VARIEDADES

Discussão, choro e gente barrada: classificação indicativa de ‘Demon Slayer’ leva confusão aos cinemas no Brasil

15 de setembro, 2025 | Por: Agência O Globo

Fenômeno entre diferentes gerações, sequência de franquia japonesa gera polêmica no país após ser proibida para crianças e adolescentes

Cena do filme 'Demon Slayer: castelo infinito' (2025) — Foto: Divulgação
Cena do filme ‘Demon Slayer: castelo infinito’ (2025) — Foto: Divulgação

Da última semana pra cá, não tem sido difícil topar com crianças e adolescentes fazendo cara feia em cinemas brasileiros. O motivo? A classificação indicativa da animação japonesa “Demon Slayer: castelo infinito”. Fenômeno entre diferentes gerações, a terceira sequência da franquia inspirada no mangá homônimo surpreendeu o público do país ao ser categorizada, pelo Ministério da Justiça e Segurança, como uma obra não recomendada para menores de 18 anos. A decisão vem provocando uma chiadeira nas salas, já que o Brasil é a única nação, até agora, a adotar a medida.

Na tarde do último domingo (14), mais de 30 jovens — alguns acompanhados pelos pais — foram barrados no Cinemark Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, como relatou um funcionário ao GLOBO. O estabelecimento espalhou uma dezena de placas com a informação acerca das restrições etárias, reforçando, em letras vermelhas, a “classificação +18” e lamentando a “frustração de quem não vai poder curtir o filme”. Ainda assim, a garotada compra ingressos, com a esperança de “dar um jeitinho”.

— Li todos os 23 mangás de “Demon Slayer” e vi os outros dois filmes anteriores da saga. Meu pai sabe que estou aqui. Aliás, ele viu um dos primeiros filmes comigo! Não tem nada a ver essa classificação de 18 anos. É um absurdo — reclamou Gabriel Pereira, de 14 anos, enquanto recebia o estorno do valor do ingresso ao lado de quatro amigos da mesma idade, todos desolados após serem impedidos de adentrar a sala.

O assunto mexe com as emoções de espectadores — ou, melhor, “quase-espectadores”. Na última sexta-feira (12), também no Cinemark Botafogo, uma confusão tomou conta do lugar depois que um homem se recusou a cumprir a regra junto ao filho, de 11 anos. Na ocasião, seguranças precisaram conter o cliente para que ele não entrasse na sala, como apurou o GLOBO.

Pela lei, a classificação indicativa de 18 anos proíbe, de maneira absoluta, a entrada de pessoas com idade igual ou inferir a 15 anos. Aqueles que tiverem 16 ou 17 anos podem acessar a sala desde que acompanhados de responsáveis ou munidos de um termo de responsabilidade preenchido e assinado por um tutor legal, junto com um documento de identificação.

Mas por que ‘Demon Slayer’ recebeu classificação 18+?

Originalmente, a distribuidora Sony Pictures pretendia que o filme fosse recomendado para maiores de 14 anos no Brasil, seguindo as escolhas de outros países. Uma avaliação do Ministério da Justiça e Segurança, porém, determinou que o filme recebesse a classificação indicativa para maiores de 18 anos. Segundo o órgão federal, responsável por definir as faixas etárias no país, a medida se deve às cenas de violência gráfica, sangue em excesso e temáticas de combate intenso.

Na última semana, a distribuidora entrou com um pedido de revisão do caso, e o ministério manteve a mesmíssima decisão. O estudo feito pelo órgão aponta que a narrativa sustenta altos níveis de “armas com violência”, “atos violentos”, “lesão corporal”, “presença de sangue”, “morte intencional” e “mutilação”. De acordo com a pasta, os atenuantes da obra se referem à “apologia à violência atenuada por contraponto”, enquanto o “eixo temático de violência é agravado por frequência, relevância, por conteúdo inadequado com criança ou adolescente e, em grande parte, por composição de cena”.

Sucesso gigantesco

O impacto da medida se torna mais relevante devido ao tamanho gigantesco da franquia — até o momento, foram arrecadados 31,74 bilhões de ienes no Japão, o que já alçou o filme ao posto de segunda maior bilheteria da história do país. Em solo americano, o longa acumulou US$ 33 milhões apenas no dia da estreia, firmando-se como a maior abertura de bilheteria de um anime (antes, “Dragon Ball Super: Super Hero”, de 2022, ocupava o posto, com a marca de US$ 10,9 milhões arrecadados na estreia). No Brasil, mesmo com as restrições de público, a obra se tornou a terceira melhor estreia do ano, com 320 mil ingressos vendidos, segundo a instituição Filme B.

Fenômeno cultural e comercial, “Demon Slayer” (“Kimetsu no Yaiba”, no original) acompanha os passos de Tanjiro Kamado, um jovem que se torna caçador de demônios após ver sua família ser dizimada por essas criaturas. Embalado por batalhas sangrentas, o enredo do anime aborda temas abrangentes, entre os quais amizade, coragem e superação, o que amplia a identificação com diferentes faixas etárias.

A gerente de vendas Layz Rios, de 32 anos, tentou assistir ao filme com as filhas, de 10 e 14 anos, no último fim de semana. Por insistência das meninas, a mãe tentou fazer a vontade das crianças, apesar de saber da restrições e concordar que o filme não devesse ser assistido por menores.

— Sinceramente, não acho que seja uma história adequada para elas. Mas a criançada toda está querendo ver isso, e vários colegas de minhas filhas conseguiram assistir. Aí fica difícil convencer que não dá pra ir ao cinema — afirma.

O gesseiro Juliano Santos, de 39 anos, toma o partido do filho, de 13 anos. A criança engoliu o choro depois de ser barrada num cinema na Zona Sul carioca, também no último domingo (14).

— É um absurdo essa indicação etária, ainda mais se você pensar que “Deadpool” (2024) tinha uma classificação menor, e que várias crianças viam o filme, que era cheio de palavrões. Aliás, “Invocação do mal 4: o último ritual”, que está aí nos cinemas, também tem classificação mais baixa — indica ele, que comprou ingresso para ver “Demon Slayer” com o filho ainda durante a pré-venda. — A gente viu todos os outros filmes juntos, e sem problema nenhum. Trata-se apenas de um anime, sabe? O filme foi feito para adolescentes e crianças, a meu ver.

Por outro lado, há quem celebre a decisão. É que, sem a presença dos menores de idade, as salas têm ficado mais calmas — com menos falatório durante as sessões.

— Desse jeito, temos a garantia de que as sessões ficam bem mais tranquilas, o que é ótimo — analisa o analista financeiro Victor Farias, de 29 anos, que assistiu ao filme no último domingo. — Particularmente, acho que este é um desenho bem pesado para criança. Tem muita cena com sangue e violência. Mas vai da consciência de cada um.


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