o deputado Chico Vigilante (PT) se opôs à proposta: “Se o governo está tão bem financeiramente, por que pegar R$ 617 milhões do Fundo para fechar a folha de pagamento? O dinheiro não é do governo do DF, é da previdência dos servidores e vai colocar em risco aposentadorias no futuro”. O distrital resumiu: “O GDF quer resolver um problema momentâneo de caixa do Iprev sem se preocupar com o futuro”.
Por sua vez, Gabriel Magno (PT) usou uma analogia para fazer sua crítica: “Se alguém pega minha carteira e retira dinheiro sem autorização, é roubo. O governo quer tirar dinheiro da carteira dos servidores, sem perguntar a opinião deles”. O distrital citou, ainda, nota conjunta contrária ao PLC assinada por vários sindicatos.
Os deputados Ricardo Vale (PT), Paula Belmonte (Cidadania) e Dayse Amarílio (PSB) também se manifestaram contra o texto do Buriti. “Mais uma vez, estamos votando algo tão complexo a toque de caixa”, lamentou Amarilio.
Por outro lado, o líder do governo na Casa, deputado Hermeto (MDB), rebateu as falas contrárias: “Vamos aos fatos, estamos pegando os dividendos do Fundo porque não temos como cobrir um rombo. O Iprev recebia repasses do Fundo Constitucional, mas o TCU suspendeu, e a bomba sobrou para o governo de Ibaneis”. E emendou: “A oposição só fala o que convém. Se não fizermos isso agora, o servidor logo, logo vai ficar sem salário”.
O deputado Pastor Daniel de Castro (PP) seguiu nessa mesma linha, elogiando o governo de Ibaneis Rocha. “Muitas vezes, são políticas necessárias: se não fizermos isso, servidor público vai ficar sem salário; até o final do ano, há a possibilidade de atrasar os salários”, defendeu.
“Uma coisa é interpretar o projeto de forma negativa, outra é caluniar: dizer que o governador está roubando os aposentados é muito grave”, afirmou Joaquim Roriz Neto (PL), em crítica direta à fala de Gabriel Magno.
Outros deputados, como Wellington Luiz (MDB) e Thiago Manzoni (PL), também reclamaram da forma como Magno criticou a proposta, defendendo o governador, bem como a medida prevista no PLC.
O que diz o texto
Além de permitir o uso da rentabilidade líquida mensal do Fundo Garantidor, o PLC nº 82/2025 institui uma contribuição extraordinária patronal para os servidores das secretarias de Saúde e de Educação. A medida deverá observar regulamento específico.
“A alíquota de contribuição e seu prazo de duração, ninguém aqui sabe. É um cheque em branco”, apontou Gabriel Magno.