Um cachorro está no elevador do shopping que permite cachorros em elevadores. Um tutor de cachorro (o Google docs me corrigiu quando eu digitei dono de cachorro, obrigada Google docs) segura a coleira em uma mão e uma caixa grande na outra. Uma moça um tantinho aborrecida olha feio para os dois quando o elevador pára no andar, mas ela já está esperando há 7 minutos e resolve entrar assim mesmo. O tutor no extremo esquerdo, a moça no extremo direito com 4 sacolas em uma mão, 6 na outra e um brinco gigante que a faz pender um pouco pro lado. O cachorro circula a moça dando um laço em suas pernas. Embrulha a moça pra presente. Ninguém vê. Eles olham pra frente como se cruzar o olhar representasse risco de morte. O elevador chega no térreo, a moça faz menção de descer e cai feito uma pamonha mal-amarrada, o tutor derruba a caixa por cima dela, cai também. As sacolas se esparramam no chão. No susto, o tutor solta a coleira, a moça diz meia dúzia de xingamentos impublicáveis, o cachorro foge. De dentro da caixa se escuta o barulho do cristal quebrando, a porta do elevador fecha, encosta na cabeça da moça e reabre, fecha e abre, fecha e abre. É dezembro.

Um táxi que é o décimo primeiro a aceitar a corrida, mas não o décimo primeiro a cancelar, finalmente chega. O motorista faz cara de poucos amigos para o senhor que espera completamente molhado. Chove, mas não há espaço disponível para esperar embaixo da marquise do shopping. Embora esteja com touquinha de Papai Noel e orelha de Mickey, não traz dentro de si nem um pingo do espírito de Natal, encosta o carro meio mais rápido do que o necessário na calçada e faz subir uma onda de água suja que remolha, mas agora de lama, o passageiro da cintura pra baixo. Na dúvida se cala diante do desaforo e entra no carro assim como está ou se chuta a porta do HB20 como se fosse forte o suficiente pra encarar a briga, o senhor resolve pelo chute. Chuta até torcer o tornozelo ainda não completamente recuperado da lesão do último campeonato de tênis. É competente no amassado e desperta no Mickey Noel todo o ódio acumulado do ano. Ele puxa o freio de mão e desce do carro deixando a porta aberta. A porta é arrancada por um segundo taxista que baixou a vista pra ver um meme que tinha acabado de chegar no grupo da família. O primeiro motorista nem escuta, está a 15cm do senhor chutão quando é derrubado por um cachorro em alta velocidade que corre com uma sacola enganchada na patinha. É dezembro.

Enfim, evitem os shoppings. Boa semana, queridos, e feliz Natal. Não se aperreiem não com esse povo. Acabei de inventar só pra vocês darem uma risadinha nesses 45 do segundo tempo.

Roberta D’Albuquerque é psicanalista, autora de Quem manda aqui sou eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade e criadora do portal A Verdade é Que…

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