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Desemprego de longa duração cai 17% menor patamar desde 2015

15 de agosto, 2024 / Por: Agência O Globo

Número de pessoas que buscam uma vaga recuou para 1,7 milhão. Taxa de desocupação cai em 15 estados

Desemprego de longa duração cai 17% menor patamar desde 2015
Queda na taxa de desocupação foi acompanhada pela maior parte das federações do país — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O desemprego está caindo tanto que até as pessoas que estão em busca de uma vaga há mais de dois anos estão conseguindo se recolocar no mercado de trabalho. O número de brasileiros à procura de uma oportunidade por um período de dois anos ou mais caiu 17,3% no trimestre encerrado em junho. Agora, são 1,7 milhão de pessoas nessa situação, o menor patamar para um segundo trimestre desde 2015.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira.

O IBGE divide o desemprego em diferentes categorias, de acordo com o tempo de procura. Em todas as faixas de tempo, o desemprego caiu mais de 10%, conforme abaixo:

  • menos de um mês: queda de 10,2%
  • entre um mês a menos de um ano: queda de 11%
  • entre um ano a menos de dois anos: queda de 15,2%
  • dois anos ou mais: queda de 17,3%, a maior de todas as faixas

Para Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostras de Domicílios do IBGE, a expansão da ocupação em atividades de baixa complexidade, que demandam menor especialização, permite que seja abarcado um conjunto maior de pessoas que estavam procurando emprego, até aquelas que estavam em um padrão mais crônico de buscas.

“O crescimento da ocupação tem refletido positivamente entre os que buscam trabalho, à medida que passam a registrar menor tempo de procura. O crescimento da demanda por trabalhadores em várias atividades, como comércio e serviços de baixa ou alta complexidade, tem contribuído para a retração desse tempo de procura”, explicou Beringuy.

Quando observada a taxa de desemprego por estado, houve recuo em 15 das 27 federações do país. Os estados com maior número de desempregados foram Pernambuco (11,5%), Bahia (11,1%) e Distrito Federal (9,7%).

Já entre os com as menores taxas foram Santa Catarina (3,2%), Mato Grosso (3,3%) e Rondônia (3,3%). As outras 12 federações que não apresentaram recuo também não tiveram variações significativas no indicador, segundo o IBGE.

O que dizem os analistas?

Para Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre, a distribuição de baixas taxas de desocupação pelo país é um fator positivo e mostra um recuo no desemprego estrutural.

— A gente não viu nenhum estado com alta do desemprego, na verdade, boa parte deles diminuiu essa taxa, e alguns ficaram ali estatisticamente estáveis. Então esse melhoramento que a gente vem observado ainda tem o ponto positivo de estar disseminado no território nacional. Isso corrobora para essa visão de que o mercado de trabalho está aquecido — diz ele.

Os dados mostram também que a renda vem acompanhando o maior número de empregos. Para Tobler, um dos fatores que influenciam no maior rendimento da população é o aumento das taxas de empregos formais.

— Desde o ano passado, a gente tem observado uma melhora mais forte no emprego formal, que geralmente abarca empregos associados a renda mais alta e produtividade mais alta também. Então, quanto mais empregos formais de qualidade, naturalmente a renda vai subindo.É importante lembrar que a renda foi uma das variáveis que mais demorou a se recuperar do impacto da pandemia e, agora, o que a gente observa é que ela já está muito próxima da tendência que se tinha ali entre 2016 e 2019.

O economista acrescenta que o desemprego de longa duração geralmente traz maiores preocupações quando está elevado, já que quando as pessoas ficam muito tempo fora do mercado de trabalho se torna mais difícil se inserir nele novamente, e quando conseguem um emprego muitas vezes é em ocupações de menor qualidade e rendimento.

— Teve uma redução desse número bastante significativa, muito influenciada pelo aquecimento do mercado de trabalho como um todo. É um fator positivo, que reflete a melhora economia que a gente vem observando. Quando a gente vê atividades mais aquecidas, o mercado de trabalho tem o mesmo ritmo e, naturalmente, as pessoas vão conseguindo emprego, até aquelas pessoas que estavam há mais tempo procurando.

Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, acrescenta que além da atividade econômica mais forte, a mudança de comportamento pós-pandemia também é um dos fatores que resulta nessa queda do desemprego a longo prazo, permitindo a inserção de pessoas com pouca experiência e qualificação.

— A gente tem muitas empresas voltando a esquemas híbridos e presenciais de trabalho, e com isso há mais pessoas circulando nas ruas, o que aquece outros setores, como trabalhos informais nas ruas, restaurantes, comércios varejistas, principalmente relacionados à alimentação. Então também tem mais pessoas trabalhando com portaria, manutenção, limpeza, segurança privada, atividades administrativas de apoio a escritórios e edifícios — explica ele.

Sobre os estados com taxas de desemprego mais baixas, Imaizumi acredita que há influência de questões históricas e estruturais das regiões.

— No centro-oeste do país, a gente teve um avanço muito forte da agropecuária nos últimos anos, que permite o avanço da economia. Santa Catarina sempre foi uma referência em emprego aqui no Brasil. Acho que são questões mais estruturais e regionais que acabam pesando para taxas de desemprego mais baixas, o que não necessariamente implica no pleno emprego.

Ele acredita que a previsão é de que haja mais quedas na taxas de desemprego nos próximos trimestres e que, portanto, o PIB deve seguir com revisões altistas.

— A gente tem uma perspectiva, de acordo com as nossas projeções, que essa taxa de desemprego deve terminar o ano de 2024 próxima dos 6%. Então, a tendência ainda é de queda para as próximas divulgações ao longo do ano. Com isso, a gente tem um viés de alta para o PIB. Por enquanto, a previsão é de um PIB próximo dos 2%, mas de acordo com os dados que já saíram, deve ficar próximo dos 2,3% ou 2,4%.

Por outro lado, Tobler acredita que os estados com a taxa de desemprego mais baixa, e que tem se mantido ao longo dos últimos trimestres, podem estar se aproximando de um nível de pleno emprego. Com isso, ele diz que a tendência é que o ritmo de queda da desocupação diminua e não venha mais tão expressivo.

— É algo difícil de conseguir cravar, até porque a gente teve períodos de crise e de reforma trabalhista que podem ter impactado nesse número ótimo de pleno emprego, mas acho que a gente têm andado bem próximo disso sim. Olhando mais trimestralmente, a tendência é continuar no patamar baixo, mas não acredito que ela vai continuar caindo nesse ritmo que a gente observou agora nessa primeira metade do ano.

Desigualdade de gênero e raça

Os números da Pnad também mostram que a desigualdade de gênero se mantém no mercado de trabalho. A taxa de desocupação das mulheres era de 8,6% em junho, acima dos 6,9% do país. Considerando apenas os homens, o índice é menor: 5,6%.

A coordenadora da pesquisa explicou que a inserção mais baixa de mulheres no mercado de trabalho pode está relacionada a diversos fatores, sobretudo estruturais.

— Isso decorre de condições que a mulher enfrenta ao longo da vida, como afastamento por gravidez, ou saída do mercado de trabalho em função de afazeres domésticos e cuidados de pessoas. Isso contribui para que históricamente as mulheres tenham maior dificuldade de entrada no mercado de trabalho e menor permanência quando está inserida — diz Beringuy.

Da mesma forma, os brancos conseguem emprego com mais facilidade que os negros. A taxa de desemprego entre brancos era 5,5% no segundo trimestre, mais baixa que a de pretos (8,5%) e pardos (7,8%).

Quando considerado o nível de instrução, a taxa de desemprego de pessoas com ensino médio incompleto (11,5%) é mais que o triplo do grupo que tem diploma (3,6%).

Pnad x Caged

A Pnad traz informações sobre trabalhadores formais e informais. Divulgada mensalmente, a pesquisa traz dados do trimestre. A coleta de dados é feita em 210 mil domicílios, espalhados por 3.500 municípios em todo o país.

Outra pesquisa é a do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Esta só traz informações sobre trabalho com carteira assinada, com base no que as empresas informam ao ministério.


BS20240815120159.1 – https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/08/15/desemprego-cai-em-15-estados-do-pais-em-junho.ghtml