ECONOMIA

‘Economia azul’: algas marinhas viram adubo e exemplo de transformação de resíduos da pesca

25 de fevereiro, 2025 | Por: Agência O Globo

Pesquisadores desenvolvem composto orgânico líquido para uso em plantações com trabalho de marisqueiros e pescadores

Igor Fontes, idealizador do projeto, recolhe algas em praia no Espírito Santo — Foto: Arquivo pessoal

Você já ouviu falar em “economia azul”? O termo engloba diferentes práticas sustentáveis que visam transformar resíduos marítimos e costeiros em recursos eficientes. Para a ONU, a “economia azul” pode promover crescimento econômico, melhoria dos meios de subsistência e geração de empregos em comunidades ribeirinhas.

Pesquisadores do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) estão recolhendo algas marinhas, que surgem na costa com a maré, e as transformam em adubo, um líquido nutritivo que pode ser borrifado em lavouras de café, grãos, hortaliças e frutas.

— O Espírito Santo é o maior produtor de algas marinhas de forma natural do Brasil. Para turistas e alguns trabalhadores das costas, pode parecer sujeira e gerar incômodo, mas para nós é uma fonte rica de matéria-prima, recheada de nutrientes — afirma Igor Fontes, idealizador do projeto no Ifes.

Última fase de testes

O adubo à base de alga está em uso em plantações de café, tomate, alface, milho e trigo, na última fase de testes para registro ainda este ano. Os pesquisadores também preparam testes para uso do insumo no cultivo de abacaxi, importante cultura do Espírito Santo.

O líquido pode ser borrifado nas plantas ou colocado no solo. Entre os principais benefícios estão a versatilidade na aplicação, estímulo ao crescimento e aumento da resistência das plantas a pragas. Tudo isso graças aos nutrientes encontrados nas algas: aminoácidos, fitormônios de crescimento, compostos bioativos e macronutrientes como nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, cálcio e magnésio.

Enison Ferreira Filho, produtor de café na cidade paulista de Franca, região de Alta Mogiana, utiliza o adubo líquido em sua fazenda desde o ano passado.

— Num primeiro momento optamos por testar os produtos em nossas lavouras pela questão da sustentabilidade. Tanto em função das questões ambientais quanto sociais que o projeto abraça. Hoje, já percebemos que nossas plantas ganharam mais vigor e qualidade — diz Ferreira Filho.

No Ifes — que tem alunos desde o ensino médio até o doutorado — foi criada a primeira base de processamento de algas do Brasil. Primeiro há a extração do suco das algas. Depois é adicionado um conservante para que o insumo tenha maior duração.

Igor Fontes comanda a startup Algasbio, responsável por transformar as algas em adubo. Desde 2024, a empresa treina profissionais locais como marisqueiros e pescadores para coleta.

— Essa etapa do projeto foi possível graças a recursos que obtivemos após conquistarmos um concurso científico. O objetivo, com a ação, foi promover a economia circular local. Assim, esses profissionais também conseguem obter uma nova fonte de renda — explica Fontes.

É permitido recolher metade das algas da praia. A outra metade deve ficar no local, para não interferir no ecossistema. Os pesquisadores avaliam utilizar a parte sólida das algas que sobra da extração para a alimentação de galinhas.

Ração das galinhas

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) também trabalham com algas coletadas nas praias. Eles criaram um filme à base de algas e nanocelulose que libera fertilizante de forma controlada e se degrada naturalmente após 90 dias. O material foi desenvolvido em colaboração com um produtor de antúrios de Holambra, no interior de São Paulo.

A equipe utilizou algas vermelhas e marrons para criar um adubo à base de nitrogênio e fósforo, um dos fertilizantes mais usados na agricultura. O projeto está em fase final de testes. O próximo passo é obtenção de patente, para atrair recursos.


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