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O Brasil ainda deixa 32 milhões de pessoas sem água potável nas torneiras, realidade que precisa ficar para trás em 2033
Em pleno século XXI, universalizar o acesso à água potável nem deveria ser uma meta ambiciosa, mas, nos rincões do Brasil ou mesmo nas periferias das grandes cidades, ainda é. No entanto, o país nunca esteve tão perto de alcançar este objetivo.
A entrada da iniciativa privada no saneamento básico por meio de concessões, o reforço dos investimentos das empresas públicas e a atuação de instituições financeiras e do terceiro setor conseguiram direcionar milhões de reais para a garantia desse direito fundamental.
Novas ideias têm acelerado a jornada e encontrado formas de superar novos obstáculos para tornar realidade um dos principais objetivos do novo marco regulatório do saneamento: água limpa na torneira de praticamente todos os brasileiros até 2033. Hoje, 32 milhões não têm.
O regramento aprovado em 2020 prevê levar água tratada a nada menos que 99% da população e coleta de esgoto a 90% dos lares. Os dados mais recentes do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis), de 2022, mostram que a média nacional é de 84,9% de cobertura na água e 56% na coleta de esgoto.
O tratamento só chega a 52%. O que vai para rios sem tratamento se une à poluição industrial e torna mais difícil e cara a captação da água a ser tratada e distribuída. Entre as 27 capitais do país, apenas nove atingiram 99% de abastecimento total de água.
Ainda na década de 1960, a distribuição de água já era apontada como um problema que se agravaria com a urbanização acelerada e desordenada do país. Para especialistas, universalizar o serviço demanda enfrentar outros desafios, como reduzir a perda de água ao longo dos 808 mil quilômetros de redes já existentes e a necessidade de reformular o planejamento das cidades.
É um problema complexo que está ligado a outros, como o crônico déficit habitacional e o baixo investimento em infraestrutura urbana.
Daniel Rodrigues, professor de recursos hídricos do Programa de Engenharia Civil da Coppe/UFRJ, diz que essas lacunas comprometem duplamente toda a cadeia de distribuição, da estação de tratamento à pia dos brasileiros. Ele explica que a expansão das malhas urbanas de água sem alterações em planos diretores resultaram em sistemas incapazes de acompanhar o crescimento da população.
Redes sobrecarregadas, quando conseguem entregar água, não mantêm a regularidade e a qualidade do serviço.
José Carlos Mierzwa, do Departamento de Energia Hidráulica e Ambiental da USP, avalia que, para renovar toda a estrutura atual e garantir o acesso universal à água limpa, também é preciso incorporar novas ideias e tecnologias aos sistemas de saneamento:
— Para proteger os mananciais temos de fazer uma transição tecnológica. O saneamento é visto como despesa, mas representa um investimento, inclusive, para diminuir os custos com saúde.
No Rio de Janeiro, por exemplo, com as concessões de saneamento, a Cedae pôde se concentrar mais na captação e tratamento de água, sua principal atribuição hoje. Para incorporar novas tecnologias, a companhia estadual pretende investir cerca de R$ 5 bilhões até 2029 na criação de novas estações de tratamento e em modernizações, como a introdução de novos métodos de análise da qualidade da água e a instalação de bombas mais potentes.
É parte do esforço para diminuir a chance de contaminação por geosmina, produzida por cianobactérias, que deixou milhões de fluminenses sem água em 2020. O episódio levou a Cedae a reformular a captação no Rio Guandu e o tratamento da água a ser distribuída na Região Metropolitana, onde torneira seca sempre fez parte da rotina, principalmente na Baixada Fluminense.
Em um projeto em parceria com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a água que chega à Estação de Tratamento do Guandu voltou a ser balneável em agosto deste ano. A Cedae precisou ir além dos equipamentos e investir no cuidado com o entorno dos mananciais com o plantio de mais de 4,5 milhões de mudas. Para isso, usou a reciclagem do iodo do esgoto para gerar um adubo natural.
Mas não adianta só captar e tratar se boa parte se perde da água no caminho até o consumidor. A perda no Brasil chegou a 37,8% em 2022, segundo dados do Snis, mais que em países como China (20,54%) e África do Sul (33,7%).
A intermitência afeta de forma desigual a população, sendo mais aguda em estados do Norte (46,94%) e Nordeste (46,67%), que têm os piores níveis de cobertura de abastecimento: 64,2% e 76,8%, respectivamente. Tubulações antigas, furtos e erros de medições explicam os problemas, segundo especialistas.
— Além de termos a cultura da água como bem infinito, temos perdas comerciais, como “gatos”, que comprimem o orçamento de empresas, já que os custos são diluídos na tarifa paga pelo cidadão — afirma a presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto.
Em São Paulo, a Sabesp, companhia estadual que acaba de ser privatizada, diz ter conseguido reduzir a perda de água para 28,2% em 2022, abaixo da média nacional, com novas infraestruturas de distribuição. A empresa informou que também investe em melhorias na captação e tratamento da água que distribui, com novas técnicas de medição de pH e turbidez.
No Rio, concessionárias controladas por grandes grupos privados também investem para reduzir as perdas. Atendendo 10 milhões de pessoas na Região Metropolitana desde 2021, a Águas do Rio, do Grupo Aegea, abriu duas frentes contra o desperdício, conta o presidente Anselmo Leal. No monitoramento da eficiência hídrica da rede, adotou o serviço quinzenal de um satélite israelense.
Desde 2022, ele já identificou 116 pontos de vazamento por meio de ondas eletromagnéticas. Na outra vertente, a companhia usa bombas e válvulas acionadas por inteligência artificial (IA) para diminuir a pressão da água e espaçar o bombeamento, reduzindo o risco de estouro de dutos e encanamentos.
Solução parecida foi aplicada pela Rio+Saneamento, do Grupo Águas do Brasil. Nos últimos três anos, as perdas caíram de 65% para 50%. A concessionária também adotou um novo sistema de hidrômetros que reduziu em 116 milhões de metros cúbicos (116 bilhões de litros) as perdas de água nos últimos cinco anos.
O principal entrave para a universalização da água, diz Leal, da Águas do Rio, é o nível de ligações irregulares em periferias, que o grupo tenta contornar com um programa de conscientização e mutirão de ligações oficiais, que já garantiu o primeiro acesso à água encanada a 621 mil pessoas no Rio, estima a empresa, além de regularizar a distribuição a 3 milhões desde 2021.
Em nível nacional, com as iniciativas, a Aegea estima ter evitado a perda de 15 bilhões de litros, suficiente para abastecer 300 mil pessoas por um ano.
— Esse resultado é fruto de tecnologia de ponta aplicadas em nossas operações, com dados de perda de água captados pelo Centro de Controle Operacional ou Centro de Operações Integradas para mitigar eventuais fragilidades — diz o presidente do Instituto Aegea, Édison Carlos.
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