Em uma manhã fria no final de março, a atriz e cantora Isabela Merced passeava com BonBon, seu chihuahua, na Melrose Avenue, em West Hollywood. “Ele gosta de ficar atrás de você”, disse ela. Seu outro cachorro, Pluto, que ela adotou na Austrália durante as filmagens de “Dora e a Cidade Perdida”, havia ficado em casa naquela manhã. Pluto foi resgatado com três patas. “Ele tentou pular uma cerca que não estava pronta”, explicou.

Na segunda temporada de “The last of us”, que estreou no domingo, Merced interpreta a nova personagem Dina, uma órfã irônica, paqueradora e de fala dura que adora matar clickers, os zumbis infectados por fungos da série. “Esse é o hobby dela!”, diz Merced.

Dina também tem uma queda por Ellie (Bella Ramsey), sua parceira de caça. No primeiro episódio da temporada, o relacionamento delas esquenta com um beijo durante uma festa de fim de ano, enquanto o ex-namorado de Dina, Jesse (Young Mazino), assiste junto com boa parte da cidade. Dina parece satisfeita em fazer o papel de provocadora.

“Gostaria de imaginar que o Apocalipse seria assim”, diz Merced sobre sua personagem. Será que o amor de Ellie e Dina vai durar? “Eu adoraria contar tudo!”, responde ela. Mas, devido a algumas reviravoltas importantes na trama, a HBO mantém um controle rígido sobre o que seus atores podem falar. “Eu adoro conversar. Então, sim, tem sido muito difícil para mim.”

Momento decisivo

Aos 23 anos, Merced pode estar em um momento decisivo de sua carreira, após uma série de papéis aclamados pela crítica, mas menos visíveis. Afinal de contas, “The last of us” é uma série extremamente popular e premiada na qual ela interpreta um papel principal. A primeira temporada se tornou a estreia mais assistida da HBO e recebeu 24 indicações ao Emmy, vencendo oito.

Dina é central para a trama de vingança desse segundo ano, e seu humor e sarcasmo são um mecanismo de defesa num mundo pós-apocalíptico invadido por hordas de zumbis.

Merced estava hospedada em um hotel próximo para facilitar uma série de compromissos com a imprensa, e combinamos de nos encontrar cedo para um jantar no Great White, um local popular para brunch recomendado a ela por uma amiga. (Merced mora no Vale.) A BonBon ainda precisava de uma caminhada, então sugeri que andássemos um pouco antes do almoço para que pudéssemos conversar e conhecer algumas lojas locais. Merced e a BonBon toparam.

Naquela manhã, Merced ainda podia circular pelo mundo de forma relativamente anônima. A partir de domingo, isso pode ter começado a mudar. E pode mudar ainda mais neste verão, com seu papel como a Mulher-Gavião no “Superman” de James Gunn. Depois de 2025, um repórter pode nunca mais conseguir passar uma manhã tão tranquila em público com ela e BonBon.

“Sinto como se estivesse guardando esse segredo há algum tempo”, diz Craig Mazin, cocriador e showrunner da série, mais tarde por telefone. “E o segredo é que Isabela é uma grande estrela, e as pessoas estão prestes a descobrir.”

Embora tenha começado a carreira quando ainda estava no ensino fundamental, ela tem recebido cada vez mais atenção nos últimos anos por papéis principais em filmes pouco vistos, como “Turtles all the way sown” (2024), e pequenos papéis em filmes com elenco maior, como o remake de “O pai da noiva” (2022).

Seus primeiros créditos são como Isabela Moner, seu nome de batismo. Ela escolheu um nome artístico em 2019, em homenagem à sua avó materna. Muitos consideram seu trabalho a melhor parte “Dora”, uma versão adolescente da intrépida jovem exploradora. Anthony Lane, crítico da revista New Yorker, chamou sua participação ao lado de Benicio Del Toro em “Sicario: Dia do Soldado” de uma “dupla envolvente”, comparando-os a John Wayne e Natalie Wood no faroeste “Rastros de Ódio”, de John Ford. A atriz é “incrível”, escreveu Lane, “e o destino de sua personagem pode ser lido em seus olhos”.

