‘Eles não estão se movendo’: Áudio revela momento em que Gene Hackman e mulher são achados mortos nos EUA
28 de fevereiro, 2025
| Por: Agência O Globo
Testes toxicológicos e de possível envenenamento por monóxido de carbono têm laudos pendentes; nenhuma hipótese é descartada
Gene Hackman e a esposa, Betsy Arakawa — Foto: Reprodução
Um áudio divulgado pelas autoridades americanas e que circula nas redes sociais revela detalhes do momento em que Gene Hackman e a mulher, Betsy Arakawa, são achados mortos em casa, no estado americano do Novo México, na quarta-feira. O som é da ligação para o 911, o serviço de emergência dos Estados Unidos, feita por um trabalhador que chegara à residência para fazer uma manutenção. Preocupado ao não receber respostas do casal, ele viu os corpos pela janela.
A polícia de Santa Fé divulgou em comunicado os resultados iniciais da autópsia realizada nos corpos. O ator vencedor de dois prêmios Oscar, de 95 anos, a pianista clássica, de 63, e um cachorro da família foram achados foram encontrados sem vida, na tarde de quarta-feira (26), em casa. A causa das mortes — rotuladas como “suspeitas” — ainda não foi confirmada, e nenhuma hipótese está descartada.
De acordo com as autoridades locais, numa análise inicial dos falecidos, os legistas não encontraram nos corpos evidências de lesões produzidas por alguma ação externa.
“Uma autópsia foi realizada. Os achados iniciais não apontaram nenhum trauma externo em nenhum dos indivíduos. Testes toxicológicos e de monóxido de carbono foram solicitados para ambos os indivíduos. A maneira e a causa das mortes não foram determinadas. Os resultados oficiais da autópsia e dos relatórios toxicológicos estão pendentes. Esta continua sendo uma investigação em aberto”, destacou a polícia local, por meio do Gabinete do Xerife do Condado de Santa Fé.
De acordo com a nota da polícia, publicada nas redes sociais, um indivíduo chegou à casa de Hackman para fazer uma manutenção na residência e “ficou preocupado” ao não ter respostas dos proprietários. Ele contatou a segurança do bairro para que se fosse realizada uma “verificação de bem-estar”. Seguranças viram os corpos no chão pela janela e acionaram o socorro.
Ao chegarem à mansão, os policiais localizaram Betsy já falecida. Continuaram a busca e viram o corpo de Hackman. A divisão de investigações policiais e o Corpo de Bombeiros foram chamados para o local. Os bombeiros testaram os níveis de monóxido de carbono na residência, e a cena foi descrita como “segura” apenas horas depois, quando agentes começaram a buscar evidências nos cômodos. Não havia sinais aparentes de que algum crime tivesse sido cometido, mas detalhes do local onde os corpos foram localizados motivaram a abertura de uma apuração mais aprofundada.
Diante do mistério do caso, um detetive de Santa Fé pediu à Justiça a expedição de um mandado de busca na residência. Na solicitação, obtida pelo site TMZ, o investigador detalha o que quem acionou as autoridades relatou ter visto na propriedade e como estava o local quando os corpos foram localizados.
“A parte denunciante encontrou a porta da frente da residência desprotegida e aberta, os delegados observaram um cachorro saudável correndo solto na propriedade, outro cachorro saudável perto da fêmea falecida, um cachorro morto deitado a 3-4 metros da mulher falecida, em um armário do banheiro, o aquecedor movido, o frasco de comprimidos aberto, e os comprimidos espalhados ao lado da fêmea. O falecido do sexo masculino sendo localizado em um cômodo separado da residência, e nenhum sinal óbvio de vazamento de gás”, destaca o detetive, no pedido.
O detetive argumentou que “a morte dos dois indivíduos falecidos é suspeita o suficiente para exigir uma busca e investigação completas”. O TMZ destacou que, pelo documento, Betsy foi encontrada morta no banheiro, no chão, deitada sobre o lado direito do corpo, e um aquecedor preto estava próximo à sua cabeça. Os investigadores apuram se o equipamento foi derrubado numa eventual “queda abrupta” da pianista. Havia um frasco laranja na bancada, com comprimidos espalhados.
A suspeita é que Betsy já estivesse morta havia algum tempo porque o corpo “estava em estado de decomposição com inchaço no rosto e mumificação nas mãos e pés”. Já Gene foi achado em outro cômodo. Ele estava completamente vestido e pode ter caído “de repente”, já que seus óculos de sol foram encontrados ao lado do corpo.
Ainda segundo o TMZ, os bombeiros informaram não ter detectado “nenhum sinal de vazamento de monóxido de carbono ou envenenamento”.
