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Por causa das inundações no Rio Grande do Sul, autor e família ainda não puderam ver no cinema o filme em sua homenagem, que estreou na última quinta-feira (2)
A timidez extrema de Luis Fernando Verissimo, de 87 anos, não é folclore ou performance pública. Ela o acompanha até mesmo na intimidade e na relação com as pessoas mais próximas, como mostra o documentário “Verissimo”, em cartaz nos cinemas desde a última quinta-feira (2). O longa de Angelo Defanti foi rodado em 2016, durante os 15 dias que precederam o aniversário de 80 anos de um dos autores mais queridos do país, criador de personagens como o Analista de Bagé e a Velhinha de Taubaté. Na época, Verissimo se mantinha produtivo, mas cada vez mais retraído após uma infecção generalizada que o deixara internado em estado grave quatro anos antes.
O gosto pelo silêncio não era uma novidade: a mulher, Lucia Helena, brinca que, para saber o que o marido pensava, tinha que ler as colunas que ele publicava na imprensa. Outra anedota conta que o pai de Luis Fernando, o grande romancista Erico Verissimo (1905-1975), fez os 400km de carro entre Cruz Alta e Porto Alegre sem ouvir uma palavra do filho no banco de passageiro.
Defanti orquestra o filme a partir de um contraste. De um lado, as expectativas e celebrações do público em torno do aniversário; do outro, o temperamento lacônico do escritor. No meio de tudo isso, a rotina nada palpitante do retratado. O diretor trouxe sua câmera para dentro da residência dos Verissimo, no bairro de Petrópolis, Zona Norte de Porto Alegre, e capturou as dinâmicas familiares. Nos últimos dias, Verissimo e Lucia têm seguido com tristeza as notícias sobre as inundações que deixaram o Rio Grande do Sul em estado de emergência, afetando 850 mil pessoas e deixando, até o fechamento desta edição, 83 mortos e 111 desaparecidos. A área em que moram na capital gaúcha não foi afetada pelas chuvas.
Por causa do caos no estado, Lucia ainda não conseguiu assistir o filme no cinema. Ainda assim, considera o projeto de Defanti como um “presente” para guardar para os netos. No cotidiano de sua casa registrado nas filmagens, os filhos Mariana, Fernanda e Pedro já não moravam com os pais, mas aparecem em diversas momentos.
— Não estava interessado em um filme sobre dados biográficos, mas, sim, sobre a relação de Verissimo com a família — diz Defanti, que já havia trabalhado com o autor na adaptação do seu romance “Clube dos anjos” (2022). — É uma dinâmica muito entrosada: tem um membro introvertido e todos funcionam em torno disso, incorporando também essa forma de estar no mundo. A linguagem do filme vai na mesma batida do Verissimo, que é uma normalidade dentro de um mundo inquieto.
A empreitada de Defanti rendeu cem horas de material bruto, transformados em um longa de 87 minutos. Autor de mais de 80 títulos, entre crônica, romance e teatro, Verissimo é ao mesmo tempo protagonista e espectador do filme dedicado a ele, sempre observando em seu canto.
— Eu sabia que inicialmente haveria um ceticismo da parte da família, acho que eles duvidavam que aquilo ia de fato resultar em um filme — diz o cineasta. — O projeto só se tornou possível pela absoluta incapacidade do Verissimo em dizer não. Assim como ele não disse “não” para o filme, também não disse não para nenhum evento em torno de seu aniversário. O que também foi ótimo para mim, porque trouxe momentos imprevistos. Como quando o telefone toca e é o embaixador da França, um fã de Erico Verissimo, querendo conhecer Luis Fernando.
Entre a produção do filme e a sua estreia, Verissimo sofreu um grave AVC em 2021, que afetou a sua comunicação. O autor nunca mais escreveu desde então. Seu último texto permanece inacabado até hoje — era a coluna que pretendia enviar ao GLOBO no dia seguinte.
Amante de jazz, ex-saxofonista do grupo Jazz 6, Luis Fernando Verissimo também ficou impossibilitado de tocar. Em 2016, numa visita em sua casa às vésperas do aniversário de 80 anos, o GLOBO fez o último registro musical do escritor, que tocou sax e piano (vídeo abaixo).
Verissimo continua indo a shows, ainda que raramente. Passa a maior parte do tempo em casa, acompanhando o que acontece no mundo pela TV. Defanti esteve na casa do autor pela última vez em 2022 e lembra que ele se mantinha “muito compenetrado” no velório da Rainha Elizabeth II.
— Ângelo ficou muitos dias nos acompanhando aqui em casa e no início achei que o Luis Fernando ia cansar e querer se livrar dele — brinca Lucia Helena, casada desde 1963 com o escritor. — Mas o diretor foi muito simpático e querido, e ajudou o fato de ele já ser um conhecido da família.
Lucia conta que, apesar de o estado de saúde do marido ainda inspirar cuidados, Verissimo não precisa de ajuda para fazer a maior parte de suas tarefas.
— O AVC afetou a parte da comunicação, o que é uma grande ironia em se tratando de um escritor — conta Lucia. — Ele quer dizer alguma coisa, a palavra não vem. Fora isso ele caminha, come sozinho, fica no computador jogando paciência e ouve música.
Quando perguntado sobre o que achava da passagem do tempo, o escritor costumava responder: “Sou contra.” Mas sempre admitiu: “No fim, é o tempo que nos controla.”
Em uma das entrevistas para o documentário, o autor falou sobre o sentimento ambíguo de envelhecer: “Mais um dia de vida é também menos um dia de vida.” Com problemas cardíacos, como Erico, o autor não deixa de lembrar que já vive 20 anos a mais do que o pai.
— O Verissimo está sempre com a mesma feição, é difícil saber quando está irritado, triste ou feliz — diz Defanti. — Não está claro se ele lida com a idade de maneira melancólica ou se é apenas uma sabedoria de alguém que sabe que a vida é assim mesmo. Você sempre tem o mesmo entendimento de criança, que é não saber nada, seja com 40 anos, seja com 80.
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