Por telefone, Bella Ramsey confirmou a natureza extrovertida de Merced, citando todas as vezes que ela tentou convencê-la a sair enquanto filmavam em Vancouver, no Canadá. “A Isabela estava sempre tentando me tirar de casa”, disse Ramsey. “Ela é tão divertida de se conviver, e meio que força todo mundo a se divertir também.”

Voltamos para o Great White, onde havia uma mesa esperando; Merced pesquisou no Google o que comer. “Diz que eles têm ‘o melhor pão de banana do mundo!'”. BonBon olhou para um cachorro na mesa ao lado.

“Eu gosto de compartilhar comida”, diz ela. “Você gosta de compartilhar comida? Acho que comer é provavelmente a melhor coisa que podemos fazer como humanos, especialmente comer juntos. É meu passatempo favorito.”

Teatro desde os 6 anos

Entre uma mordida e outra, Merced conta que imaignou que seu papel seria pequeno, quando soube do interesse de Mazin e Neil Druckmann, o outro criador da série em conhecê-la. “Pensei que talvez fosse ser uma das moradoras”, diz ela.

Em vez disso, ela recebeu o papel de Dina na hora, principalmente por sua atuação na sequência de “Sicario” — sem teste, sem conhecer Bella Ramsey. “Testes são legais, mas nunca são realmente reais, e às vezes você só precisa seguir o instinto”, diz Mazin. “Fomos por instinto, e nosso instinto acertou em cheio.”

Merced está animada com o relacionamento de “os opostos se atraem” entre Dina e Ellie, e com a ideia de interpretar uma personagem LGBTQ+ importante em uma série de videogame extremamente popular. “Sou queer a vida toda, então nunca pensei muito nisso. Mas me lembro de jogar, ver a cena da dança e pensar: ‘Isso é tão legal!'”

Assim como Ramsey, que foi escalada para “Game of Thrones” aos 11 anos, Merced passou a maior parte da vida atuando. Cresceu em Cleveland, fez teatro comunitário aos 6; Broadway aos 10, ao lado de Ricky Martin em “Evita”; e estrelou a série “100 Things to Do Before High School” aos 13.

“Nós duas crescemos nos sets de filmagem, então com certeza isso nos uniu”, diz Ramsey. “Ela é muito, muito inteligente, muito acadêmica, então nos unimos por um amor compartilhado por aprender também.”

Merced também notou o senso de afinidade. “Bella é introvertida, eu sou extrovertida, mas temos a mesma ética de trabalho”, diz ela. “Eu certamente queria que Bella fosse mais diva no set, porque se você não for meio diva, as pessoas vão pisar em você. Então, estávamos sempre nos defendendo.”

Questionada se tinha um plano para os próximos cinco anos, Merced respondeu que sim. “Na verdade, fiz uma lista na última lua cheia. Ir a mais shows, dar mais abraços, estar mais presente, tirar mais fotos. Ah, e amar com mais liberdade!”

Ela também espera ansiosamente que as pessoas vejam “The last of us” e está animada com sua participação como Mulher-Gavião em “Superman”. Nos quadrinhos, a Mulher-Gavião é uma guerreira feroz com força sobre-humana, um arsenal de armas medievais e asas enormes. Somando-se ao seu papel em “The last of us”, a ferocidade parece ser um padrão.

“É engraçado, porque as pessoas me veem e pensam: ‘Que garotinha pequena e fofa!'”, diz a atriz de 1,55m. “Mas eu me vejo como uma pessoa muito forte. Eu me vejo como uma pessoa intimidadora. Então, será bom que as pessoas talvez me vejam como eu me vejo, por uma vez.”

BS20250416142344.1 – https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2025/04/16/destaque-como-dina-em-the-last-of-us-2-isabela-merced-esta-pronta-para-a-fama.ghtml