Qual foi a causa da morte de Gene Hackman?
O xerife do condado de Santa Fé, Adan Mendoza, confirmou a morte do casal à imprensa local pouco depois da meia-noite de quarta-feira. Mendoza afirmou que não havia sinais imediatos de crime, mas não revelou a causa da morte.
Quem era Gene Hackman?
O ator Gene Hackman era uma das maiores estrelas de Hollywood, vencedor de dois prêmios Oscar. Os dois Oscars que Gene Hackman venceu foram pelos longas “Operação França” (1971), como melhor ator, e ” Os imperdoáveis” (1992), como melhor ator coadjuvante.
O começo
No início de sua carreira, Hackman trabalhou em programas de TV como “Route 66” e “Naked City”, no teatro de improvisação e em comédias da Broadway, incluindo “Any Wednesday”, de Muriel Resnik, com Sandy Dennis, e “Poor Richard”, de Jean Kerr, com Alan Bates e Joanna Pettet.
Seu papel em um filme menor de Warren Beatty, “Lilith” (1964), deixou uma impressão duradoura em Beatty, que se lembrou dele quando produzia “Bonnie e Clyde” e procurava alguém para interpretar Buck Barrow, o irmão explosivo do gângster Clyde Barrow (papel de Beatty). A atuação de Hackman nesse filme, dirigido por Arthur Penn e lançado em 1967, lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar.
Filmes de Gene Hackman
Hackman teve uma carreira brilhante, interpretando mais de 100 personagens, incluindo Lex Luthor nos filmes do Superman das décadas de 1970 e 1980. Ao longo da carreira ele também foi indicado ao maior prêmio do cinema pelos filmes “Bonnie e Clyde: uma rajada de balas” (1967), “Meu pai, um estranho” (1970) e ” Mississippi em chamas” (1988). “Atrás das linhas inimigas” (2001), “O júri” (2003) e “Uma eleição muito atrapalhada” (2004) foram os últimos filmes do ator.
Gene se aposentou da atuação ainda em 2004 e, desde então, quis se afastar dos holofotes em sua vida em Santa Fé. O astro americano é pai de três filhos, frutos do relacionamento com sua ex-esposa, Fay Maltese, com quem ficou casado entre 1956 e 1986. Ele se casou novamente em 1991, com a sua atual mulher, a pianista Betsy Arakawa.
‘Treinado para ser ator’
Eugene Allen Hackman nasceu em San Bernardino, Califórnia, em 30 de janeiro de 1930, e cresceu em Danville, Illinois. Seu pai, também chamado Eugene, trabalhava como tipógrafo para um jornal local. Sua mãe, Anna Lyda (Gray) Hackman, era garçonete.
Aos 13 anos, viu o pai abandonar a família, acenando para ele pela janela do carro enquanto dirigia para longe. “Talvez seja por isso que virei ator”, refletiu ele anos depois.
Hackman ingressou no exército aos 16 anos após mentir sobre sua idade, servindo por quatro anos e meio. Serviu na China, no Havaí e no Japão, chegando a trabalhar como DJ na rádio de sua unidade. Após a dispensa d serviço militar, morou brevemente em Nova York antes de decidir seguir a carreira de ator.
Para isso, ingressou no Pasadena Playhouse, na Califórnia, onde fez amizade com um jovem Dustin Hoffman. “Fui treinado para ser ator, não uma estrela. Fui treinado para interpretar papéis, não para lidar com a fama, agentes, advogados e a imprensa”, disse Hackman em uma entrevista, como relembrou a BBC.
“Me custa muito emocionalmente me ver na tela. Penso em mim mesmo e me sinto jovem, mas, então, vejo esse velho com queixo flácido, olhos cansados e entradas no cabelo”, refletiu em outra ocasião.
Versátil, Hackman era o que se chamava de “everyman” perfeito de Hollywood. Seus personagens — presidiário, xerife, membro da Ku Klux Klan, operário siderúrgico, espião, ministro, herói de guerra, viúvo enlutado, comandante de submarino, técnico de basquete, presidente — desafiavam qualquer categorização, assim como suas interpretações sempre repletas de muitas nuances
Ainda assim, ele não negava sua imagem de “homem comum”, nem se incomodava com isso. Certa vez, brincou que parecia “um trabalhador de mina qualquer”. De fato, ele parecia ter nascido de meia-idade: levemente calvo, com traços fortes, mas sem serem notáveis, nem feios nem bonitos, um homem alto (1,88 m) mais propenso a se misturar a uma multidão do que a se destacar nela.